Uma vergonha de exposição

Que a Assembleia da República faça exposições sobre as vergonhas da nossa História, os crimes do Patriarcado e a Transfobia, em vez de distorcer a verdade e denegrir a poesia marxista

por João Cerqueira

Depois dos partidos de Esquerda se oporem à realização da exposição Totalitarismos na Europa na Assembleia da República, o presidente da instituição, Augusto Santos Silva, impediu que a mesma se realizasse. O PCP, o BE, o LIVRE e o PS justificaram a sua oposição com o argumento de que tinham dúvidas quanto à metodologia da exposição. Criada pela Platform of European Memory and Conscience – uma organização não governamental que tem o apoio do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia –, a exposição pretende que não sejam esquecidos os regimes totalitários europeus e os crimes contra a Humanidade que cometeram. A exposição já esteve presente em dezanove países da Europa e da América do Norte e em oito cidades portuguesas.

Só em regimes totalitários como a Rússia, a China, a Coreia do Norte, e outros, é que exposições como esta nunca serão permitidas.

Como tal, fiquei estupefacto quando soube de idêntica proibição na Assembleia da República. Como referem os organizadores da exposição – o Instituto + Liberdade –, o boicote da Esquerda portuguesa parecia representar «um branqueamento do passado trágico na Europa, por regimes totalitários e sangrentos, e um profundo desrespeito pelos seus milhões de vítimas». Como se não bastasse Portugal ter caído nos rankings mundiais que avaliam os regimes políticos, tendo sido considerado este ano pela The Economist «uma democracia com falhas», esta decisão parecia mostrar que éramos, sim, uma democracia totalmente falhada. No entanto, depois de refletir nas credenciais democráticas de Santos Silva – antigo trotskista e fervoroso apoiante de José Sócrates – e de partidos como o PCP e o BE – a quem os povos da Coreia do Norte e Cuba nunca esquecerão a solidariedade – compreendi que estava errado.

As tais dúvidas metodológicas manifestadas pela Esquerda são, afinal, compreensíveis. É incorreto associar a União Soviética ao Comunismo porque este, tal como foi teorizado por Marx, nunca existiu em lado nenhum. Além de filósofo, Marx, quando não estava a jogar na Bolsa ou a engravidar criadas, dedicava-se à poesia. E assim nasceu, numa noite de luar com pirilampos a brilhar e mochos a piar, O Manifesto Comunista. Ora, como Lenine e Estaline eram dois brutos cuja sensibilidade poética se esgotava nos despachos de fuzilamento, não souberam interpretar conceitos como «ditadura do proletariado» e resvalaram para o totalitarismo. Já os poetas Jerónimo de Sousa, Rui Tavares, Santos Silva e a poetisa Catarina Martins souberam interpretar corretamente as odes marxistas vendo na palavra ditadura uma alegoria de liberdade e nos Gulags uma hipérbole.

Ou seja, o Nazismo é Nazismo, o Fascismo é obviamente Fascismo, mas o Comunismo não é Comunismo – qualquer pessoa com dois neurónios percebe isto.

Além disso, houve uma razão nobre para impedir a exposição: o Chega. Ora, como é sabido que o Chega é o único partido que apoia ditaduras e a invasão da Ucrânia, os partidos de Esquerda suspeitaram que os seus deputados, mal começassem a ver as imagens dos regimes ditatoriais, fossem possuídos por arrebites totalitários, pegassem nas facas e nos garfos do restaurante de luxo e sequestrassem o Parlamento. Depois, com André Ventura a fazer de Tejero Molina, mandavam deitar ao chão os restantes deputados e declaravam deposto o regime democrático. Por fim, para mostrarem que não estavam a brincar, vestiam Santos Silva com uns calções castanhos e uma camisa verde da Mocidade Portuguesa e obrigavam-no a ler um discurso de Salazar ou um poema de d’Annunzio.

É ainda preciso não esquecer que o Brasil volta a ser um país livre e democrático graças à reeleição de mais um poeta, Lula da Silva. Graças aos seus poemas financeiros como ‘Ode ao Mensalão’, ‘Ode ao Petrolão’ e ‘Trambique do Triplex’, foram salvos órgãos indispensáveis à democracia brasileira como a tesouraria do Partido dos Trabalhadores e as contas bancárias do próprio Lula. Como tal, seria uma vergonha que Portugal, país irmão, colocasse em causa a sua democracia e as relações com o poeta Lula permitindo semelhante exposição. Demais, Portugal não pode esquecer o contributo dado por Lula e Sócrates para a liquidação da PT Comunicações, uma empresa que explorava os clientes e cujas origens remontam à ditadura fascista – a Companhia de Telefones de Lisboa e Porto criada em 1968.

Portanto, que a Assembleia da República faça exposições sobre as vergonhas da nossa História, os crimes do Patriarcado e a Transfobia, em vez de distorcer a verdade e denegrir a poesia marxista.