Dar vida a alguém fez-me gostar do Tik-Tok

E se pudermos oferecer à Inês Abranches 40 mil seguidores no Instagram ou no Tik-Tok?

Não é que não tenha lido histórias destas. No entanto, fazem-me seriamente pensar nas nossas prioridades, na maneira como as distribuímos e em todas as questões adjacentes. Não podia não escrever esta crónica. E então aqui vai. Venho contar-vos a história da Inês Abranches, provavelmente uns já ouviram falar dela e outros não fazem ideia de quem seja. Só peço que no fim reflitam e respondam a esta pergunta: o quão pequeno é pudermos oferecer a alguém ter 40 mil seguidores no Instagram ou no Tik-Tok?

A Inês tem uma leucemia terminal. Como muitas crianças que têm cancro terminal, é certo. No entanto, estou a falar-vos da Inês. Há mais de dois anos, diagnosticaram-lhe uma leucemia mieloblástica aguda.

Passou horas e mais horas infindáveis a combater a mesma. Quando pensou que estava curada, a doença voltou, mais implacável que nunca. Mais horrível que nunca, ao cortar sonhos e expectativas pela raiz. Inês não queria continuar no inferno e no agoiro dos seus tratamentos e passou para os cuidados paliativos com muita garra de viver. Adora o Futebol Clube do Porto. E criou uma página no Tik-Tok e no Instagram A morrer comigo. E na verdade existem muitas pessoas cheias de saúde, mortas por aí. Penso que será a maior missão da Inês mostrar quanta vida tem, enquanto alguém que é portadora de uma doença e enquanto muitos ditos portadores de saúde estão ‘mortos’. Existem três coisas que não podem ficar para trás: legos, livros e FCP (Futebol Clube do Porto). A Inês sabia que ia morrer.

Foi precisamente a pensar nisso que há dois meses, mais coisa menos coisa, que Nini (como é chamada pelos mais próximos) decidiu criar uma página no TikTok e no Instagram. «Para quebrar tabus e desmistificar a questão da morte», atira, desarmante. O título da página é outro soco no estômago. A morrer comigo. «Fui eu que o escolhi e foi das primeiras ideias que tive», esclarece.

A princípio, os pais não acharam grande piada. «Não gostei muito da ideia, não», diz de imediato Mariana, sempre prática e convicta. «Tenho medo sobretudo dos comentários, do impacto que possam ter nela. Mas depois comecei a ver que aquilo lhe dava muito força, pelas mensagens que lhe enviavam, pelo facto de ter passado a ter uma motivação». O prognóstico dava-lhe um tempo estimado de vida até antes do natal de 2022, então Inês não se deixou ficar para trás e com toda a garra e força que a caracteriza, começou a sua demanda por viver tudo o que tem para viver: almoços, escape rooms, conhecer o Papa, e não deixar para trás o seu querido FCP. Agora sei que gosta de partilhar a sua vida através do Tik-Tok e Instagram, então e se eu lhe puder dar 40 mil seguidores juntamente com quem me ajudar não acham isso incrivelmente bonito e grandioso para alguém que pede tão pouco? Da próxima vez que refilarem porque o dia vos correu mal por razões nada mais que futilidades, pensem sempre na Inês.