Já nem sei o que hei de escrever sobre a TAP. Logo à partida, há uma constatação a fazer: a gestão pública não funciona.
Espero que os socialistas percebam de uma vez por todas que a intervenção do Estado na economia de uma forma geral só estraga.
Veja-se o que se passa com os hospitais onde havia parcerias público-privadas: funcionavam bem e hoje, depois de o
Estado assumir a sua gestão por inteiro, estão carregados de problemas.
Também por isso, olho com preocupação para esta nova lei da habitação.
As reformas de que o país precisa são no sentido de ‘menos Estado’ e não de ‘mais Estado’.
E talvez fosse bom o Governo começar por olhar para os edifícios públicos que tem ao abandono, antes de meter o nariz no património alheio.
Voltando à TAP, que foi privatizada por Pedro Passos Coelho e renacionalizada por Pedro Nuno Santos, vamos às responsabilidades pelo que lá está a acontecer.
O primeiro responsável é evidentemente Pedro Nuno Santos – que, ao reverter a privatização da companhia, assumiu o ónus de a gerir melhor.
Ora, neste momento, já lá foram enterrados quase 4 mil milhões de euros.
E foi ele quem autorizou a indemnização a Alexandra Reis, embora tenha começado por negar, num episódio lamentável.
E depois disso lavou as mãos, disse ‘tchau’, e o contribuinte que pague.
Já não é nada com ele.
As responsabilidades da CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, do chairman, Manuel Beja, e do ministro das Finanças de então, João Leão, são discutíveis, mas há uma que é indiscutível: a da própria Alexandra Reis.
É que ela tinha obrigação de saber que não podia receber aquele dinheiro.
Uma pessoa que seria depois nomeada secretária de Estado do Tesouro, era suposto conhecer bem as regras da administração pública.
Assim, ao receber o dinheiro indevidamente, não foi honesta.
Fez como alguém que, ao verificar que lhe deram dinheiro a mais num troco, se cala e mete o dinheiro ao bolso.
Mas há uma responsabilidade que tem sido pouco falada e não é menos importante.
Refiro-me à responsabilidade do Partido Socialista e dos seus deputados.
A bancada parlamentar do PS teve em todo este caso uma atuação deplorável, mostrando uma gritante falta de caráter.
Bloqueou o mais possível o esclarecimento do assunto.
Defendeu Pedro Nuno Santos até ao fim, mesmo quando eram já evidentes as suas responsabilidades.
Apoiou a secretária de Estado Alexandra Reis até ao último momento, mesmo quando já era claro que tinha recebido uma indemnização ilegal.
Mas fez pior do que isso. Na semana passada, pela voz do seu líder parlamentar, Eurico Brilhante Dias, veio tentar baralhar as coisas e lançar sobre o episódio uma cortina de fumo.
Num tempo em que os pedidos de desculpa estão na moda, a bancada do PS podia ter vindo penalizar-se, admitir que errou e pedir desculpa aos portugueses.
Mas não. Em lugar disso, veio denunciar uma suposta ilegalidade cometida na privatização da TAP pelo Governo de Pedro Passos Coelho, há sete anos.
Só agora, sete anos decorridos, é que o PS descobriu que houve uma ilegalidade na privatização…
É compreensível (embora pouco aceitável) que os deputados socialistas se demitam da sua função fiscalizadora e não queiram fazer o mínimo reparo ao Governo.
É também compreensível que façam coro com os ministros, dizendo ‘não’ quando um ministro diz ‘não’, e dizendo ‘sim’ quando o ministro dá meia volta e diz ‘sim’.
É ainda entendível que a bancada parlamentar do PS aceite ser, no seu conjunto, um capacho do Governo, que os ministros podem pisar a seu bel-prazer.
Tudo isto se pode entender.
Mas custa a aceitar que, numa altura como esta, em que o PS devia ser humilde, Eurico Brilhante Dias venha tentar lançar a confusão, atirar areia para os olhos das pessoas, tentar esconder no meio de suspeitas difusas um caso que é uma vergonha nacional: o pagamento de uma indemnização de meio milhão de euros a uma pessoa que saiu por uma porta do Estado e entrou por outra.
Será que, na bancada socialista, não havia ninguém com um pingo de coragem e dignidade para se opor a uma manobra tão obviamente rasteira?
E isto significa outra coisa: que o PS não está arrependido do que fez.
Não reconhece o erro que cometeu ao renacionalizar a TAP, numa operação que já custou uma fortuna ao erário público.
O mau da fita é Passos Coelho, que permitiu uma ilegalidade na privatização, e não António Costa e Pedro Nuno Santos, que a reverteram, com os belos resultados conhecidos.
Os contribuintes que paguem!
Se os elegeram, têm de arcar com o preço das suas decisões…