PSD namora Rui Moreira para combater Costa

O PSD ainda não se compromete com nomes. Mas não falta quem veja em Rui Moreira ‘um ativo’ capaz de capitalizar nas urnas contra o PS. O independente é apontado como cabeça de lista de uma coligação de centro-direita às europeias. IL coloca-se de fora, CDS só abre o jogo ‘quando o ciclo abrir’.

PSD namora Rui Moreira para combater Costa

Falta mais de um ano, mas os motores já começaram a aquecer. Se o Governo de António Costa se mantiver de pé, as eleições para o Parlamento Europeu são as únicas que vão decorrer no primeiro mandato de Luís Montenegro à frente do PSD. E, desde o primeiro dia, a nova liderança social-democrata traçou a vitória do partido nas europeias como a meta para 2024.

Nas hostes ‘montenegristas’, não há dúvidas de que é necessário «um candidato forte», ainda que seja para já «precoce» falar em qualquer tipo de cenário. Contudo, fontes sociais-democratas contactadas pelo Nascer do SOL já admitem a possibilidade de o presidente da Câmara Municipal do Porto vir a ser cabeça de lista do partido ao Parlamento Europeu. Apesar de ter sido eleito como independente, é também apontado para outros desafios, incluindo num futuro Governo ou até mesmo nas presidenciais. Uma coisa é certa: o PSD não descarta o capital político de Rui Moreira como trunfo eleitoral na hora de enfrentar o PS nas urnas.

 Em setembro do ano passado, numa entrevista a este jornal, o presidente da Câmara da Trofa já defendia que o autarca do Porto «é um quadro que o PSD deverá aproveitar no futuro».

«Há claramente um conjunto de elementos da sociedade civil que é determinante serem integrados e que vão valorizar o partido. Um exemplo é Rui Moreira, que esteve na luta da descentralização. Claramente, é uma pessoa que está pela causa pública. Como muitos outros elementos que estão na sociedade civil, independentemente do seu grau académico, que são muito valiosos para integrar naquele que é o partido interclassista», declarou na altura o autarca social-democrata.

Agora, Sérgio Humberto reforça que Rui Moreira «é um ativo que o PSD deve aproveitar». «Pode ser para as europeias, pode ser como ministro num futuro Governo, ou ainda numa candidatura a Presidente da República», conjetura em declarações ao Nascer do SOL.

O presidente da distrital do Porto do PSD, que tem acompanhado de perto o assunto das europeias, considera que «está tudo muito verde em termos de reuniões internas» e diz que ainda não foi dado nenhum passo pela direção nacional do partido. «É muito cedo para falar em nomes, não está nada fechado longe disso», garante.

Luís Marques Mendes, que também antecipou ao Nascer do SOL que, melhor ou pior, «o Governo vai-se aguentar até às eleições europeias», já fez questão de realçar que este «é um ano decisivo para o PSD», porque se o partido não ganhar força suficiente em 2023, «pode enfrentar em situação de fragilidade as eleições europeias».

O Presidente da República também já avisou Luís Montenegro que a hora do PSD só chegará quando os eleitores perceberem que há alternativa e não apenas oposição. E, por isso, as europeias são para já o grande teste da nova liderança social-democrata para demonstrar a Marcelo que há condições para haver eleições antecipadas.

O comentador dominical da SIC foi também o primeiro, ainda que de forma encapotada, a lançar o nome de Rui Moreira para o caldeirão das europeias ao declarar, na Universidade de Verão do PSD, em setembro do ano passado, que «Rui Moreira é um quadro que o PSD devia aproveitar no futuro», concebendo ainda a possibilidade de o autarca não cumprir o último mandato até ao fim na Câmara do Porto, ou seja, até 2025.

«Rui Moreira pode sair mais cedo, sem dúvida», insistiu depois, já em declarações ao i. Questionado na altura se essa saída antecipada da Câmara do Porto podia ser motivada por outras perspetivas políticas, como uma eventual candidatura às europeias nas listas do PSD, Marques Mendes já não se quis alongar sobre o assunto.

Aos olhos dos sociais-democratas também não passa despercebida a recente aproximação de Rui Moreira ao PSD. «Para todos os efeitos, ele já foi militante do partido e as políticas dele seguem a linha social-democrata», sublinha um dirigente do PSD ao Nascer do SOL.

