Campeão do mundo aos 11 anos

Viajou do Porto até ao Algarve para ser campeão do Mundo de karting aos 11 anos! Não é ficção, é realidade. Chama-se Martim Marques e tem uma habilidade inata para conduzir depressa e bem.

Por João Sena

As finais mundiais Rotax realizaram-se no Kartódromo Internacional do Algarve com a presença de 394 pilotos de 60 países. Martin Marques não se intimidou perante a forte oposição, ultrapassou com sabedoria os contratempos da final e sagrou-se campeão do Mundo Rotax na categoria Micro Max. Esta é a história de um piloto bem-sucedido – venceu tudo o que havia para ganhar em Portugal – que começa a trilhar o seu caminho no karting, mas já a olhar para os automóveis. O início é prometedor, tal como foi com Max Verstappen, atual bicampeão do Mundo de Fórmula 1, que também disputou o Rotax Max, em 2013. 

Com 35 adversários em pista – todos campeões nacionais – o piloto do Porto largou da 11.ª posição, e com um ritmo endiabrado garantiu a vitória. «Foram dias muitos intensos, com muitas emoções. Este título mundial não é só do Martim, é de todos os portugueses», sublinhou Ricardo Costa, que é, simultaneamente, pai e responsável da equipa. Largar de uma posição secundária num traçado muito técnico não o assustou. Fez um excelente arranque e, no final da primeira volta, estava em quinto, só que a corrida viria a ser interrompida devido a um acidente. No recomeço voltou a sair de 11.º e, passado duas voltas, era terceiro, e, na penúltima volta, atacou e passou para frente. «Foi uma corrida de grande sofrimento, a vitória podia ter ido para qualquer um», disse Ricardo Costa, que frisou: «O Martin é muito determinado e disse que ia fazer o melhor que podia. Cumpriu a estratégia, não cometeu qualquer erro e soube segurar o primeiro lugar. Foi bonito ouvir o hino nacional», disse com orgulho. A vitória chamou a atenção de algumas equipas de fábrica, que já entraram em contato com Ricardo Costa no sentido de terem Martin Marques no line up de pilotos para o próximo ano.

Começou a andar de karting aos cinco anos sempre com o apoio do pai, que criou uma estrutura própria, a Racing Academy & Competition (RAC). «Quem quer fazer carreira nesta modalidade deve ter todas as condições. Além disso, o Martin é um miúdo que trabalha imenso, treina praticamente todos os fins de semana, e abdica de muitas coisas para poder fazer aquilo de que mais gosta. Raramente vai às festas dos amigos, prefere ir andar de karting». Apesar de muito jovem, tem uma vida ocupada: «Quando não está na escola ou na pista está no ginásio com o personal trainer para fortalecer a parte muscular a nível cervical, braços e pernas, e é acompanhado por um fisioterapeuta para pôr tudo no lugar a seguir a cada corrida». O progenitor considera-o um miúdo disciplinado e rigoroso: «Percebeu que o karting ia exigir muito dele, e que tem de abdicar de algumas coisas próprias da sua idade. É alegre e feliz, mas um pouco tímido e nada vaidoso, na escola são poucos os amigos sabem que ele é campeão de karting». No próximo ano, o grau de dificuldade aumenta com a passagem para a categoria Júnior, disputada com karts de adultos. «Vai ser um grande desafio, mas é a vontade dele. Nunca interferi no trabalho do Martin e do seu mecânico, Carlos Vieira. Eles têm grande cumplicidade em pista, eu sou apenas espetador». O projeto de carreira também já está traçado: «Deverá continuar no karting mais cinco anos e, aos 16 anos, deverá passar para os automóveis. É um apaixonado pelos fórmulas e protótipos de Endurance».

As corridas não interferem na vida de estudante do 5.º ano, como nos explicou o pai: «Quando está a competir no estrangeiro, os professores enviam-lhe a matéria e, no final do dia, tira algum tempo para fazer os exercícios. Ele sabe que para ter sucesso tem de ter regras e disciplina». 

As corridas também podem ter uma componente pedagógica: «A competição obriga-o a cumprir horários, obedecer ao mecânico, cumprir uma estratégia e saber ganhar e perder».