A covid está mesmo de volta

Os números oficiais do INSA apontam para 735 infeções diárias, mas segundo o epidemiologista Manuel Carmo Gomes já devem superar as duas mil. Adivinha-se um inverno complicado.

Era a crónica de uma notícia anunciada, embora muitos continuem a não dar por ela. A covid está de volta e como ainda não há imagens de ambulâncias em fila nos hospitais, os avisos dos especialistas estão a cair em saco roto. Mas vamos por partes. A 20 de outubro, Manuel Carmo Gomes dizia ao jornal i: «Podemos esperar uma pressão muito grande a partir de novembro quer nos cuidados de saúde primários quer nas urgências hospitalares._Receio que tenhamos que ponderar seriamente voltar atrás no aligeiramento de restrições, como a obrigatoriedade das máscaras em transportes públicos».

Passaram pouco mais de 15 dias e eis que o epidemiologista diz agora à Lusa: «No que respeita ao número de novos casos, devemos estar acima de 2 000 por dia, no mínimo». As declarações do perito da Direção-Geral de Saúde surgem depois dos dados avançados pelo Instituto de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) que estima que o número médio de casos a cinco dias está nas 735 infeções diárias a nível nacional, diminuindo para as 619 no continente, como escreveu a agência nacional de notícias.

E é aqui que Manuel Carmo Gomes faz soar as sirenes de alarme. «Presentemente apenas conhecemos resultados de testes realizados em meio hospitalar e de pessoas que se deram ao trabalho de obter receita médica para se testar», querendo dizer que o número de infetados é muito superior ao revelado pelo INSA.

Também a 20 de outubro, ao jornal i, Carmo Gomes mostrava os seus receios em relação às subvariantes da Ómicron. «Não sabemos se as pessoas quando estão infetadas têm maior risco de desenvolver doença grave, nem sabemos se essas subvariantes continuam a ter mais impacto apenas nos mais idosos e vulneráveis do que nos mais novos que não têm outras patologias».

Ontem, voltou a mostrar as suas dúvidas. «Para já não existe evidência (prova) de que sejam mais patogénicas do que as primeiras Ómicron (BA.1, BA.2 e BA.5), mas ainda sabemos muito pouco sobre o seu significado clínico». Mas há números que são inquestionáveis. «Durante setembro e parte de outubro tivemos menos de 400 camas ocupadas em enfermaria covid-19. Agora estamos com quase 500 camas», acrescentando que o número de mortes se manteve «muito tempo em cinco e seis por dia, mas nos últimos dias a média subiu para 7,6 óbitos».

Os sinais de alerta estão lançados e o ministro da Saúde,_Manuel Pizarro, já anunciou que no próximo dia 11 se reunirá com o Infarmed, não tendo dito, até agora, se já há algum plano de contingência montado.