O século dos Direitos Humanos

O Papa Francisco, várias vezes, considerou que a III Guerra Mundial estava a acontecer aos poucos.

Hoje mesmo faz um ano do início da invasão russa ao território ucraniano. Este acontecimento que está a mudar a história das relações dos povos – de todos os povos e não apenas das relações entre a Ucrânia e a Rússia. Muitos leram o 11 de setembro como o acontecimento que marca o fim do século XX e o início de uma nova Era para a humanidade.

Sem dúvida de que a prosperidade e crescimento, bem como a confiança que se foi construindo entre as nações nos últimos setenta anos foi, de certa forma, abalada com este acontecimento e com os sucessivos ataques terroristas na Europa. 

No período de uma certa confiança entre os povos, e que cresceu na segunda metade do século XX, foram-se baixando as fronteiras e os muros entre os povos. A Europa foi construindo uma livre circulação de bens e de pessoas, sem passaportes, prescindindo quase por completo das suas fronteiras. Muitos dos países para lá da Europa foram fazendo acordos, prescindindo de vistos para a circulação livre de pessoas. 

A crise humanitária e os fluxos migratórios do final do século XX e início do nosso século levaram ao crescimento de nacionalismos e isolamentos culturais. Fora criticada a construção de um muro que separa Israel da Palestina, mas outros muros se começaram a levantar. Nos Estados Unidos foram-se construindo muros para evitar a entrada de imigrantes ilegais. A Inglaterra, sem dúvida, sai da União Europeia e, assim, restaura o muro fronteiriço que existia antes da sua entrada na Zona Euro. 

 

O Papa Francisco, várias vezes, considerou que a III Guerra Mundial estava a acontecer aos poucos e não de uma vez só, isto é, os conflitos e as tensões vão surgindo pontualmente ou concomitantemente entre as nações, mas o ambiente que se respira é, de facto, de uma tensão global. Alguns acharam exagerado, outros concordaram, mas o que é certo é que a humanidade, enquanto tal, está a caminhar para uma autodestruição de si mesma. 

De onde vem tudo isto? De onde vem? Porque é que não aprendemos com a I Guerra Mundial e menos de trinta anos depois iniciámos outra? Depois dos anos 60, com o lema ‘Peace and Love’, ainda nos digladiamos por um metro de terreno? Faz sentido a Rússia não cuidar da prosperidade dos seus cidadãos – onde muitos vivem abaixo do limiar da pobreza – e desejar anexar mais terreno e mais pessoas? De onde vem tudo isto?

 

Há um livro, de George Weigel, O Cubo e a Catedral, que faz uma leitura dos acontecimentos presentes muito crítica. O Cubo é a Sede dos Direitos Humanos que foi construída a partir das medidas da Catedral de Paris – aquela Notre-Dame que foi incendiada na segunda-feira da semana santa de há dois anos. De certa forma, o Cubo foi projetado para que dentro de si se conseguisse colocar a Catedral, no fundo para dizer que os Direitos Humanos são mais do que a Igreja.

 

Weigel argumenta o seguinte e que nos deve fazer pensar: o homem deixou Deus e passou a viver dos Direitos Humanos, mas, na realidade, o século dos Direitos Humanos – século XX – já viu duas Guerras Mundiais, genocídios fratricidas sem conta em África e na Europa, perseguições em massa de religiões e etnias. Mesmo sabendo que sob a autoridade das religiões, no passado, se fizeram atrocidades enormes, não deveríamos nós pensar em nos voltarmos novamente para Deus? Não precisaremos, nós, de um Pai comum que nos volte a dar um espírito diferente daquele que temos vivido?