A Pandemia das desigualdades no ensino

Muitos especialistas em Educação referem-se às novas gerações como a geração mais bem preparada de sempre, será isso verdade? Temos nós nas nossas escolas condições para nos prepararmos para aquilo que o futuro reserva?

por Salvador Varges
Estudante

É certo que nos dias de hoje, já pouco se fala da pandemia que assolou o nosso mundo e a nossa sociedade, que mudou as nossas vidas e a nossa forma de estar na sociedade, no entanto, antes da pandemia de saúde pública, muitas outras “pandemias” existiam em Portugal, e esta pandemia já não se cura com um ventilador ou uma vacina, cura-se sim com investimento e coragem política!

Muitos especialistas em Educação referem-se às novas gerações como a geração mais bem preparada de sempre, será isso verdade? Temos nós nas nossas escolas condições para nos prepararmos para aquilo que o futuro reserva?

É com este conjunto de questões que pretendo começar a minha reflexão, desigualdades existem em qualquer setor da nossa sociedade, no acesso ao emprego, na educação e até mesmo na saúde e por isso, a Nova School of Business & Economics publicou o seu relatório “Portugal, Balanço Social 2021”, onde podemos ver o impacto que a pandemia que  assombrou o mundo e que tem impactos em todo e qualquer país, não poupou as gerações mais novas, muito menos aqueles alunos e suas famílias que apresentam uma condição económica mais baixa.

Segundo o relatório definido supra, no ano de 2019, 16,2% (cerca de 1. 574 milhões) dos portugueses encontravam-se em risco de pobreza.

Gostava de apresentar ainda outro número, com base neste mesmo estudo, em 2019, nos grupos etários dos jovens, 19,1% desses mesmos jovens eram pobres, não tinham condições para exercer um dos direitos mais básicos consagrado na Constituição da República Portuguesa, o direito a uma educação de qualidade.

A pandemia veio alertar para muitas das desigualdades existentes na nossa sociedade que até então, tinham sido completamente ignoradas pelo nosso governo, que até aos dias de hoje, em matéria de educação, preferiu discutir os computadores que nunca chegaram, se os semestres são eficazes ou se a cidadania tem ou não um plano controverso ao invés de se preocuparem com o próprio futuro desses jovens.

Ainda assim, se formos reparar com alguma atenção, temos uma maioria absoluta do partido socialista e um governo de António Costa que a única coisa que fazem, para além de se enterrarem mais e mais a cada dia e a cada decisão que tomam, é o mesmo governo que empurra com a barriga todos os problemas do nosso país.

Vejamos agora, dados relativos ao ano de 2021, onde, de acordo com o relatório do Observatório Nacional da luta contra a pobreza, existem 21.9% das crianças em estado de privação material e social, ou seja, são crianças e jovens que já na sua juventude se vêm privados de, por exemplo, poderem ir para uma escola onde o ensino e a sua qualidade sejam assegurados ou até mesmo sejam confrontados com o facto de que a única refeição quente que comem durante as 24 horas do seu dia é na escola!

Infelizmente a nossa realidade, devido ao pouco investimento feito na educação e a pouca aposta nas nossas escolas e na formação das futuras gerações leva a problemas desde escolas degradadas, falta de professores, falta de condições nas infraestruturas, poderia ficar aqui a enumerar uma vasta lista de problemas, no entanto até agora a única coisa que temos são 0 soluções! No começo deste governo foi dito aos portugueses que este ministro da Educação ia fazer mil e um milagres na educação, até agora o que temos é a mudança do método de avaliação para semestres, o que em nada altera a condição dos espaços escolares bem como a qualidade do ensino dos alunos que os frequentam, vejamos por exemplo o caso do concelho de Cascais, onde a grande maioria das iniciativas de reforma e de gestão das escolas e agrupamentos partem da autarquia local e na sua grande maioria, sem qualquer apoio monetário do estado central, são partidos diferentes que governam um lado e outro, no entanto, esta questão não deve ser mais do mesmo, devemos de deixar a ideologia de lado e priorizar aquilo que  de facto é importante!

No mundo da política atual, é certo que tudo gira à volta da ideologia, conservadorismo, socialismo, liberalismo, no entanto, o problema das desigualdades entre a juventude é um problema de sempre, infelizmente ainda vivemos num país onde a família onde se nasce é um passaporte direto para se ter acesso a uma educação de mais ou menos qualidade, não percebo! Supostamente não tínhamos evoluído a nível civilizacional! Jamais em tempo algum seria possível ainda termos alunos em Portugal cujo sinal WiFi não chega às suas casas e por muito que isto custe ser dito, não é com moratórias que vamos ajudar estas famílias, é com cuidado, investimento na coesão territorial, investimento nas infraestruturas e qualidades do serviço público de educação, é através de uma redução da carga fiscal generalizada na nossa sociedade de modo a dar às famílias uma melhor qualidade de vida, não são 125€ e cegueira ideológica que nos levarão ao caminho certo!

Em jeito de conclusão, deixo aqui um apelo a todos aqueles que nos governam, a pobreza e a preocupação com as famílias em maior risco não devem ser uma questão ideológica, devem ser uma questão colocada no topo da agenda partidária e atual do país, porque não poderemos ser um melhor país, com melhores condições e uma economia mais forte se não ajudarmos quem mais precisa!

A desigualdade social e na educação não são ideologia!

 

Bibliografia:

Estudo Universidade Nova " Portugal, Balanço Social 2021"
Relatório Observatório Nacional da luta contra a pobreza de 2021