China liberta participantes em protestos contra estratégia ‘zero covid’

O protesto em Pequim atraiu pessoas que queriam homenagear as vítimas do incêndio em Urumqi. Alguns participantes seguraram folhas de papel em branco, numa crítica implícita à censura imposta pelo regime.

As autoridades de Pequim libertaram hoje sob fiança quatro mulheres que foram detidas por participarem nos protestos contra a estratégia 'zero covid', em novembro passado, revelou um ativista chinês.

Uma das mulheres, a ex-editora de livros Cao Zhixin, gravou um vídeo antes de ser detida, onde afirma: "Se estás a ver este vídeo, significa que fui levada pela polícia".

Li Yuanjing, Zhai Dengrui e Li Siqi, amigos de Cao, foram também detidos, em Pequim, em dezembro passado, e acusados de "provocar brigas e desacatos", uma acusação vaga, que é frequentemente usada na China contra dissidentes políticos, segundo a organização Observatório dos Direitos Humanos (ODH).

Elas foram libertadas hoje, sob fiança, de acordo com um ativista chinês, que falou sob condição de anonimato por medo de represálias do governo.

Cao e um grupo de amigos juntaram-se a um protesto que fez parte de uma explosão de manifestações em todo o país, contra a altamente restritiva política de 'zero casos' de covid-19.

Os protestos, que foram uma rara demonstração de desafio direto ao Partido Comunista Chinês, partido único do poder na China, desde a fundação da República Popular, em 1949, foram suscitados por um incêndio mortal, num prédio na cidade de Urumqi, no noroeste da China.

Imagens difundidas nas redes sociais mostram que o camião dos bombeiros não conseguiu entrar inicialmente no bairro, já que o portão de acesso estava trancado, e que os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada, em resultado das medidas de prevenção epidémica.

Em Xangai, capital "económica" da China, os manifestantes gritaram palavras de ordem contra o Presidente chinês, Xi Jinping.

O protesto em Pequim atraiu pessoas que queriam homenagear as vítimas do incêndio em Urumqi. Alguns participantes seguraram folhas de papel em branco, numa crítica implícita à censura imposta pelo regime.

Cao disse que a polícia começou a deter manifestantes em meados de dezembro.

"Quatro dos nossos amigos já foram levados", disse então Cao. A polícia deteve Li Yuanjing, Zhai Dengrui e Li Siqi. Um quarto amigo, Yang Liu, também foi levado, mas foi libertado em janeiro, de acordo com o ODH.

"Nós preocupamo-nos com esta sociedade e, quando os nossos compatriotas morrem, queremos expressar os nossos legítimos sentimentos. Estamos cheios de simpatia por aqueles que perderam a vida", disse Cao, no vídeo.

Os protestos rapidamente diminuíram de intensidade, face a um reforço da presença policial. O governo abandonou a política de 'zero covid' e a polícia deteve um número desconhecido de pessoas que participaram dos protestos em várias cidades.