O subaluga

Um Governo responsável deveria ter antecipado o fenómeno, devia ter construído com as Câmaras Municipais várias tentativas de solução.

Alguns meios de comunicação social trouxeram a memória de uma promessa do Governo feita muitos anos atrás.

Duvidei dela, na hora.

A mera ideia de utilizar uma fatia significativa do fundo de garantia da segurança social era um impedimento de credibilidade.

Quem, em perfeito juízo, o pensaria?

Mas a verdade é que foi aceite, discutido, louvado pela sua originalidade e tomado por bom na grandeza da solução que propunha.

Com o tempo percebeu-se não ter passado de uma ideia. Triste.

Denunciada a memória, reduziu-se o anúncio a uma estimativa de disponibilidade e a uma incapacidade manifestada.

É assim que se tem apreciado o problema da habitação.

Na hora da crise agudizada, a proclamação absurda.

Outras soluções anunciadas caíram por inanição. Foi o caso da Câmara de Lisboa de Medina quando anteviu o sucesso do recurso a subarrendamento para casas de renda limitada.

Quando o cúmulo das dificuldades acumuladas se verifica. Quando se manifesta a dramática descida da edificação, quando se verifica o crescimento das taxas de juro, quando o arrendamento perde gás e quando a perda de poder de compra e o desvalorizar dos salários se acentua, está criada a tempestade perfeita.

Ora, o facto é que este conjunto de acontecimentos se sucedeu já sobre a perceção da dificuldade.

Um Governo responsável deveria ter antecipado o fenómeno, devia ter construído com as Câmaras Municipais várias tentativas de solução.

Fez de conta.

E apresentou, contando com a bonomia própria do entusiasmo de uma Ministra sem experiência nem capacidade, um arrazoado de ideias.

Vê-se agora que não tinha estudos fundamentados nem números. 

Percebe-se que atropela direitos fundamentais.

Nota-se a contradição com objetivos económicos que atingem o turismo e o seu crescimento esperado.

Verifica-se como se encontra na situação de perfeita inconsideração da pressão imigratória e do correspondente aumento das habitações ilegais e do alojamento em condições de absoluta indignidade.

Durou poucos dias o fulgor do pacote de medidas.

Uma a uma vão caindo pelo caminho.

Em breve ficaremos reduzidos aos apoios às rendas e aos juros.

E toda a gente sabe, há anos, como isso é insuficiente.

Resultado: aqueles que realmente necessitam ficam sem resposta, os proprietários em pé de guerra, os investidores em desânimo e o Estado de braços caídos.

Mais uma vez se abre o campo ao populismo. Quando as respostas não são sérias, é assim.

Aumenta o ruído, desvia-se a atenção das impossibilidades do governo.

Nos dias seguintes, ainda o primeiro-ministro embarcou no espetáculo. Consta que cedeu ao entusiasmo. Recorre a charlas para militantes. Quer convencer os crentes.

E, todavia, muitos anos atrás tinha feito um intervenção muito interessante que as memórias exibiram. Em tom sereno, falando da reabilitação urbana, da necessidade do inventário dos prédios disponíveis públicos e privados. Da necessidade da disciplina dos investimentos e ajudas.

Parecia outro.

E era.

Nota-se uma debilidade geral e contagiosa.

Não há setor que se salve.

No domínio das propostas governativas a inventiva secou.

Ali não habitam as soluções.