Um ano absolutamente horrível

António Costa não podia esforçar-se mais por reconciliar os portugueses com as maiorias absolutas… de Cavaco

O Governo de maioria absoluta de António Costa está a cumprir um ano – tomou posse a 30 de março de 2022 – e… pior era difícil. Dir-se-ia mesmo que só com muito esforço e propositada incompetência poderia lograr-se igualar tamanho desperdício de uma conjuntura política invulgar e de um conjunto de oportunidades financeiras (PRR e outros pacotes de fundos europeus) ímpares.

Faz agora um ano, António Costa prometia reconciliar os portugueses com as maiorias absolutas e garantia no discurso da posse do seu terceiro Governo: «Esta maioria absoluta não vai ser como as outras».

As outras, de um só partido (a AD liderada por Sá Carneiro também as obteve em 1979 e 1980), foram as do PSD de Cavaco Silva em 1987 e 1991, e a do PS de José Sócrates em 2005. 

Na tomada de posse, Costa disse ao que pretendia vir: «Nestas eleições, os portugueses garantiram a estabilidade até outubro de 2026. Estabilidade não é sinónimo, porém, de imobilismo. É, sim, exigência de ambição, de oportunidade, de concretização». E acrescentou: «Saberemos ser uma maioria de diálogo, de diálogo parlamentar, de diálogo político, de diálogo social».

Até porque, garantia: «A maioria absoluta que nos foi concedida não significa poder absoluto, nunca poderia constituir e muito menos eu o poderia interpretar» – e lá tinha de vir o inevitável remoque a Cavaco Silva: «Faço parte de uma geração que se bateu contra uma maioria existente que tantas vezes a confundiu com poder absoluto». Para concluir:

«A maioria absoluta corresponde a uma responsabilidade absoluta para quem governa. À ausência de álibis e de desculpas».

Ora, neste ano passado, António Costa e os seus ministros e secretários de Estado fizeram tudo ao contrário. Tudo!
Cultura de exigência zero, a começar no próprio recrutamento dos seus ajudantes, a todos os níveis.

Ambição não se percebe qual seja, a não ser a do agravamento da subsidiodependência de um Estado assistencialista em que a pobreza se generaliza e as barracas regressam aos arredores das principais cidades já a braços com gritantes problemas de gente sem abrigo ou capacidade de autossubsistência.

A oportunidade, da tão propalada ‘bazuca’ a somar aos tantos outros milhões de fundos das agendas para a década, está a desperdiçar-se à vista de toda a gente. E o primeiro-ministro, apesar de todos os alertas e avisos, continua a assobiar para o lado.

Porque, diga o que disser, concretização é o que não há. Nem capacidade para…

O estado da Nação – e das funções do Estado – bateu no fundo. Na Saúde, na Educação, na Justiça, na Defesa…
Está tudo de pantanas e não há a mínima expectativa de melhoras ou de soluções.

Já quanto ao prometido diálogo – parlamentar, político e social –, o pacote da habitação é o mais recente exemplo de que só serve de álibi e de desculpa. As tais que Costa prometeu que não existiriam na ‘sua’ maioria absoluta.
Promessas vãs, como a da ‘responsabilidade’.

António Costa já não ouve ninguém. Limita-se a responder a quem o critica ou ao seu Governo. Seja Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, os manifestantes que protestam nas ruas ou a oposição.

Quando nada faz nem diz perante dirigentes do seu partido que abandonam a sala onde um ex-Presidente da República aponta as falhas às propostas do Governo, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS presta mais um mau serviço à democracia e à defesa das virtudes das maiorias absolutas.

É falta de humildade e de cultura democrática, uma ofensa ao pluralismo e ao debate politico, um ataque aos direitos, liberdades e garantias basilares.

Se António Costa queria reconciliar os portugueses com as maiorias absolutas, conseguiu-o, sim, mas apenas com as de Cavaco Silva da segunda metade da década de 80 e da primeira da década de 90 do século passado – único período pós-revolução em que Portugal convergiu com a Europa, investiu em infraestruturas, no desenvolvimento e no progresso.

Porque nas maiorias de Cavaco Silva, independentemente dos muitos erros que obviamente tiveram – e sobretudo na sua fase final –, havia um rumo e uma ideia para Portugal e, por isso, foram empreendedoras e concretizadoras. A maioria de António Costa, infelizmente para o país e seu povo, é em tudo o oposto.

Entre esta e aquelas há apenas um elemento em comum: é que esta começa com todos os erros e equívocos que conduziram ao fim daquela (até no tabu do líder sobre as suas ambições políticas futuras).
Enfim, um ano para esquecer. Ou melhor, não.