Catarina, a quinta coluna do mercado

Para uma dirigente de um partido que condena o capitalismo e a União Europeia, além de participar em manifestações contra os proprietários, o Alojamento Local e a especulação imobiliária, esta atração por um dos negócios capitalistas mais bem sucedidos em Portugal, justamente o do Alojamento Local, pode parecer estranha.

por João Cerqueira

Mesmo antes de um vereador do BE na Câmara de Lisboa se ter dedicado à especulação imobiliária, a coordenadora Catarina Martins já investia forte numa atividade que, segundo o seu partido, se enquadra no ramo: o Alojamento Local. Citando o Expresso, «Catarina Martins fundou a Logradouro Lda. com o marido há quase dez anos e foi sócia-gerente da empresa até final de 2009, momento em que assumiu funções como deputada em regime de exclusividade». Atualmente, Catarina Martins detém apenas 4% do negócio, pertencendo o resto aos sogros, num total de cinco casas. Segundo o ECO «a empresa conseguiu aprovar, no final de setembro de 2009, um projeto de recuperação e reconversão de antigos palheiros para turismo rural no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e recebeu um incentivo comunitário de 137,3 mil euros». O preço por noite ronda os módicos 120 Euros.

Para uma dirigente de um partido que condena o capitalismo e a União Europeia, além de participar em manifestações contra os proprietários, o Alojamento Local e a especulação imobiliária, esta atração por um dos negócios capitalistas mais bem sucedidos em Portugal, justamente o do Alojamento Local, pode parecer estranha. Ou incoerente. Ou hipócrita. Mas não é. Fonte oficial do BE explicou que «o turismo em espaço rural fixa habitantes e combate a desertificação em regiões como a do Sabugal».

É uma explicação correta, embora fixe mais turistas do que habitantes, mas não conta toda a verdade. A verdade é que Catarina é uma infiltrada na extrema-esquerda e dedica-se a atividades capitalistas para mostrar aos jovens bloquistas que, sim, há outro caminho. Passada a doutrinação nos acampamentos de Verão, há oportunidades de negócio.

Catarina Martins acredita no potencial do ser humano para singrar na vida sem depender do Estado. Dito de outra forma, Catarina acredita no sistema capitalista, tira partido das ofertas do mercado e dedica-se àquilo que melhor sabe fazer: ganhar dinheiro. Fá-lo, aliás, com classe, pois as imagens no Booking dos palheiros transformados em chalés do Sabugal mostram um trabalho de arquitetura que respeitou a herança vernácula e valorizou o espaço com uma decoração de bom gosto. A combinação da pedra com a madeira, o mobiliário antigo, as camas de ferro, os pratos de cerâmica nas paredes e a cor vermelha escura das portas e das janelas resultam numa combinação sublime. Ou seja, aqueles palheiros/chalés são realmente extraordinários, do melhor que há no mercado. Tomaram muitos empresários do ramo, e até decoradores, terem a sensibilidade estética e o amor pelo campo de Catarina.

Todavia, tendo em conta as suas atividades políticas, poderia valorizar ainda mais o complexo do Sabugal criando um projeto híbrido de Capitalismo e Comunismo. Um dos chalés passaria a chamar-se o palheiro Trotsky e, em vez dos bonitos pratos de cerâmica, estar decorado com obras da sua amante Frida Kahlo e do marido desta Diego Rivera, outro infiltrado no Comunismo que viveu sempre como um burguês. E a obra central do palheiro Trotsky seria o mural O Homem Controlador do Universo criada para o Rockefeller Center em Nova Iorque, onde Rivera contrapõe o Capitalismo repressor ao Comunismo humanitário, mostrando figuras como Marx, Lenine e Trotsky. Com o palheiro Trotsky, o complexo de Alojamento Local do Sabugal transformar-se-ia não apenas num magnífico exemplo de preservação das tradições locais e requinte arquitetónico, como também numa lição da história do século XX, das suas contradições e dos seus pantomineiros.

Obviamente que no palheiro Trotsky os preços não poderiam ser uns míseros 120 Euros por noite. Para um sítio daqueles, que logo se tornaria numa Meca semelhante ao mausoléu com a múmia de Lenine, o triplo seria o mínimo aceitável. Senão, qualquer turista de classe média podia ir para lá com a família. Acaso, deseja Catarina que gente que nunca ouviu falar de Marcuse e Gramsci, que gosta de cinema com pipocas e passeia aos fins de semana nos centros comerciais, invada aquele santuário? O local destina-se a especuladores financeiros com remorsos, empresários em busca de emoções fortes e professores de Sociologia que doutrinam os alunos e assediam as alunas.

Existem dois Marx Hotel, um na Holanda e o outro nos Estados Unidos, criados também por infiltrados em partidos comunistas que se dedicam a atividades capitalistas. Porém, nenhum deles se poderia comparar ao palheiro Trotsky. Nem sequer uma foice e um martelo nas canecas de cerveja se atreveram a colocar. Em suma, amadores. Por estas razões, espera-se que o governo pegue na bazuca europeia, aponte uma mira de milhares de euros ao palheiro Trotsky e dispare. Então, sim, o turismo resultante fixará habitantes (de todo o lado, menos do Sabugal), combaterá a desertificação e, com toda a justiça, enriquecerá ainda mais os seus proprietários.