Os desejado

Na realidade, tem havido livros que persigo obstinadamente. Alguns, mais cedo ou mais tarde, acabam por aparecer. É o caso do esgotado Renascimento e Renascimentos na Arte Ocidental, de Erwin Panofsky. 

Uma vez por ano, quando o meu amigo Pedro vem cá a casa para o aniversário do seu afilhado, subimos a escada e conversamos um pouco no recanto onde montei o meu escritório. Ou melhor, como ele fala ainda menos do que eu, normalmente sou eu que faço as despesas da conversa, que ele vai alimentando com umas quantas perguntas (que desconheço se faz por interesse genuíno ou mais por cortesia).

Da última vez que cá esteve, perguntou-me no final de um desses pequenos colóquios: «Então, e há assim algum livro de que andes atrás há muito tempo e te continue a escapar?». Como não sou bibliófilo, não persigo edições raras nem nada que se pareça, a minha primeira reação foi dizer que não. Depois pensei melhor.

Na realidade, tem havido livros que persigo obstinadamente. Alguns, mais cedo ou mais tarde, acabam por aparecer. É o caso do esgotado Renascimento e Renascimentos na Arte Ocidental, de Erwin Panofsky. Segundo este grande historiador da arte alemão, antes do Renascimento propriamente dito (com origem na Itália do século XV), houve ainda na Idade Média outros períodos de reabilitação da Antiguidade clássica. Uma tese revolucionária.

Outro livro de que andei muito tempo à caça foi A Realidade do Artista, uma reunião de textos de Mark Rothko, o expressionista abstrato natural da Letónia que se suicidou em Nova Iorque, em 1970, quando era um artista consagrado.

Finalmente lá apareceu um exemplar, e logo percebi que pertence a uma coleção excecionalmente bem selecionada da extinta editora Cotovia. Além desse, a coleção inclui, que eu saiba, seis outros títulos: Histórias de imagens, de Robert Walser; Quando eu era fotógrafo, de Félix Nadar (em cujo estúdio se realizou a primeira exposição dos impressionistas); A prática da arte, de Antoni Tàpies; Escritos sobre arte, de Paul Klee; Conversa com os estudantes das escolas de arquitetura, de Le Corbusier; e o clássico Ornamento e crime, de Adolf Loos.

É sem dúvida um belo ramalhete, que abrilhanta qualquer biblioteca de arte. Mas quantas horas tenho perdido para o compor! A Cotovia fechou as portas há uns anos e os seus livros parecem ter asas, de tal modo são difíceis de apanhar.