Ucrânia. Enquanto Zelensky visita Kherson, o leste está sob ataque

Com os recursos que tiraram de Kherson, o Kremlin “passou à ofensiva nas direções de Bakhmut, Avdiika e Novapavlivka”.  

Ucrânia. Enquanto Zelensky visita Kherson, o leste está sob ataque

Volodymyr Zelensky visitou Kherson, na segunda-feira, para celebrar uma das mais impressionantes vitórias ucranianas. É “o começo do fim” da guerra, prometeu o Presidente ucraniano. Contudo, do outro lado do país, os russos faziam o que prometiam quando retiraram de Kherson, aproveitando não terem de defender esta cidade sitiada na margem oeste do rio Dnipro para avançar a leste, em Donetsk. 

Enquanto uma multidão em júbilo recebia Zelensky em Kherson, enchendo a praça principal de bandeiras ucranianas, “o inimigo passou à ofensiva nas direções de Bakhmut, Avdiivka e Novopavlivka”, avisava o estado-maior-general das Forças Armadas da Ucrânia numa publicação no Facebook. No dia anterior os russos tinham lançado dezenas de ataques aéreos, mísseis e salvas de foguetes, anunciaram os militares ucranianos. 

Já os media russos gabaram os avanços dos invasores, divulgando até um vídeo filmado por um drone, que diziam mostrar um soldado ucraniano a ser encurralado num túnel por uma equipa de assalto das milícias de Lugansk, tentando abrir fogo desesperadamente antes de ser abatido com granadas. 

A reconquista de Kherson pelos ucranianos tirou a Vladimir Putin a sua única testa de ponte na margem oeste do Dnipro – tornando quase impossível qualquer sonho de, após uma eventual vaga de recrutamento e rearmamento russo, marchar contra Odessa e bloquear o acesso da Ucrânia ao Mar Negro – o que espantou muitos analistas.

Para conseguir recuperar a cidade intacta foi necessário cortar as rotas de abastecimento russo através do rio de formas criativas. Usaram sobretudo os lança-mísseis de longo alcance americanos HIMARS, mas dado que estes não tinham potência suficiente para rebentar pontes, tiveram de atingir a ponte Antonivskiy – o acesso da península da Crimeia até Kherson – sucessivamente para fazer crateras quase numa linha reta, de maneira a tornar a rodovia intransitável, apontando depois às equipas de reparação. Em seguida tiveram como alvo os pontões que militares russos foram montando, tendo estes ficado limitados a usar barcaças, que também eram alvejadas. 

Contudo, se o Kremlin retirou as entre 20 a 40 mil tropas que guarneciam Kherson – incluindo boa parte das forças de elite que lhe sobram, sobretudo paraquedistas – “não está a criar as condições para um relaxamento das hostilidades para o resto do outono e inverno a dentro”, avaliava o mais recente relatório do Instituto para o Estudo da Guerra. “Ao invés disso estão a lançar uma nova ofensiva no oblast de Donetsk”, continuava o think tank americano. Antevendo um crescendo das hostilidades nas próximas semanas, há medida que tropas tiradas de Kherson forem recolocadas. 

As táticas que os russos têm utilizado nesta região, sobretudo em Bakhmut, que já tentam conquistar desde maio, são loucas, já estranhava Zelensky no mês passado. “É aqui que a loucura do comando russo é mais evidente”, apontava. Fosse por Bakhmut estar a sofrer a estratégia russa de esmagar cidades bairro a bairro com artilharia, ou por os assaltos terem como ponta de lança os mercenários da Wagner, uma empresa conhecida por fazer o trabalho sujo do regime de Putin. 

Mesmo em Kherson, apesar da toda a alegria, de imagens de civis abraçados aos seus libertadores e a entregarem-lhes flores a situação está complicada, tendo sido recuperados já quase dois mil itens explosivos “deixados pelos russos nesta cidade, denunciou Zelensky. Os habitantes não têm de ter receio que os invasores regressem num futuro próximo. Mas o Presidente já lhes pediu “sejam cuidadosos e não tentem verificar independentemente quaisquer edifícios e objetos deixados pelos ocupantes”. Além dos temores de que a Rússia use as suas posições fortificadas do outro lado do rio para devastar Kherson com artilharia.