O abraço de Marcelo

Os políticos teimam em não perceber que os imigrantes não podem ser a solução para os nossos problemas de falta de mão-de-obra ou definhamento da população. Quanto mais imigrantes entram, menos os nacionais são incentivados a trabalhar. É um ciclo vicioso.

Fareed Zakaria é um conhecido colunista a apresentador televisivo norte-americano, de origem indiana. O seu programa semanal na CNN começa com o resumo de um artigo que assina no The Washington Post sobre um tema de atualidade.

Uma destas semanas era sobre a imigração para os Estados Unidos e a Europa.

Tenho escrito frequentemente sobre este tema – e, ao escutar Zakaria, parecia estar a ouvir ler um texto meu, tal era a similitude dos argumentos.

Zakaria não é um homem de direita, muito pelo contrário. Mas alertava para os perigos da imigração nos EUA e na Europa. Falava na imigração ilegal, nas redes clandestinas, nos conflitos sociais que provoca. Dizia textualmente que já 70% dos eleitores conservadores americanos veem a imigração como uma «invasão», e classificava o fenómeno como uma «bomba relógio». Recordo que já lhe chamei uma «invasão silenciosa», que se arrisca a fazer da Europa um «barril de pólvora».

Como eu, o apresentador adiantava, como também tenho escrito, que a imigração para o Ocidente é a principal responsável pelo aparecimento aqui de partidos da extrema-direita.

Isto acontece, naturalmente, porque os partidos do sistema não são capazes de enfrentar o problema.

Ainda um destes dias, Carlos Moedas falou na limitação da entrada de imigrantes aos que têm contratos de trabalho – e vieram logo os socialistas e o Governo chamar-lhe todos os nomes. Ao mesmo tempo, Marcelo foi ao Algarve pedir desculpa a um imigrante nepalês que tinha sido agredido, dando-lhe um abraço. E Marques Mendes elogiava o ato e dizia que «precisamos dos imigrantes» e, por isso, «temos de os tratar bem».

Assim, com esta ligeireza, arrumava o problema. É por isso, repito que a extrema-direita cresce.

Os políticos do sistema teimam em não perceber que os imigrantes não podem ser a solução para os nossos problemas de falta de mão-de-obra. Não há gente para a construção civil, ou para a hotelaria, ou para empregados de balcão, ou para varredores e jardineiros? Não há crise: chamam-se imigrantes. A pouco e pouco, os portugueses vão escasseando no mercado de trabalho. Já porque as famílias não têm filhos e a população definha, já porque muitos em idade de trabalhar recebem o chamado RSI ou o subsídio de desemprego, fazem uns biscates e vivem assim. E quanto mais imigrantes entram, menos os nacionais são incentivados a trabalhar. É um ciclo vicioso.

Os problemas acumulam-se. Muitos imigrantes são escravizados, outros vivem em condições infra-humanas, habitando aos 15 e aos 20 em apartamentos para uma família. O estado social entra em situação de pré-falência, pois os imigrantes, tendo os mesmos direitos dos portugueses (o que é justo), engrossam as fileiras do RSI e do SNS.

Ora, será isto solução?

Por cada imigrante que chega e é autorizado a entrar vêm mais dez, e atrás destes dez vêm cem, e atrás dos cem vêm mil – e assim sucessivamente, numa corrente ininterrupta.

Ora, será isto sustentável?

É óbvio que os imigrantes têm de ser tratados com dignidade. São pessoas como as outras. Têm de ter direitos iguais. Mas para isso ser possível tem de haver controlo, não podemos ter uma política de «portas escancaradas», como uma vez disse Durão Barroso, pois isso cria problemas de toda a ordem como exploração desumana, implosão dos serviços sociais, conflitos raciais, já não falando da própria estrutura da população que se vai modificando.

Os políticos ignoram tudo isto. Por cobardia, ideologia ou ingenuidade, fecham os olhos e arrumam o assunto em duas palavras.

A imigração para o Ocidente não é solução para os problemas de falta de mão–de-obra ou queda da natalidade em cada país – pelo contrário, tende a tornar-se um dos grandes problemas dos tempos modernos, se não o principal. Por isso, não é possível fazer como Marcelo: dar um abraço a um imigrante espancado, pedir desculpa e achar que está tudo resolvido.

Não está!

É preciso ir à raiz do problema. Fomentar a natalidade dos portugueses – porque uma nação sem crianças é uma nação doente. Dar condições às famílias para terem filhos e os criarem. E depois controlar a entrada de imigrantes, com a certeza de que não serão explorados por redes clandestinas, não andarão a pedir pelas ruas, não viverão em casas superlotadas nem serão escravizados por empresários sem escrúpulos.

Assim é que estará certo!

Finalmente começa a discutir-se a este assunto, com Montenegro e Marcelo ao barulho. Ainda bem!