Essa aproximação tornou-se mais notória a partir de outubro de 2021, quando o presidente da Câmara do Porto e o PSD fecharam um acordo para garantir a estabilidade governativa da cidade, uma vez que o autarca independente tinha saído das autárquicas nesse ano sem uma maioria confortável para governar sozinho.

Outro indício da boa relação entre o independente e os sociais-democratas surgiu em maio do ano passado. Moreira precisava no mínimo de seis abstenções entre os nove deputados sociais-democratas na assembleia municipal para conseguir aprovar a saída da autarquia da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), uma das suas grandes batalhas. Mas conseguiu-o com a totalidade da bancada municipal do PSD a votar favoravelmente a proposta de saída da autarquia portuense da ANMP, que já tinha recebido a aprovação pelo executivo municipal, ainda que aí Moreira tenha encontrado um PSD dividido. Enquanto o vereador Vladimiro Feliz (próximo de Jorge Moreira da Silva) votou contra, Alberto Machado (ex-líder da distrital do PSD/Porto e que apoiou Luís Montenegro nas últimas diretas) mostrou o seu apoio a Rui Moreira com uma abstenção na votação.

Outro sinal da aproximação do presidente da Câmara do Porto ao partido de Luís Montenegro aconteceu na última semana. Na segunda-feira, em Vila Nova de Gaia, Rui Moreira surgiu ao lado do presidente da Câmara de Lisboa e conselheiro nacional do PSD, Carlos Moedas, e do presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, numa conferência moderada por Sérgio Humberto sobre o poder local, o Plano de Recuperação e Resiliência e a descentralização. Na plateia estava ainda o eurodeputado Paulo Rangel, que é também um dos vices de Montenegro e um dos nomes mais defendidos no PSD para a Câmara do Porto, nas próximas eleições autárquicas, que se realizam em 2025 e em que Rui Moreira já não será recandidato.

O Nascer do SOL contactou Paulo Rangel, que recusou comentar qualquer tipo de cenário.

Em setembro, Luís Marques Mendes também já antecipava ao i que, ao fim de três mandatos do independente, se abria uma possibilidade para o PSD recuperar a Câmara Municipal do Porto.

A aposta em Rui Moreira para as europeias é também entendida pelos sociais-democratas como forte pelo seu perfil de independente. Isto porque entre as principais dificuldades que o PSD enfrentará está um PS alcandorado numa maioria absoluta, um Chega e uma Iniciativa Liberal com ímpeto de eleger o seu primeiro eurodeputado e um CDS que procura nas europeias que o eleitorado centrista lhe dê novo palco no Parlamento Europeu, após ter desaparecido da Assembleia da República.

É neste panorama que Rui Moreira como independente pode capitalizar, roubando eleitorado ao PS e a outros. Se por um lado pode condicionar a Iniciativa Liberal ou o CDS, pode também federar o espaço de centro-direita para fazer frente ao PS de António Costa. Um dos cenários que começam a ser desenhados é uma coligação pré-eleitoral PSD, IL e CDS, encabeçada por Rui Moreira, sobretudo porque o autarca é próximo de Montenegro e conta com o apoio dos outros dois partidos no executivo municipal do Porto.

Confrontada pelo Nascer do SOL com esta hipótese, a nova direção da IL rejeita-a e remete a resposta para a moção de estratégia global que Rui Rocha, o novo líder dos liberais, levou à convenção nacional no passado mês de janeiro.

«A Iniciativa Liberal deverá concorrer a este ato eleitoral [eleições europeias] de forma autónoma, rejeitando acordos ou coligações eleitorais de qualquer tipo», lê-se na moção que foi aprovada.

Já do lado dos democratas-cristãos, parece haver mais abertura. Ao Nascer do SOL, o presidente do CDS disse não querer para já comentar esse cenário: «Só falarei de europeias quando o ciclo se abrir». Nuno Melo, que até aqui sempre afirmou que o CDS ia sozinho a votos nas europeias para fazer «prova de vida», agora já não é tão rápido a fechar a porta a uma coligação de centro-direita.