A hipocrisia ambientalista

A mentira ambiental instalou-se de tal maneira que as pessoas deixaram de ter consciência do abismo existente entre o que dizem e o que fazem. Na cimeira do clima, no Egito, os políticos clamavam contra a poluição mas iam para lá em jatos privados.

Os jovens fazem manifestações a favor do ambiente e atacam os políticos que não o protegem, mas são eles hoje os maiores predadores ambientais. Vítor Rainho escreveu a esse respeito um excelente texto – Geração Mimada –, quer pelo estilo provocatório quer pela substância.

Vivo perto de várias escolas secundárias e observo o comportamento dos jovens.

Mesmo quando dispõem de cantinas nas escolas, muitos não as frequentam, preferindo comer em cafés ou comprar comida no supermercado. Agora está na moda o sushi – que levam em caixas de plástico e comem sentados em bancos de jardim. Mas outros preferem o pacote gigante de batatas fritas e a garrafa de litro de Coca-Cola. É este o almoço de muitos adolescentes: um pacote de batatas fritas e um litro de Coca-Cola. E com frequência atiram as embalagens para o chão, que ficam a enfeitar os relvados e os passeios.

Ouço muita gente dizer que, felizmente, as novas gerações têm preocupações ecológicas que as gerações anteriores não tinham. Pasmo com tamanha ingenuidade!

O que mais contribui para a poluição é o consumo. Quanto mais se consome, mais é necessário produzir, mais energia e matérias-primas se gastam, e depois mais lixo se produz. Ora, as novas gerações consomem cinco ou dez vezes mais do que a geração dos pais.

Eu vinha todos os dias a pé do liceu D. João de Castro, situado no Alto de Santo Amaro, até casa, em Belém, para poupar os 5 tostões do bilhete de elétrico – com os quais comprava uma arrufada na padaria. E os meus pais não eram pobres – eram pessoas da classe média. Ora, quem faz hoje quilómetros a pé para a escola, para poder comprar um bolo?

No D. João de Castro, só dois ou três alunos iam para o liceu de carro, levados pelos pais (ou, num caso, pelo motorista do pai). Hoje quase todos os alunos vão para a escola de carro. Quando calha levar os meus netos, deparo-me de manhã com um trânsito infernal: as ruas enchem-se de automóveis apressados, formando-se aqui e ali filas intermináveis.

Há três gerações atrás, poucas famílias tinham carro; há duas, tinham um, quando tinham; na geração anterior, começaram a ter dois; e agora têm vários: o marido, a mulher e os filhos, ao atingirem a idade adulta.

Toda a gente tem carro, incluindo os pobres. As ruas das cidades tornaram-se depósitos de lata, sendo quase impossível encontrar lugar para estacionar, mesmo na província. As imediações das universidades, onde até há uns anos só se viam os carros dos professores, estão hoje atafulhadas de automóveis dos alunos.

Dir-se-á que os tempos são outros – e é verdade. Só que, nestes ‘outros tempos’, os gastos em energia e a poluição são infinitamente superiores.

E o que os jovens consomem em roupa? As fábricas de roupa devem produzir dez ou vinte vezes mais artigos para jovens do que produziam há cinquenta anos.

E os telemóveis, que todos os jovens possuem a partir dos 10 anos, quando não antes, e que consideram obsoletos ao fim de um ou dois, exigindo outros de ‘nova geração’?

E os jovens casais que separam o lixo e o deitam nos ecopontos, mas não dispensam o ar condicionado em casa, recusam andar de transportes públicos e vão de férias para destinos exóticos, como o Dubai, as Maldivas ou Singapura, fazendo longas viagens de avião. Pensarão nessa altura nos gigantescos custos ecológicos de um avião a levantar voo e de uma viagem de longo curso?

A ideia de que as novas gerações têm hábitos mais ecológicos do que os seus antepassados é um mito. Uma mentira. Quem diz isto vive noutro mundo. Um jovem de hoje pode fazer belos discursos sobre o aquecimento global, pode acusar a geração dos pais de falta de conhecimentos e de ter contribuído brutalmente para a poluição do planeta, pode acusar os velhos políticos de não terem feito nada para o proteger – mas, com toda a sua ‘sabedoria’, agride muitíssimo mais o ambiente do que o pai agrediu, apesar da sua ‘ignorância’.

E os adultos ‘conscientes’, que elogiam a juventude por ter acordado para o problema e aplaudem António Guterres pelos seus discursos e pela sua luta na ONU em prol do planeta, como se comportam?

Trocam os seus carros a gasóleo por carros elétricos, mas em vez de escolherem um modelo pequeno, adequado à sua vida, compram carros enormes, chamados SUV, que são uns monstros de metal e plástico, duas ou três vezes maiores do que os velhos Renault, Fiat ou Austin económicos; e que não lhes servem para nada, porque em geral só transportam uma pessoa.

O discurso ambientalista é um tremendo embuste. Nos supermercados deixaram de oferecer sacos de plástico, mas os bolos que podiam ser embrulhados em papel vêm em avantajadas caixas de plástico. Usa-se uma caixa de plástico de 20×20 cm para acondicionar dois pastéis de nata!

A mentira ambiental instalou-se de tal maneira que as pessoas deixaram de ter consciência do abismo existente entre o que dizem e o que fazem. Na cimeira do clima, no Egito, os políticos clamavam contra a poluição mas iam para lá em jatos privados.

Com todos os discursos ambientais que se fazem, com todas as medidas, com todos os acordos, a humanidade polui hoje muitíssimo mais do que poluía há cinquenta anos. E os jovens ainda querem que os pais lhes peçam desculpa pelo estado em que está o planeta!