Eu olhava e não acreditava no que estava a ver e a ouvir. O ministro Pedro Nuno Santos dizia, em pleno Parlamento, que a única solução para a TAP é a privatização!
O homem que em 2015 ‘desprivatizou’ a TAP, dizendo que Portugal não podia prescindir de ter uma companhia de bandeira.
O homem que acusou o Governo de Passos Coelho de ter feito um negócio «às escondidas dos portugueses», privatizando em segredo uma companhia aérea importantíssima para o país.
Esse homem seria aquele que, com o mesmo ar convicto, dizia no Parlamento que o futuro da TAP é ser privatizada?
Não parecia possível! Mas era verdade.
Pedro Passos Coelho contou-me com algum pormenor o que foi a via-sacra da privatização da TAP, prevista no acordo da troika.
Todas as diligências feitas pelo Governo de então, através do secretário de Estado Sérgio Monteiro, iam caindo uma após outra.
A situação era desesperada, até porque o tempo se esgotava e a companhia dava um enorme prejuízo.
Até que apareceu aquele empresário brasileiro, David Neeleman, dono da Azul, que mordeu o isco.
No Governo houve um alívio enorme.
Mesmo sobre a linha da meta tinha-se resolvido um problema que chegara a parecer insolúvel.
Até que vêm as eleições, o Governo muda, forma-se a ‘geringonça’, e uma das primeiras medidas do novo Executivo é a reversão das privatizações e, em particular, a reversão da privatização da TAP!
Confesso que fiquei atónito. E escrevi-o, dizendo que se tratava de uma gigantesca asneira.
Ao assumir de novo a responsabilidade pela TAP saberia o Governo o que estava a fazer?
Tinha informação suficiente para determinar se a empresa era economicamente viável ou não, e, não sendo, quanto custaria aos portugueses?
Tinha estudado minimamente o problema para tomar uma atitude responsável – ou tratava-se de uma decisão puramente ideológica e voluntarista, sem qualquer base objetiva?
Hoje sabemos que foi isto que aconteceu.
Tratou-se de uma irresponsabilidade.
Não havia nenhum projeto para a salvação da TAP, nenhuma ideia para a salvação da TAP, foi uma birra do ministro Pedro Nuno Santos que a extrema-esquerda apoiou e a que António Costa se rendeu.
Aliás, como se tem rendido a todas as birras do intrépido ministro.
Penso que Pedro Nuno Santos está politicamente queimado.
A cena patética que protagonizou há meses a propósito da localização do novo aeroporto, sujeitando-se a uma retratação em público e a um confrangedor pedido de desculpas, arruinou a sua credibilidade.
Pedro Nuno Santos manteve o seu poder – mas desautorizou-se perante os portugueses.
Mais recentemente foi o episódio das incompatibilidades.
O seu pai é dono de uma empresa de maquinaria para calçado – de que ele também é sócio, embora muito minoritário, mas que herdará quando o pai entender – que tem feito contratos com o Estado por ajuste direto.
Independentemente da questão legal, havia aqui uma questão moral, ética. Mas Pedro Nuno Santos envolveu-se numa complicada argumentação jurídica para concluir que não se demitia.
E agora, com a mesma cara com que defendeu a ‘desprivatização’ da TAP, Pedro Nuno Santos defende a sua privatização!
Eu não gosto de usar estas expressões, mas neste caso não há outra forma de classificar as sucessivas cambalhotas do ministro: falta de vergonha.
Ele próprio não teve, aliás, pejo em assumi-la quando pediu desculpa aos portugueses para não ter de pedir a demissão e continuar no Governo.
Está agarrado ao poder como uma lapa e só sairá de lá à força, se alguém tiver força para isso.
António Costa já mostrou que não tem.
E certamente pensa que Pedro Nuno Santos seria mais perigoso fora do Governo do que é dentro dele – e por isso o vai mantendo.
E se calhar, com alguma maldade, acha que Pedro Nuno Santos, como ministro, arruína mais depressa a sua credibilidade do que se não estivesse em funções públicas.
A última sessão parlamentar foi um exemplo disso.
Depois do que viram e ouviram, os portugueses dificilmente acreditarão em mais alguma coisa que o ministro diga.
A história da TAP faz lembrar um pouco a da PT – e a personalidade de Pedro Nuno Santos faz lembrar um pouco a de José Sócrates.
São dois homens obstinados, perseverantes, combativos, ditadores em potência, que tanto podem fazer coisas boas como cometer grandes erros.
O problema é que as diatribes de Pedro Nuno Santos, como as de José Sócrates, já custaram ao país muitos milhões.
P.S. – A participação enviada ao Ministério Público pelo Governo, sobre a suspeita de luvas na compra de 52 Airbus pela TAP durante a gestão de Fernando Pinto, tem todo o ar de ser uma manobra para desviar as atenções num momento em que Pedro Nuno Santos está debaixo de fogo. Fernando Pinto esteve 18 anos à frente da TAP, nunca houve suspeitas sobre a sua gestão, e agora – quase cinco anos depois de ter saído – é que surgem estas notícias? Estranho…