Kanye West, a polémica em pessoa

Kanye West é sinónimo de polémicas, como bem o demonstram as guerras com a Adidas e a Gap, ao que juntou a declaração bombástica de que “As vidas brancas importam”, em contraponto ao movimento Black Lives Matter. 

Todos imaginamos que Kanye West não deve ser a pessoa mais fácil de lidar no mundo. O rapper é bastante conhecido por arranjar confusões, ou beefs, na gíria anglo-saxónica, com as mais variadas pessoas, desde o seu “arquirrival musical” Drake, Pete Davidson, humorista que namorou com a ex-mulher de West, Kim Kardashian, Billie Eilish, que o levou a ser retirado do cartaz do festival Coachella, e até a Porquinha Peppa, depois da banda sonora da série da personagem animada receber uma classificação melhor do que o último álbum do músico, Donda, no blog Pitchfork.

Agora, o mais recente beef de West é com a Adidas, marca a que se juntou em 2013 (depois de abandonar a Nike), e com a Gap, afirmando que pretende terminar o contrato com as duas marcas, apesar de ter contrato com ambas, tendo assinado uma parceria com a Gap em 2020 e está vinculado com a Adidas até 2026.

No passado dia 12 de setembro, o rapper de Atlanta revelou, numa entrevista com a Bloomberg, que pretende abandonar as duas empresas, após ter feito diversos ataques na sua conta de Instagram onde acusava ambas de roubarem os seus designs para criarem peças de roupa.

West afirmou que está na hora de avançar “sozinho” e “criar uma nova indústria”. “Não há mais empresas entre mim e o público”, cita a Forbes, acrescentando ainda que para além de criar a sua marca de comércio online, YeezySupply.com, o músico pretende também abrir um “campus” físicos com o nome Donda, uma homenagem à sua falecida mãe, que terá escolas, moradias, lojas e quintas.

West enviou uma mensagem privada a diversos meios de comunicação descrevendo como a Adidas, que anualmente paga 220 milhões de dólares ao rapper, se está a aproveitar da sua marca e imagem sem a sua aprovação.

“A Adidas criou a ideia do Yeezy day sem minha aprovação”, afirmou num comunicado. “Eles trouxeram de volta estilos mais antigos sem a minha aprovação, escolheram cores e nomearam-nas sem a minha aprovação, contrataram pessoas que trabalharam para mim sem a minha aprovação, roubaram o meu estilo e abordagens a materiais sem a minha aprovação foram e contrataram um gestor da Yeezy sem a minha aprovação e levaram talento do meu lado da produção e espalharam-nos pelos originais da Adidas sem a minha aprovação”, pode ler-se.

Quando originalmente pedi à Adidas para fazer mais sapatilhas da Yeezy, o gestor mentiu-me na cara e disse que eles não tinham capacidade para fazer mais, entretanto a Adidas estava a copiar as minhas ideias e a fazer as suas próprias versões do modelo que tinha sugerido”, acusou, acrescentando que a “Yeezy é 68% das vendas on-line da Adidas”, pedindo a Deus para “intervir”.

No passado, as colaborações entre West e a Adidas foi considerada uma das mais lucrativas parcerias entre uma marca de roupa desportiva e uma personalidade que não fosse considerada um atleta.

A ligação do rapper com a Gap também se encontrava “tensa há algum tempo”, escreve a Pitchfork. 
Esta colaboração era uma ambição de longa data para West, uma vez que este chegou a trabalhar numa das suas lojas quando era adolescente e expressou o seu carinho pela marca em entrevistas.

A Yeezy Gap foi anunciada em 2020 como uma linha de roupas acessíveis com um contrato de 10 anos, mas, pouco tempo depois West revelou que não tinha um assento no conselho da Gap (nem da Adidas) e escreveu no Twitter “assentos negros no conselho importam”, uma referência ao movimento “black lives matter” (“vidas negras importam”, em tradução livre).

O primeiro produto criado pela Yeezy Gap foi um casaco “oversized” vendida por 200 dólares (202 euros), em junho de 2021. O segundo produto foi uma camisola com capucho, lançada no outono de 2021, por 90 dólares (92 euros).

