1º Argumento: a Rússia tinha de invadir a Ucrânia, para impedir que a NATO avançasse até à sua fronteira e lá colocasse mísseis que poderiam atingir Moscovo.
Não estava em curso qualquer operação dessa natureza, nem sequer um processo de adesão da Ucrânia à NATO, que aliás suscitava muitas reticências dos líderes ocidentais. Tratou-se, pois, de um argumento tosco para justificar a invasão. Mutatis mutantis, ao fazer recentemente um acordo militar com a Bielorrússia, que prevê a instalação de armas nucleares neste país – muito próximas de capitais de países da NATO -, Putin estaria a justificar a invasão da Bielorrússia por forças do Pacto do Atlântico…
2.º Argumento: impunha-se fazer a desnazificação do poder instalado em Kiev.
Todas as ligações de Kiev são com o Ocidente, ou seja, com países democráticos como os EUA, a Inglaterra, a França ou a Alemanha, enquanto os aliados da Rússia são países autocráticos como a China, a Coreia do Norte ou a Venezuela. Se, por ‘nazi’, Putin queria significar um poder antidemocrático, ditatorial, as evidências mostram que esse é o sediado em Moscovo e não em Kiev. E a atuação das tropas russas na Ucrânia, com fuzilamentos sumários e abertura de valas-comuns, recorda tenebrosamente o comportamento dos exércitos nazis. O argumento era tão inverosímil que Putin já o deixou cair.
3.º Argumento: no Donbass estava em curso uma luta de populações pró-russas contra o poder ucraniano, e a Rússia tinha de intervir em sua defesa.
Este foi o argumento usado por Hitler na 2ª guerra mundial. Se estava em curso uma ‘guerra civil’ numa zona da Ucrânia, isso era um assunto interno que não autorizava uma intervenção externa. Mas, se fosse essa a razão, a missão das tropas russas seria contribuírem para a independência daqueles territórios. Ora, a Rússia considera-os hoje como seus – mostrando que o objetivo de Putin nunca foi ‘libertá-los’ mas sim ‘anexá-los’.
4.º Argumento: esta é uma ‘guerra por procuração’ entre os EUA e a Rússia, sendo Zelensky um pião e o povo ucraniano as vítimas.
Este argumento esquece um facto básico: foi Putin que invadiu a Ucrânia e não Zelensky que invadiu a Rússia. A agressão partiu da Rússia e os ucranianos limitam-se a defender o seu território e a lutar contra o ocupante estrangeiro. Estamos, assim, perante uma ‘guerra de libertação’, que só estará resolvida quando as tropas russas saírem da Ucrânia. Até esse dia, não faz sentido dizer que Zelensky é pião de alguém.
5.º Argumento: Zelensky é um criminoso, pois está a sujeitar o seu povo a uma guerra trágica e injusta que não pode vencer.
A primeira obrigação de um chefe de Estado, em qualquer país do mundo, é manter a integridade do seu território. Isso está em todas as constituições. Se Zelensky não resistisse, não cumpriria a sua função e trairia o seu compromisso. O que faria Putin se a Rússia fosse invadida por um exército mais forte: baixaria os braços ou resistiria?
6º Argumento: ao dar armas à Ucrânia, o Ocidente está a alimentar e a prolongar a guerra.
O argumento é hipócrita, pois Putin sabe perfeitamente que o prolongamento ou não da guerra só depende dele próprio e de mais ninguém: no dia em que sair da Ucrânia, a guerra acaba. As armas fornecidas pelo Ocidente aos ucranianos são apenas para eles se defenderem e resistirem à agressão russa. Claro que Putin teria preferido invadir a Ucrânia sem resistência, mas essa ideia só poderia existir na sua cabeça.
7º Argumento: a Rússia ataca na Ucrânia alvos militares.
Este foi o argumento usado de início pelos russos para justificar os ataques a prédios de habitação, hospitais, escolas, creches, etc. O Kremlin dizia que os soldados ucranianos se escondiam nessas instalações, usando os civis como ‘escudos humanos’, pelo que os ataques eram justificados e legítimos. Mas com o avançar da guerra os russos foram perdendo a ‘vergonha’ – e hoje já assumem que atacam infra-estruturas básicas, cortando o abastecimento de água, luz e calor, para quebrarem o moral das populações.