Não há alternativa?

Não há alternativa à má governação de António Costa porque ninguém seria capaz de fazer pior. E isto é, obviamente, um elogio. As competências necessárias para ser excelente não são superiores às competências requeridas para ser péssimo. Se é preciso muito trabalho para atingir o topo, também é necessário grande esforço para bater no fundo.…

por João Cerqueira

A frase que mais se ouve entre os comentadores políticos, Presidente da República e Fernando Rocha incluídos, é «não há alternativa» ao Governo de António Costa. Ora como o país chegou a um estado de caos e barafunda como não acontecia desde Vasco Gonçalves – com a ressalva de que no tempo deste os hospitais funcionavam e eram os alunos que faziam greves e demitiam professores –, demorei a atinar com o sentido da frase. Pensei que ela não poderia estar relacionada com a degradação dos serviços públicos, a estagnação económica, o empobrecimento dos portugueses, as demissões sucessivas, o aproveitamento da política para enriquecer e a corrupção. Afinal, é difícil conseguir piores resultados.

No entanto, o sentido sibilino da frase é mesmo esse.

Não há alternativa à má governação de António Costa porque ninguém seria capaz de fazer pior. E isto é, obviamente, um elogio. As competências necessárias para ser excelente não são superiores às competências requeridas para ser péssimo. Se é preciso muito trabalho para atingir o topo, também é necessário grande esforço para bater no fundo. Não é para todos.

Por exemplo, Vasco Gonçalves era mau em quase tudo, mas, quanto aos serviços públicos, não conseguiu atingir o patamar de péssimo. Ele bem tentou, mas faltava-lhe a centelha da genialidade que ilumina os grandes homens que são capazes de construir do nada ou arrasar tudo em volta. Em suma, o que não faltam são governantes maus, medíocres, assim-assim, sofríveis. Contudo, o governante péssimo que encontra forma de pôr um país de cangalhas é raro. É a tal lotaria genética que faz emergir um génio em cem milhões de seres humanos. Um génio péssimo.

António Costa tem-se revelado esse génio da péssima governação e, por isso mesmo, a sua popularidade tem caído a pique.

E chegamos agora à questão de se Luís Montenegro, fazendo ou não uma Direitonça, conseguiria também ser péssimo? Julgo que não. Haveria na mesma demissões no seu Governo por suspeitas de corrupção e condutas eticamente duvidosas, sem dúvida, mas não o vejo capaz de ficar sem treze secretários de Estado e ministros num período de dez meses, muito menos de enterrar mais biliões de Euros na TAP ou aumentar ainda mais os impostos. Sem querer ser indelicado para com Montenegro, devo dizer que não lhe reconheço genialidade para tanto. Seriam forçados a demitir-se dois ou três Secretários de Estado, talvez, alguns colaboradores que beneficiaram de informações privilegiadas, outro apanhado a guiar com os copos, outro ainda por assediar algum rabo de saias ou calças, e pouco mais para um país cuja ética republicana se confunde com uma plantação de bananas. Montenegro tão pouco teria genialidade para conseguir fechar mais serviços hospitalares, colocar mais professores na rua e impedir que mais alunos tivessem aulas. E não seria decerto no seu Governo que seriamos ultrapassados pela Albânia ou pelo Montenegro.

Assim sendo, só posso concordar com as análises certeiras de não haver à Direita a mais ténue alternativa à catastrófica governação de António Costa. Ele é o grande génio da desgraça. Montenegro, um amador. Seria preciso que o líder do PSD conseguisse convencer José Sócrates a assumir a pasta das Finanças, Ricardo Salgado a da Justiça, a alma-penada de Alves dos Reis a da Economia, o capitão Haddock para lidar com os professores, Oliveira da Figueira para salvar o Sistema Nacional de Saúde, Bruno Aleixo a coordenar as polícias, e eu próprio como ministro da Cultura com direito a uma secretária tipo coelhinha do Playboy (não, duas) e a uma indemnização à moda da TAP se me demitissem, para isto ficar ainda pior.

A vida é dura, as coisas são como são, e o importante é ter saúde, amar o próximo e sermos felizes.

Dito isto, António Costa pode realmente ser destronado como um dos piores governantes de sempre. Há, sim, alternativa. Há alguém que já demonstrou ser ainda mais genial do que ele. Um temível rival prepara-se para o enxotar e tentar bater todos os recordes de péssima governação e desastre. A sombra de Pedro Nuno Santos, com um capuz negro e uma gadanha na mão esquerda, paira sobre as nossas cabeças.