As mentiras de Costa e outras golpadas nacionais

Neste país anedótico, que já recebeu e vai receber dinheiro suficiente para não sermos uns miseráveis, outra história que ilustra a prepotência do Governo diz respeito ao consulado de João Gomes Cravinho enquanto ministro da Defesa.

Portugal é um país digno de um filme cómico-trágico em que as mais altas individualidades brincam com o poder que têm. O primeiro-ministro, por exemplo, permite-se brincar com as cheias com uma ligeireza digna de um filme de António Silva. Na ‘guerra’ de palavras que travou com Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, estranhou que o autarca não lhe tenha ligado, já que teve a sua casa inundada. A TSF foi fazer a reportagem e constatou que a casa do primeiro-ministro, no terceiro andar, nada sofreu, tendo sido, sim, a garagem inundada. Estragos que não atingiram António Costa, já que não tinha nem a sua viatura oficial nem a particular no lugar afetado. Costa veio pedir desculpa pela mentira? Negativo. Poderemos nós confiar num homem que mente sobre uma cheia que nunca teve? Se mente numa questão destas, em que mais o fará?

Neste país anedótico, que já recebeu e vai receber dinheiro suficiente para não sermos uns miseráveis, outra história que ilustra a prepotência do Governo diz respeito ao consulado de João Gomes Cravinho enquanto ministro da Defesa.

Não é que foi aprovado um orçamento de 750 mil euros para obras no Hospital Militar de Belém e as mesmas acabaram em mais de três milhões? Por ajuste direto, o então diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional entregou a obra a uma empresa, segundo o DN, criada uns dias antes num cabeleireiro. Satisfeito com o desempenho de Alberto Coelho, Cravinho acaba por o nomear para presidente do conselho de administração da EMPORDEF, uma empresa do Estado. Um homem que estava sob investigação é promovido pelo ministro. Claro está, que o forrobodó era tanto que o Ministério Público entrou em ação e deteve cinco pessoas, constituindo 19 como arguidas. As trapalhadas neste caso foram tantas que não se percebe como o ministro ainda tem lata para se desculpar. Como dizia, e muito bem, Sebastião Bugalho – o primeiro a denunciar o caso – João Gomes Cravinho não tem condições para continuar como governante. E não está em causa a seriedade de João Gomes Cravinho – que se saiba ninguém questiona esse facto –, filho de um antigo governante que sempre pautou a sua atuação pela transparência e o combate à corrupção. O que está em causa é não ter visto as golpadas de Alberto Coelho, um antigo dirigente do CDS do tempo de Paulo Portas, e tê-lo nomeado para outro cargo do Estado.
 
Outra história insólita diz respeito à multa que o Tribunal de Contas (TdC) aplicou a três antigos  administradores da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).  Vítor Santos, Ascenso Simões, ambos do PS, e Margarida Aguiar, do PSD, foram condenados a pagar uma multa de quase dois milhões de euros por terem beneficiado 75 funcionários, entre 2010 e 2011, em quase dois milhões e meios de euros, em regalias e suplementos remuneratórios.

Também aqui não está em causa a seriedade dos três políticos, já que o Tribunal de Contas concluiu que não tiraram «benefício próprio» com os gastos. O mais extraordinário é que o Governo tentou dar uma chapelada na decisão do TdC, tentando alterar o Orçamento do Estado por forma a encontrarem uma verba para pagar a multa dos três personagens.

Quando foi descoberta a marosca, voltou tudo à estaca zero. E é assim que se desbarata o dinheiro público entre obras e remunerações sem qualquer sentido.

Mas com um primeiro-ministro que diz que a sua casa ficou alagada, quando só a garagem o foi, já não nos podemos surpreender com nada.

E quando digo nada, é mesmo nada. Então não é que quando se vai às compras a hipermercados encontramos um preço dos produtos nas prateleiras e depois quando vamos pagar houve uma inflação brutal até chegar às caixas? Estamos ou não num país de mentiras?

vitor.rainho@sol.pt