Operação Última Edição. “Se o senhor Jacques Rodrigues for a tribunal, encontramo-nos à porta”

A PJ está a realizar buscas na sede do Grupo Impala, em Sintra, mas também a outros a escritórios de empresas e às casas dos suspeitos (como na Quinta da Marinha, em Cascais, onde reside Jacques Rodrigues).

"Trabalhei na Impala durante quase 20 anos e o meu antigo patrão deve-me mais de 15 mil euros. Só sei que não vou desistir enquanto não vir o dinheiro", diz Sofia (nome fictício), em declarações ao Nascer do SOL, antiga funcionária do grupo – onde a Polícia Judiciária (PJ) esteve a fazer buscas – cujo dono, Jacques Rodrigues, foi detido esta quinta-feira, assim como o filho, Jacques Gil Rodrigues. "Se o senhor Jacques Rodrigues for a tribunal, encontramo-nos à porta. Tanto eu como os meus colegas não vamos continuar calados como estivemos todos estes anos", sublinha.

Tanto o proprietário como o filho são suspeitos dos crimes de corrupção, burla qualificada e falsificação. Em causa estão dívidas no valor de 100 milhões de euros a credores, como avançou em primeira mão a revista Visão. Segundo a mesma fonte, a investigação começou após uma queixa-crime apresentada por um ex-trabalhador do Grupo Impala no DIAP de Sintra, acerca de suspeitas de burla qualificada, insolvência dolosa e corrupção no âmbito de processos de falência ligados a várias sociedades do grupo.

Tal como Sofia, também Teresa (nome fictício) não pretende ficar no seu canto sossegada. É que 25 anos após ter entrado na sede pela primeira vez, e seis depois do seu último dia de trabalho, quer os 10 mil euros que lhe são devidos. "Não dizer nada? Era só o que faltava!", exclama. "Espero que esse senhor e o filho dele sejam presos: mas que seja feita justiça e fiquem atrás das grades durante muitos anos. Destruíram a vida de trabalhadores e, inclusivamente, de famílias inteiras. Há quem tenha ficado sem dinheiro para comer por causa deles. Vou lutar por mim e por aqueles que não têm voz", salienta.

O seu colega Ricardo (nome fictício) tem os mesmos desejos, mas menos esperança: "Eles são poderosos. Daqui a uns tempos ninguém se lembrará de que isto aconteceu e os nomes deles estarão limpos ou, pelo menos, continuarão a fazer as suas vidinhas de luxo como se nada fosse", prevê. "É uma tristeza", lamenta, concluindo: "Não sei se alguma vez receberei os meus 6 mil euros. Os Processos Especiais de Revitalização foram pedidos, iniciados há quase dez anos e as dívidas continuam sem ser pagas".

Importa referir que, conforme avançou a Sábado, um grupo de 27 credores/trabalhadores da Descobrirpress – declarada insolvente no passado mês de outubro -, a dona da Impala, informou que a empresa omitiu que em 2020 levou a cabo um despedimento coletivo e frisam que a empresa conseguia, através de transações milionárias entre as empresas do grupo Impala, transformar dívidas em capital. 

Em comunicado, a PJ adiantou que foram ainda detidos um advogado, um revisor oficial de contas e um administrador de insolvência, suspeitos de terem auxiliado o plano do dono do Grupo Impala, que nos últimos anos resistiu a vários processos de insolvência. A investigação concluiu que Jacques Rodrigues desviou património das empresas para a sua família, prejudicando, vários credores das empresas do Grupo Impala. Só aos trabalhadores terá ficado a dever mais de 38 milhões de euros.

Segundo a PJ, "em causa está uma investigação criminal cujo objeto visa um plano criminoso traçado para, entre o mais, ocultar a dissipação de património, através da adulteração de elementos contabilísticos de diversas empresas, em claro prejuízo de diversos credores, v.g., os trabalhadores, fornecedores e o Estado, estando reconhecidos créditos num valor total de cerca de 100.000.000,00€ (cem milhões de euros)". "Acresce a forte indiciação do desvio de valores com origem nas estruturas societárias, para fora do território nacional, num montante global que ascenderá a largas dezenas de milhares de euros", lê-se ainda.

De acordo com a mesma autoridade, "a operação em causa, designada ‘Última Edição’, contou com a colaboração de diversas Unidades Nacionais, DLVT, Departamento de Investigação Criminal da Madeira e, ainda, com o apoio pericial da Unidade de Perícia Tecnológica e Informática e da Unidade de Perícia Financeira e Contabilística, da Polícia Judiciária, integrando mais de uma centena de investigadores criminais e peritos, para além de Magistrados Judiciais e do Ministério Público", sendo que "os detidos serão presentes no Tribunal de Instrução Criminal de Sintra, para realização do primeiro interrogatório judicial de arguidos detidos, visando a aplicação de medidas de coação tidas por adequadas".

A PJ está a realizar buscas na sede do Grupo Impala, em Sintra, mas também a outros a escritórios de empresas e às casas dos suspeitos (como na Quinta da Marinha, em Cascais, onde reside Jacques Rodrigues).