Dietrich Mateschitz. Visão moderna do desporto

Empresário e fundador da Red Bull, Dietrich Mateschitz morreu aos 78 anos. Construiu um império desportivo apoiado na bebida energética que descobriu no bar de um hotel em Hong Kong. 

Nasceu a 20 de maio de 1944 na região da Estíria, Áustria. Muito reservado, raramente dava entrevistas, nunca casou, mas tem um filho com 29 anos, adotava um estilo ‘casual’ e andava sempre de jeans e óculos de sol. Também na vida profissional foi discreto. Formou-se em Economia na Universidade de Viena, foi diretor de marketing da Unilever e responsável internacional da Blendax, empresa que comercializava cosméticos e produtos de higiene pessoal. As frequentes viagens de negócios levaram-nos a Hong Kong, onde descobriu a bebida energética Krating Daeng que mudou a sua vida. Impressionado com o efeito revigorante dessa bebida, que tinha anulado o cansaço e o ‘jet lag’ provocados pela viagem, Mateschitz convenceu o empresário tailandês Chaleo Yoovidhya – foi ele que desenvolveu a bebida para o mercado asiático – a lançar esse produto na Europa. Esperou três anos pela licença para produzir a bebida Red Bull na Áustria, o que aconteceu em 1987, e demorou mais alguns anos para conseguir a aprovação para venda em outros países. O resto da história é bem conhecida. A Red Bull tornou-se um sucesso em quase todo o mundo e o Mateschitz tornou-se multimilionário – a revista Forbes considerou-o o homem mais rico da Áustria, em 2022, com uma fortuna avaliada em 28 mil milhões de euros. Era a alma do universo Red Bull, e agora ninguém sabe o que vai acontecer. A imprensa alemã divulgou que Mateschitz tinha deixado assegurado o futuro das equipas de Fórmula 1 e do circuito Red Bull Ring, na Áustria, mas quanto à empresa nada se sabe. 

Reconhecimento António Félix da Costa esteve a um passo de entrar na Fórmula 1 com a Red Bull, a sua ligação à equipa é, por isso, muito forte. “A marca que é e o impacto que teve no desporto nos últimos 20 anos deve-se a Mateschitz, é um momento difícil para todos. A sua morte abalou-me porque foi ele que me deu a oportunidade de trabalhar diretamente com a equipa que era campeã do mundo e a possibilidade de progredir como piloto” disse à Sport TV. O que se passou com Félix da Costa aconteceu também com centenas de outros atletas, que se tornaram bons naquilo que faziam graças ao apoio da Red Bull. Max Verstappen, venceu dois campeonatos do mundo de Fórmula 1 com a equipa austríaca, lembrou com tristeza “estou grato por aquilo que ele fez por mim, pela minha carreira e pela minha vida. Ele significou muito para a Red Bull e para o desporto, é um momento muito difícil”.

Homenageou-o com a vitória no Grande Prémio dos Estados Unidos, onde todos os elementos da equipa vestiam jeans e ouviam Rolling Stones, a banda favorita de Mateschitz, numa homenagem sentida ao fundador da equipa.

Muita lata Empresário de sucesso, Mateschitz decidiu apostar no patrocínio desportivo para não depender somente do negócio da bebida energética e, dessa forma, elevou o desporto a um patamar que não existia. A empresa investe 35% da faturação das bebidas em marketing, que sempre se caracterizou por ser inovador, criativo e agressivo.

A Red Bull é proprietária de duas equipas de Fórmula 1 e cinco clubes de futebol, patrocina pilotos de ralis e de MotoGP (Miguel Oliveira é um dos eleitos), apoia atletas de desportos radicais, de inverno e aquáticos, tem presença em modalidades menos conhecidas e até inventou competições, como as corridas de carrinhos de rolamentos e concursos de aviões de papel, sem esquecer as aventuras no espaço. Organiza também eventos desportivos ‘fora da caixa’, está presente em festivais musicais e até criou um programa de apoio a jovens artistas plásticos. A Red Bull está em todo o lado.

Os jovens e o desporto foram os eleitos, o seu ‘target’ é o sexo masculino com idades compreendidas entre os 18 e 35 anos. Sempre muito exigente com a imagem da sua marca, queria também controlar a comunicação. Percebeu que os media se tornaram um mundo fragmentado, com uma infinidade de sites e motores de busca, e criou, em 2007, a Media House que fornece milhares de horas de imagens dos atletas Red Bull. 

De início, a política de ‘sponsoring’ incidiu em atletas de desportos radicais, desde os mais jovens até às grandes estrelas. Promoveu eventos como o Cliff Diving, saltos para a água de grande altura, o Wingsuit Flying, voo em queda livre, as acrobacias no surf, as loucas corridas de BTT, as espetaculares corridas de aviões e o histórico salto em queda livre do espaço durante o qual Felix Baumgartner quebrou a barreira do som em 2012. Nenhum feito extraordinário parece impossível, desde que se tenha as cores da marca, justificando o famoso slogan “Red Bull dá-te asaaaas!”. Como as coisas correram bem alargou a sua presença aos desportos de massas. 

F1 e Futebol A entrada na Fórmula 1 aconteceu de forma tímida, em 1989, com o patrocínio a Gerhard Berger, piloto da Ferrari. Ao comprar a equipa Jaguar e criar a Red Bull Racing (2005), Mateschitz abriu, em definitivo, as portas à massificação da sua marca no desporto automóvel. No fim de semana em que o seu fundador morreu, a Red Bull sagrou-se campeã de construtores na Fórmula 1 pela quinta vez, e Sébastien Ogier e Sébastien Loeb, dois pilotos Red Bull, ganharam provas do campeonato do mundo de ralis e de todo-o-terreno. A Red Bull tem ainda uma equipa satélite na Fórmula 1, a Alpha Tauri, e está presente no campeonato V8 Supercars na Austrália, e nos Stock Car brasileiros. 

Não demorou muito tempo a aventurar-se no futebol. Em 2005, comprou o Salzburgo (Áustria) e, no ano seguinte, adquiriu uma parte do New York MetroStars (compete na Major League Soccer dos Estados Unidos), que passou a chamar-se New York Red Bulls, a que juntou, em 2009, o RB Leipzig (Alemanha). A sua influência estende-se também ao Brasil onde detém o Red Bull Bragantino, que participa no campeonato principal, e o Red Bull Brasil, da segunda divisão. Do universo Red Bull fazem ainda parte uma equipa de vela e de hóquei no gelo na Áustria e Alemanha.