IL com tiques estalinistas

A agressão execrável a um nepalês merece a reprovação de todos, mas não queiram ver em tudo política. Por acaso viram a mão da extrema-direita noutro crime hediondo cometido por um grupo de adeptos do Benfica, que sodomizou com um taco de basebol um dos seus, só porque este tinha amigos do Sporting?

Confesso, só agora percebo o que Tiago Mayan, o candidato do Iniciativa Liberal à Presidência da República, e que tantos elogios recebeu, quis dizer quando se referiu a Cotrim de Figueiredo como o «cabecilha de um Comité Central», numa clara alusão ao funcionamento do PCP. Tenho boa opinião do antigo líder do Iniciativa Liberal, mas o que os seus ‘apoderados’, leia-se sucessores, estão a fazer no partido faz lembrar, de certa forma, o comportamento estalinista das lideranças do PCP. Saem notícias dos jornais que denunciam serviços e contratações familiares no partido, logo surge a caça às bruxas. Dispara-se em todas as direções com o desejo de limpar o partido de potenciais denunciadores. O que, como sabemos, raramente funciona, pois os ‘estalinistas’ de serviço ficam cegos e não percebem que há muita gente que não gosta de ver num partido liberal as práticas seguidas por partidos como o PCP, onde os contestatários foram todos expulsos. No caso do IL, vão ter de despedir e expulsar muito mais gente até terem a certeza de que fizeram a ‘limpeza’ necessária.

Há dias encontrei um ilustre advogado que tem um dos processos mais mediáticos em mãos. «Então, agora não noticiam que já só temos uma acusação e estamos em vias de a ganhar?», disparou. «Vocês só querem noticiar o que está mal, mas agora vou ficar à espera para ver se dão conta destes factos». O encontro foi tão rápido que nem tive tempo de pedir que me explicasse como é que ‘tinham’ arquivado os vários processos em que o seu cliente é acusado. Conhecendo o historial do seu cliente, fiquei sem palavras e sem perceber se o advogado acredita mesmo no que me estava a dizer. E aqui fiquei a pensar que, cada vez mais, há pessoas que acreditam numa mentira de tal forma que a transformam em verdade. Por defenderem os maiores pilantras, começam a acreditar na verdade deles. Não sei se é um síndrome de Estocolmo ao contrário, mas que é confuso, lá isso é. As pessoas quando repetem tantas vezes a mentira como sendo verdade, às vezes são apanhados a mentir quando se descuidam e dizem a verdadeira verdade. Confusos? Eu também. Quantas pessoas não assumem a pés juntos que jamais disseram ou fizeram algo, só porque estão embrulhados entre a mentira e a verdade? Claro que estou à espera que o advogado consiga provar o que disse, mas é melhor esperar sentado.

Nos últimos dias foi notícia uma agressão bárbara a um imigrante em Olhão, e logo se gritou racismo, xenofobia e a palavra extrema-direita soou alto. Ainda não percebi o interesse da extrema-esquerda estar sempre a ver a mão da extrema-direita em tudo o que mexe. A agressão execrável a um nepalês merece a reprovação de todos, mas não queiram ver em tudo política. Por acaso viram a mão da extrema-direita noutro crime hediondo cometido por um grupo de adeptos do Benfica, que sodomizou com um taco de basebol um dos seus, só porque este tinha amigos do Sporting?

Antes de perceberem o que estava em causa, já gritavam que a extrema-direita é a culpada, como se houvesse um Mário Machado em cada esquina. Pelo que já se percebeu, no caso de Olhão, tudo não passa de um grupo de selvagens que assalta, com recurso a uma violência extrema, pessoas indefesas. E o Presidente da República ter dado a conhecer o rosto do rapaz barbaramente agredido, até pode ter contribuído para que a sua vida fique mais complicada. Marcelo Rebelo de Sousa terá tido a melhor das intenções, mas, às vezes, é preciso parar um pouco para se ajudar quem verdadeiramente precisa. O Presidente da República bem podia ter mandado algum representante falar com a vítima, sem a expor ao olhar de potenciais selvagens. E quem irá agora dar emprego à vítima, temendo represálias de um grupo que se diz nada ter a ver com a extrema-direita, e que não passa de um bando de arruaceiros que precisa de responder perante a Justiça?

 

vitor.rainho@nascerdosol.pt