Abel, o conquistador

Primeiro desdenharam, depois insultaram, e, por fim, renderam-se. Abel Ferreira mostrou que é melhor do que todos eles e foi campeão brasileiro com o Palmeiras.

Por João Sena

Se, como dizem, o Brasil é terra do futebol, então alguns treinadores portugueses têm o toque de Midas, pois em cada equipa que tocam começam a cair títulos. Foi uma época difícil para o treinador português, não por aquilo que os seus adversários jogam, o Palmeiras é, de longe, a melhor equipa do Brasileirão, mas pelos ódios de estimação que tem vindo a acumular por ter um discurso próprio e, também, ser português. Se fosse anglo-germânico talvez fosse considerado um segundo ‘Special One’, assim é apenas o Abel Ferreira que ganhou seis títulos com destaque para duas Taças dos Libertadores, um campeonato, uma Taça do Brasil e uma Supertaça sul-americana. Garantido o título no Brasileirão – liderava o campeonato desde a 10.ª jornada – o treinador relembrou as suas primeiras palavras ao chegar ao clube “não vim para passar férias. Vim para trabalhar, para juntar-me aos melhores e ganhar com os melhores”, dito e feito. 

A vida do Palmeiras estava tão facilitada que nem precisou de jogar para ser campeão! Estava a equipa tranquila da vida a jantar quando o seu adversário, o Sport Club Internacional, perdeu (0-1) em casa do América MG e ofereceu a ‘sobremesa’ do título ao Verdão a três jornadas do fim do campeonato. Foi bonita a festa, que continuou, horas depois, no relvado com o robusto triunfo do Palmeiras sobre o Fortaleza por 4-0. 

O técnico do Palmeiras estava extremamente satisfeito com o título, distribuiu elogios pela equipa e não esqueceu os outros. A vitória no Brasileirão no dia em que completou dois anos à frente do Verdão ajudou à festa: “Queria muito ganhar esta competição. Os jogadores ensinaram-me o caminho para ser campeão e todos juntos conseguimos esse feito de forma meritória, limpa e categórica. O meu sentimento é, por isso, de muita gratidão e de orgulho por tudo aquilo que eles têm feito” reconheceu. Abel Ferreira explicou depois as mais valias da equipa “temos uma mentalidade muito competitiva, jogue quem jogar é sempre para ganhar. É uma equipa que não joga bonito, mas joga bem. Sabe quando tem de atacar e defender, e joga de forma equilibrada seja contra quem for”, fez questão de sublinhar. 

O treinador português tem motivos para estar agradado com os números registados, desde que chegou ao Palmeiras realizou 157 partidas, venceu por 91 vezes e perdeu apenas 31 jogos, apresentando uma taxa de aproveitamento de 65%. Conquistou seis títulos, é o terceiro no ranking de técnicos mais vencedores da história do Verdão, e igualou o registo de Luiz Felipe Scolari, que também já treinou o Palmeiras. Os dois treinadores foram rivais dentro dos relvados esta temporada, Scolari treina o Athletico Paranaense, mas mantêm uma relação pessoal muito cordial. A boa impressão deixada por Abel Ferreira levou a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, a afirmar que não iria dificultar a saída do treinador português caso fosse convidado para ser selecionador do Brasil. “Claro que o libertava. Seria uma honra para o clube ter um técnico nosso ao leme da seleção do país”, disse com natural orgulho. 

O ambiente criado ao longo da época não foi esquecido pelo treinador português, e muito ao seu estilo disparou: “Não andamos atrás de recordes, mas fizemos uma campanha extraordinária na Libertadores e no campeonato. Só quem está de má-fé é que não reconhece a qualidade do nosso trabalho. A nossa autoestima é tão grande que temos espaço para aqueles que gostam de nós e para os que não gostam. E quem não gosta vai ter que nos engolir de qualquer jeito”.