Cereais. Putin quer “garantias reais” que Kyiv respeita acordo

Acordo foi suspenso depois de a Rússia ter acenado com um alegado ataque com drones contra navios da fronteira do Mar Negro.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse ao seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, querer “garantias reais” de que Kyiv respeita o acordo sobre as exportações de cereais ucranianos, no qual a Rússia suspendeu a participação. “Só depois disso poderemos analisar a retoma do trabalho” no quadro do acordo cerealífero, sublinhou.

A Rússia suspendeu o acordo de exportação de cereais da Ucrânia que já permitiu o transporte, para fora do país, de nove milhões de toneladas de cereais e fez descer o preço dos alimentos no mercado mundial. E justificou, na altura, a decisão depois de um alegado ataque, com drones, perpetrado pelas forças ucranianas contra navios da frota do Mar Negro e navios civis envolvidos na segurança dos corredores de cereais.

Um argumento que não convenceu a Ucrânua, alegando ser um “falso pretexto” para a suspensão do acordo de cereais, enquanto Londres negou qualquer participação neste ataque.

Também o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, abordou o acordo para a exportação de cereais durante uma conversa telefónica com o seu seu homólogo turco Hulusi Akar, a segunda em 48 horas, segundo um comunicado do exército russo.

Este acordo, assinado em julho sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Turquia, permitiu a exportação de milhões de toneladas de cereais retidas nos portos ucranianos desde o início da ofensiva russa, no final de fevereiro.

Recrutamento militar

Também a Rússia iniciou hoje a fase de recrutamento de outono para o serviço militar obrigatório e garantiu que os novos recrutas não serão enviados para a zona da “operação militar especial” na Ucrânia.

No total, são convocados 120 mil cidadãos russos, 7500 a menos do que no mesmo período do ano passado, e o processo de ingresso nas Forças Armadas vai estender-se até 31 de dezembro. “Os militares que cumprem o serviço militar obrigatório realizam tarefas de acordo com o tipo de unidade para a qual serão designados, mas não serão enviados para a zona da operação militar especial”, afirmou o ministro da Defesa russo, garantindo que aqueles que já completaram o ano de serviço militar obrigatório vão regressar a casa este outono.

O comando militar russo insistiu na garantia de que os recrutas não serão enviados para o território das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk e às regiões de Zaporizhia e Kherson, recentemente anexadas por Moscovo, no entanto, o  Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) norte-americano referiu que os recrutas serão “quase certamente enviados para a Ucrânia” em março ou abril de 2023, assim que terminem o período de instrução militar.

O recrutamento de outono na Rússia começa geralmente a 1 de outubro, mas este ano foi adiado por um mês devido à mobilização parcial, decretada a 21 de setembro pelo presidente russo, Vladimir Putin, para lidar com reveses militares na Ucrânia.

Entre 1 de maio e 20 de setembro deste ano, foram instaurados 410 processos criminais contra os que fugiram ao serviço militar obrigatório, segundo o portal de informações RBC, que destacou que é o maior número de casos dos últimos dez anos.