“A Yeezy Gap foi lançada para ser um empreendimento disruptivo e altamente criativo – um que nos desafiou a pensar e a trabalhar de maneira diferente, atraiu clientes novos, mais jovens e mais diversificados e permitiu que o nosso talento entregasse um trabalho incrível com dedicação, garra e criatividade incomparáveis.” escreveu o advogado do músico, Nicholas Gravante, num comunicado para a Pitchfork. “Estamos ansiosos pelos próximos lançamentos da Yeezy Gap que ainda estão a ser desenvolvidos, conforme planeado”, afirmou.

A fortuna de Kanye West está avaliada em cerca de 3,3 mil milhões de dólares, mas o seu estatuto de bilionário pode estar em risco depois desta decisão de negócios. 

A Adidas é uma das marcas mais famosas globalmente de roupa desportiva – no ano passado venderam cerca de 340 milhões de sapatilhas. 

“A sua quezília com a Adidas põe em risco o estatuto de bilionário pelo qual Kanye tanto lutou ao longo do tempo. Perder o gigante de calçado reduziria a sua fortuna para bem abaixo de mil milhões de dólares, com base nas estimativas da Forbes”, cita o meio de comunicação.

Controverso desfile Mas esta batalha legal não foi a única controvérsia em que o músico responsável por canções como Runaway ou Through The Wire esteve envolvido com ligações ao mundo da moda.

Kanye West esteve ao lado de Candace Owens, comentadora política e assumidamente apoiante do ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ambos envergavam camisolas onde era possível ler “A vida dos brancos importa”, uma referência ao movimento Black Lives Matter, cujo objetivo é expor a violência policial à comunidade negra dos Estados Unidos.

O rapper foi fortemente criticado havendo pessoas que afirmassem que este estava a “defender a supremacia branca”, uma vez que esta frase tem sido adotada por movimentos neo-nazis, como o Ku Klux Klan. Entre as vozes que se colocaram contra o rapper estão Jaden Smith, Boosie BadAzz ou o Bispo Talbert Swan II, que escreveu no Twitter, “Kanye West não quer saber das pessoas negras”, uma referência para quando West disse, em 2005, numa transmissão em direto que o ex-Presidente George Bush não se importava com as pessoas negras, devido à lenta resposta do antigo líder norte-americano para com as vítimas do furacão Katrina em Nova Orleães. 

Para além do rapper, várias modelos usaram a mesma camisola, que tinha uma imagem do Papa João Paulo II na parte da frente. 

West utilizou esta camisola durante a apresentação da nova linha da sua marca, Yeezy, a nona temporada intitulada, YZY SZN 9, e disse para os presentes, antes do espetáculo começar que ele é incontrolável. “Todo mundo aqui sabe que eu sou o líder… não me podem controlar. Esta é uma situação incontrolável”.

Após estas imagens serem divulgadas e as críticas começarem a chegar, West utilizou a sua conta do instagram para se justificar. “Todos sabemos que o movimento Black Lives Matter foi uma farsa. Agora acabou. De nada”. 

Fundado em 2013 após a morte de Trayvon Martin por George Zimmerman nos Estados Unidos, o Black Lives Matter tornou-se um movimento global e uma frase repetida por milhões de pessoas após desempenhar um papel fundamental nos protestos que se seguiram ao assassinato de George Floyd por um polícia branco em 2020.

Apesar de não ser clara qual era a mensagem do rapper, West não é estranho à controvérsias nos últimos anos, nomeadamente, depois de ter declarado o seu apoio a Donald Trump nas eleições presidenciais de 2018, que acabou por concorrer, sem sucesso, e por ter afirmado que a escravatura foi uma “escolha”. 

“Quando se ouve falar de escravidão durante 400 anos: por 400 anos, isso soa como uma escolha”, disse em 2018 o rapper, que em determinadas fases da sua altura foi elogiado pela forma como elevava o povo afro-americano e condenava o racismo.