Se não foi o PS a lançar o tema do preço de um palco da Jornada Mundial da Juventude, agarrou-o com as duas mãos.
Num momento em que surgiam diariamente na imprensa casos comprometedores para o Governo, aparece de repente uma notícia dizendo que um palco construído para um evento religioso custa 5 milhões de euros.
Todos nos surpreendemos: 5 milhões por um palco?
Pensámos naqueles palcos dos concertos, que devem custar vinte ou cinquenta vezes menos, e concluímos: não pode ser.
É engano ou é um roubo.
Acontece que não se tratava de um palco qualquer.
Nem era, sequer, propriamente um palco.
Era uma gigantesca estrutura com capacidade para receber duas mil pessoas.
E aí o caso muda de figura.
Se uma moradia em Portugal custa hoje com facilidade mais de um milhão de euros, como estranhar que uma obra de tamanha envergadura custe 5 milhões?
Não sendo realidades comparáveis, dá para fazer uma ideia…
O que pode perguntar-se é se seria mesmo necessária uma obra tão grande.
Mas isso é outra conversa.
O problema desta Jornada não são os 5 milhões que o palco custa.
Isso são peanuts, em face do investimento total e do retorno provável.
O grande problema que esta notícia revelou foi a irresponsabilidade de toda a gente envolvida no processo.
De repente, ninguém sabia o preço da obra: nem o Presidente da República, que tem apoiado o evento, nem o bispo que o organiza, Américo Aguiar, nem o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (que o paga).
Isto é de bradar aos céus!
A 180 dias da inauguração da Jornada todos vêm dizer, com a maior candura, que não sabiam de nada!
Que desconheciam o valor – dando a entender que, se o conhecessem, teriam bloqueado o processo.
Como pôde isto acontecer? Como é que uma iniciativa que está decidida há três anos chega a esta altura neste estado?
Como é que um acontecimento que envolveu todos os poderes públicos e a Igreja Católica chega a 180 dias da abertura com toda a gente a dizer que desconhece o projeto ou mesmo a pô-lo em causa?
A questão, neste momento, não é saber se os palcos são caros ou baratos, bonitos ou feios, reutilizáveis ou não.
Não é saber se o investimento será ou não compensador – isso só se saberá depois, embora em todos os países onde o evento se realizou o retorno tenha sido enorme.
A questão neste momento é saber se, com todo este falatório, com todo este circo montado, com todo este desconhecimento que os supostos responsáveis revelaram, com todas as ‘revisões’ do projeto que se exigem, a obra vai estar pronta a tempo.
Todos os que agora disseram desconhecer o que se passava deram mostras de uma grande imaturidade, uma grande irresponsabilidade e uma grande falta de coragem.
Pôr em causa o projeto neste momento é inadmissível.
Um projeto desta envergadura não se pode mudar de um dia para o outro.
É uma tarefa morosa, que envolve muitas especialidades, muitos estudos, muitos técnicos.
As críticas que agora se fazem, a fazerem-se, deveriam ter sido feitas há muito tempo.
Se o não foram, foi exatamente por desleixo dessas pessoas.
Ora, é aceitável que quem até agora não se interessou pelo assunto venha manifestar discordância e descartar responsabilidades?
Carlos Moedas foi o único que teve a reação certa; disse: vamos em frente, eu estou aqui para fazer, o que é preciso é ter isto pronto, assumo pessoalmente a coordenação.
Quanto aos outros, cederam à pressão mediática e ao medo de serem impopulares.
O Presidente da República, que exultou com a realização em Portugal da Jornada, foi o primeiro a pôr-se de fora.
O Governo português não quis saber do problema e nomeou para seu representante na obra um homem que não assumiu quaisquer responsabilidades: José Sá Fernandes.
O Patriarcado, que patrocina o evento, não sabia o que se passava, e o bispo designado para o liderar, Américo Aguiar, veio dizer que o custo do palco lhe «doeu».
Pelo caminho, Marcelo Rebelo de Sousa desmentiu o Patriarcado, e o bispo fez o mesmo, dando razão ao Presidente contra o chefe da Igreja.
Todos ficaram muito mal na fotografia!
Todos manifestaram por um dos maiores eventos que têm tido lugar em Portugal um inadmissível desinteresse – e só se preocuparam quando um jornal divulgou o preço de um palco.
Ou seja: desprezaram a iniciativa e só tiveram a preocupação de se defender a si próprios.
O que dói, neste caso, não é o preço do palco: é ver tanta irresponsabilidade, tanta falta de brio, tanto desleixo, tanto medo de ser impopular, tanta falta de coragem.
Os 5 milhões, ao pé disto, não têm qualquer importância.