“Depois do Adeus”

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,                                                                                

Como te tinha dito vim ao Porto. Nada como apanhar o comboio para estas deslocações. Aproveitei a viagem para começar a ler o livro sobre a vida e obra do teu amigo Paulo Carvalho, que me ofereceram no Natal. ”Paulo Carvalho – 60 anos de cantigas” do jornalista Alberto Franco.

Para as gerações mais novas, Paulo Carvalho é conhecido como o “pai do Agir”. Mas para quem tem a nossa idade, Paulo Carvalho é muito mais do que isso!

Cantor, músico e compositor, é um nome incontornável da nossa música. O ano passado tive o prazer de ver um belíssimo espectáculo organizado pela SPA, na Aula Magna, em Lisboa, sobre os seus 60 anos de carreira.

Fui ouvindo Paulo Carvalho ao longo da minha infância. Recordo-me da telefonia lá de casa ouvir temas como: “Lisboa, Menina e Moça” ; “Os Putos” e “O Homem das Castanhas”, todas com textos de José Carlos Ary dos Santos sendo Paulo de Carvalho o compositor.

O 25 de Abril tem nele um símbolo incontornável. Paulo interpretou a canção “E Depois do Adeus”, a segunda senha da Revolução dos Cravos.

Mas sobre isso tudo isso falaremos mais tarde!

Por falar em “Adeus”, Bento XVI, conhecido também por “Papa Emérito”, morreu mesmo no final do ano. Não foste recebida pelo Papa Bento XVI quando este esteve em Lisboa, em 2010? Conta-me tudo! Como vives paredes meias com a Nunciatura deves ter contactos privilegiados.

Eu vi-o passar no cortejo que desceu a Av. Fontes Pereira de Melo.

Da última vez que fui a Roma, assisti à celebração do “Angelus”, a missa onde o Papa Francisco aparece à janela. Está tão velhinho…

Depois do adeus do Papa Francisco, ainda vamos ter o Cardeal Tolentino como Papa!

Bom, se não te importas agora vou ao “Afonso” (ouvi várias recomendações) comer uma Francesinha.

Vir ao Porto e não comer uma Francesinha é como ir a Roma e não ver o Papa.

Bjs

 

Querido neto,                                                                              

Falas de tantas coisas na tua carta que até estou atordoada. Isso é que é ter novidades para contar à avó.                      Sim, o Paulo de Carvalho é um grande intérprete, há muitos anos. Lembro-me tão bem dele a cantar o “E Depois do Adeus” no Festival da Canção…Se a gente adivinhasse o que viria a seguir…

Mas também gosto muito do Agir e acho que ele canta muito bem. Lembro-me dele, num espectáculo da televisão, a cantar cantigas do pai, e foi lindo.

Quanto ao Papa, sim, fui ao beija-mão do Papa Bento XVI. Eu sou muito amiga do bispo D. Carlos Azevedo e ele é que me convidou. Eu não estava nada à espera, claro e até fiquei sem palavras quando ele me telefonou. E ele «vá lá, quer ou não quer?».

E lá fui. Nunca me hei de esquecer da voz da Maria João Avillez a protestar, «não percebo nada disto, eu não fui convidada e esta, que é comunista, foi!». Estava mesmo furiosa…

E, como a minha casa em Lisboa é mesmo em frente da Nunciatura, voltei a vê-lo quando ele foi à varanda saudar a multidão que estava na rua.

Efetivamente, o Papa Francisco está muito envelhecido e doente. Esperemos que ainda se aguente algum tempo mais. Preocupa-me quem será que vai a seguir a ele. O Tolentino seria extraordinário, claro, mas tem 56 anos, é ainda muito novo. 

Mas o primeiro papa que eu vi, e de que nunca me posso esquecer, foi o Papa João XXIII. Eu tinha então 15 anos e estava em Roma com os meus tios que, lá por serem furiosamente ateus, não deixaram de ir ver o Papa.

Ele olhou para mim e aqueles olhos tão claros entram mesmo dentro de mim.…

Depois ainda vi João Paulo II, numa viagem a Roma com os missionários Combonianos.

E já que falamos de Papas, já alguma vez leste o livro “A Papisa Joana”? Acho que ias gostar muito – ainda por cima é uma história verdadeira.

E agora vou tratar de uma exposição de marcadores que me pediram para fazer aqui na Casa da Cultura da Ericeira.

Fica bem

Bjs