As ‘tricas da corte’…

A maioria absoluta só veio agudizar essa tendência inata do PS quando está no poder, garantindo empregos chorudos a boys e a girls, sem currículo nem mérito

Nas previsões de outono da Comissão Europeia, a Roménia, outrora um dos países mais pobres da UE, deverá ultrapassar em breve Portugal no PIB per capita, o que implicará um recuo para a 20.ª posição no ranking europeu.
Esta notícia, na sua crueza, deveria fazer corar António Costa e o PS, que nos governam há sete anos, desde que inventaram a ‘geringonça’ para superar uma derrota eleitoral.

Note-se que a Roménia, quando alcançar essa performance, mais não fará do que imitar outros países do clube comunitário, como Malta, República Checa, Eslovénia, Estónia ou Lituânia, que nos ‘passaram a perna’ nos últimos anos, apesar do fluxo enorme de fundos europeus de que fomos beneficiários. 

O que a Roménia vem provar é que, no cômputo europeu, estamos comparativamente a empobrecer e longe da média do crescimento dos nossos pares, como se fosse uma fatalidade irremediável.

Enquanto isto acontece e as redes sociais se indignam na virtuosa defesa dos direitos humanos no Qatar, o Estado português faz-se representar em Doha ao mais alto nível, sem a menor parcimónia, numa demonstração de hipocrisia e agravando a promiscuidade já existente entre o futebol e a política.

A economia definha e o país resigna-se, pastoreado por um governo em campanha eleitoral permanente, secundado por um Presidente viciado em selfies e na medição da sua popularidade – que já conheceu melhores dias. Entretanto, o futebol enxameia as televisões de uma forma doentia, num exercício de anestesia ao domicilio.

Ora, uma coisa é gostar de futebol e outra, bem diferente, é o deslumbre acrítico como se o futuro do país dependesse das chuteiras.

Este estado de coisas, é, no entanto, muito útil para disfarçar ou escamotear fraquezas e mediocridades, que nos atiram para um complexo plano inclinado, traduzido já em cerca de metade da população portuguesa a viver na fronteira da pobreza, ou que só a evita, à tangente, graças às subvenções sociais.

Quando se ouvem as tiradas patéticas de que ‘somos os melhores do mundo’, convirá saber do que falamos e de ter presente esta comezinha realidade, que nos empurra para o fim da tabela na Europa a 27. 

Para lançar ‘poeira nos olhos’ sucedem-se, como na era de Sócrates, os anúncios de projetos de obras públicas, que depois não saem do papel, enquanto se derretem milhões a financiar inutilidades e inúteis e o governo se esfarela por dentro, com sete demissões de governantes em menos de oito meses e muita polémica à mistura, fora aqueles que continuam, embora fragilizados, como Pedro Nuno Santos .

A ocupação parasitária e descarada do aparelho de Estado “soma e segue”, sem dar sinais de esmorecimento, como ficou provado com a história recente de um ex-estudante recém-licenciado, oriundo da JS, contratado para assessor de Mariana Vieira da Silva e remunerado como se fosse diretor-geral.

A maioria absoluta só veio agudizar essa tendência inata do PS quando está no poder, garantindo empregos chorudos a boys e a girls, sem currículo nem mérito que se conheça, mas com cartão partidário.

Os portugueses estão mais pobres. Segundo a Pordata, Portugal «desviou-se da trajetória de redução da pobreza (…)» e «em 2020 houve um agravamento». Note-se que em 2020, o número de pessoas em risco de pobreza ou de exclusão social aumentou 12,5% face a 2019.

Disse-o, também, Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, em vésperas da última campanha de recolha de géneros, ao afirmar que «é muito previsível que vá aumentar o número de pessoas que vão ficar numa situação muito difícil e em pobreza».

Esta realidade choca de frente com a narrativa otimista do primeiro-ministro, a propósito de sete anos de governação.

Em contraste com Luís Montenegro, para quem Portugal é ‘’o carro vassoura’ da UE, Costa só encontra elogios para os executivos socialistas.

Eufórico, Costa argumenta mesmo que «estamos a crescer mais do que a Alemanha, a França e Espanha», mas desvaloriza e omite que fomos ultrapassados por outros países que chegaram à União Europeia muito depois, com economias bem mais modestas do que a nossa. 

Ao ouvi-lo, tem-se a sensação de que vive noutro planeta ou que está simplesmente a distorcer ou a falsear a verdade das coisas. 

É o caso da taxa de desemprego que, segundo ele «baixou para menos de metade, desde 2015 até ao presente». Conviria que tivesse lido antes António Barreto, quando este lembrou que «o número de emigrantes por cada mil habitantes é, na última década, superior ao registado na década de 1960». 

Faz a diferença, quer nas qualificações desses novos emigrantes, quer na incidência na taxa de desemprego. São muitos os jovens a sair de Portugal, desiludidos com a falta de perspetivas, tanto ao nível das remunerações médias como na elevada fiscalidade. Não são ‘tricas da corte’…