Família Espírito Santo vai continuar na Fundação?

Pedro Santana Lopes abandonou a presidência da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva. Gabriela Canavilhas é apontada ao cargo. Entretanto, Maria João Bustorff, neta do fundador, nega que a família esteja de saída e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa nada diz sobre essa possibilidade estar em cima da mesa.

Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva foi banqueiro, economista e um grande amante de arte. Interessou-se prematuramente por antiguidades e, felizmente, teve ao seu dispor dinheiro suficiente para investir nessa paixão. Durante a sua curta vida (1900-1955), reuniu uma coleção particular, a qual – juntamente com o Palácio Azurara – doou ao Estado para a criação de uma fundação que, além de ser também um museu de artes decorativas, possui oficinas dedicadas a preservar e ensinar práticas artesanais como o restauro ou a marcenaria. O seu património é, por isso, de grande importância para o país e o edifício bordeaux das Portas do Sol, em Lisboa, não passa indiferente a quem por lá passa. Será então possível que a sua família seja afastada da organização? 

Maria João Bustorff, neta de Ricardo Espírito Santo Silva e presidente do conselho diretivo da Fundação – a instituição atravessou um momento difícil quando perdeu o apoio do BES, passando a ser gerida, em 2016, pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que assinou um contrato de parceria «para a viabilidade socioeconómica» -, afasta por completo a possibilidade de ser afastada da Fundação, bem como a família do seu avô e fundador da instituição.

Ao telefone com o Nascer do SOL, a antiga ministra da Cultura garantiu que tais intenções atribuídas ao provedor da Santa Casa, Edmundo Martinho, «não passam de boatos».

Canavilhas na calha 

Na semana passada, Pedro Santana Lopes – o também presidente da Câmara da Figueira da Foz que exercia o cargo desde março de 2018 – abandonou a presidência da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS). Santana termina funções por impossibilidade de continuar a acumular os dois cargos, sendo que a autarquia o obriga a estar a tempo inteiro na cidade, ou seja, longe da sede da fundação, em Lisboa. Além disso, o Nascer do SOL apurou que o timing escolhido por Santana Lopes para a concretização da saída de presidente da fundação teve também a ver com a criação de condições para a elaboração e aprovação do próximo orçamento já pela equipa que liderará o novo ciclo da instituição.

A antiga ministra da Cultura Gabriela Canavilhas deverá ser o nome indicado pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, para suceder a Santana Lopes.

Interrogada sobre todas essas alterações, a Santa Casa respondeu limitou-se a confirmar a saída de Santana Lopes e a adiantar que «em breve será anunciada a nova composição do Conselho de Administração daquela instituição». 

Fundação com história

A Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, também conhecida como Museu de Artes Decorativas, foi criada em 1953 em resultado da doação do Palácio Azurara – hoje classificado como Património Imóvel de Interesse Público – e parte da importante Coleção de Arte do seu Fundador, o banqueiro e colecionador Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva. 

Conhecido principalmente como colecionador e mecenas, Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva, nasceu em Lisboa em 1900. Ao longo da vida foi desde banqueiro e empresário, a poeta e artista e também grande colecionador, tendo sido considerado à época, um verdadeiro «Príncipe da Renascença». Além disso, segundo o site da instituição, era visto por muitos como um «missionário», já que se dedicou fielmente a «reunir com coerência artística» e a trazer de volta a Portugal – comprando em leilões ou a colecionadores privados – um património artístico «único» que, pelas vicissitudes da história, foi disperso e, em alguns casos, considerado desaparecido.

Desde que nasceu, a fundação é constituída por um Museu-Escola das Artes Decorativas Portuguesas, que se dedica à manutenção da arte do «saber-fazer» e à «preservação das técnicas especializadas das artes e ofícios tradicionais», e tem como finalidade «proteger e divulgar as Artes Decorativas Portuguesas e os ofícios com elas relacionadas». Atualmente, conta com 16 oficinas de artes e ofícios tradicionais portugueses que visam precisamente essa preservação. 

Além disso, o espaço tem uma escola para ensino das artes, a Escola de Artes e Ofício, e ainda um Departamento de Conservação e Restauro, vocacionado para a conservação e restauro no domínio das artes decorativas e com elas relacionadas que «leva a cabo intervenções em património móvel e imóvel a nível nacional e internacional».

No que toca à coleção exposta, que é principalmente proveniente de compras em leilões nacionais e internacionais, leva os visitantes a uma viagem pelas Artes Decorativas do século XV ao século XVIII, que vão desde o Mobiliário, a Têxteis, Prataria, Porcelana Chinesa, Faiança Portuguesa e Azulejos, Pintura, Desenho, Escultura, Encadernação, etc.

O Palácio Azurara, de matriz seiscentista, tem quatro andares e foi restaurado com a colaboração do Arquiteto Raul Lino em meados do século XX, como uma casa aristocrática do século XVIII. Ainda assim, as salas conservam alguns tetos originais e painéis de azulejos.