Ainda não começou e já é um enjoo insuportável, até mesmo para alguém como eu que gosta muito de futebol. Ontem, sexta-feira, começou o forrobodó no aeroporto às 10h da manhã. No primeiro direto, os pobres repórteres diziam que ainda só havia um adepto à espera da Seleção, mas também ainda faltavam duas horas para os craques chegarem. Pela primeira vez, em muito tempo, desliguei a televisão, apesar de precisar de estar informado sobre o que se passa no mundo enquanto não chego à redação do jornal. Por volta da uma tarde, já com o televisor do meu gabinete ligado, pensei que Lisboa teria servido de local de partida de alguma nave espacial que iria atingir Marte, mas acordei rapidamente para a realidade e percebi que estavam a filmar o avião de seleção portuguesa a caminho do Qatar.
Tirei o som e deixei de olhar, não fossem aparecer alguns especialistas em voos e psicologia da aviação a comentar a trajetória do avião que transportava a Seleção. Durante toda a tarde, praticamente só se falou no raio da Seleção e até iam dando a localização do avião!!! Para alguém mais desatento, era natural pensar que a guerra na Ucrânia tinha acabado há algum tempo, que os hospitais já não estão com problemas, que os impostos não continuam a subir, que os preços dos alimentos e dos combustíveis não dispararam, que as meninas e os meninos não fecharam escolas em defesa do clima e por aí fora. Parece que a manifestação pró e contra Lula da Silva no Palácio de Belém incomodou as emissões especiais sobre o Mundial do Qatar…
Depois desta overdose de informação sobre a Seleção, já estou com saudades dos majores generais Agostinho Costa e Carlos Branco, que muito sofreram nas últimas semanas com a conquista de Kherson por parte da Ucrânia. Penso mesmo que deviam ser considerados património nacional e que nunca os afastassem dos ecrãs. Eles são os responsáveis pelos melhores momentos de humor que vejo na CNN_Portugal – têm um concorrente forte, mas já lá vamos. Os dois majores generais conseguem ser mais russófonos que o novo líder do PCP, que acabou por reconhecer que, a seguir aos EUA, à NATO e à UE, a Rússia também tem responsabilidades na intervenção militar – Paulo Raimundo não consegue, mesmo assim, falar em invasão. Mas os majores generais até podiam aprender alguma coisa com o camarada Arménio Carlos, que já veio dizer que estamos perante uma invasão e que o PCP perde credibilidade em não o assumir – o discurso de despedida de Jerónimo de Sousa foi patético e revela bem a sua visão de democracia.
Mas o que seria verdadeiramente genial era a CNN Portugal criar um programa de stand up comedy com Carlos Branco e Agostinho Costa, indo ‘roubar’ à concorrência Nuno Rogeiro – o homem que diz que os ucranianos vivos ou mortos vão combater nem que seja com pedras, calculo que algumas do além – e José Milhazes. Seria certamente um programa onde não faltaria animação, com os dois campos a defenderem as suas damas. O cenário podia mesmo ser duas trincheiras.
Falando mais a sério, não faria mais sentido estes ‘apaixonados’ pela causa, uns de um lado e outros do outro, serem confrontados com o contraditório?
Quanto ao concorrente dos majores generais, a escolha é óbvia: Anabela Neves, mais costista do que o próprio António Costa. Com tanto futebol nas televisões também fico com saudades de ouvir a jornalista amiga do primeiro-ministro que diz as maiores barbaridades com o ar mais sereno do mundo.
P. S. Então não é que as meninas mimadas que querem acabar com as energias fósseis até 2030 revelaram que tiveram uma formação em desobediência civil? Isto de ser ativista climático não é para todos, é preciso muita organização e ideias revolucionárias que os hoje velhinhos tanto viveram noutros tempos. Sugiro que recuperem o Keffiyeh e as t-shirts com a cara de Che Guevara.
vitor.rainho@sol.pt