Pânico nas escolas: alimentar o monstro

É preciso manter a calma, a racionalidade e o respeito pelos outros, não divulgando, por exemplo, imagens perturbadoras ou informações falsas e alarmistas

No passado dia 19 o meu filho mais velho veio ter comigo e disse que no dia seguinte não queria ir à escola. «Ainda não viste as notícias? Amanhã é o dia do massacre de Columbine, vão fazer o mesmo cá. Vê no TikTok!». Eu não tenho TikTok nem gosto da aplicação, mas nem foi preciso procurar porque quando peguei no telemóvel já tinha recebido centenas de mensagens de vários grupos do WhatsApp com o alerta. Paralelamente, nos grupos dos mais novos as mensagens proliferavam. Ninguém queria ir à escola!

Naturalmente a maioria dos pais estavam muito preocupados. Partilhavam imagens, mensagens e comunicados, muitos deles falsos, que encontraram na internet. Muitos ligaram à Polícia, que confirmou ter recebido um elevado número de chamadas e que dada a preocupação seriam tomadas medidas nas escolas no dia seguinte.

É suposto que as autoridades competentes investiguem ameaças deste género, tal como é natural que os pais fiquem preocupados. O pior é o que vem a seguir: o alarmismo, o terror, o pânico. A partilha em massa de todo o tipo de conteúdos sem filtro, sem a preocupação de se saber se são verdadeiros, faz com que, sem nos apercebermos, não só sejamos vítimas destas pessoas mal intencionadas mas também o veículo desta informação destrutiva.

Infelizmente a velocidade com que a internet faz correr as notícias funciona tanto para o bem como para o mal e em situações como esta basta alguém lembrar-se de fazer uma ameaça – que pode não passar de um disparate de péssimo mau gosto – para se tornar uma avalanche que deixa todos aterrorizados. Se a ideia era assustar e lançar o pânico, o objetivo foi concretizado com sucesso. Embora não se deva deixar passar estas ameaças em claro – que infelizmente em algumas situações acabam por se concretizar – também não podemos ser movidos pelo medo, acreditar e partilhar tudo o que nos mostram e assim dar força a esta corrente de maldade. Sem nos darmos conta e muitas vezes com a melhor das intenções, passamos a fazer parte dela, espalhando o pânico e dando razões para que outros engraçadinhos façam o mesmo ao se apercebem de como é fácil gerar o medo na sociedade. Basta acender o fósforo e o rastilho seremos nós.

E o pior de tudo, naturalmente, é para as crianças e jovens que deixam de sentir a escola e o mundo como sítios seguros e começam a desenvolver receios desnecessários.

É preciso manter a calma, a racionalidade e o respeito pelos outros, não divulgando, por exemplo, imagens perturbadoras ou informações falsas e alarmistas. Estes alertas devem ser comunicados somente às autoridades, que tomarão as diligências necessárias. É essa a única forma de nos protegermos e de protegermos os mais vulneráveis, que acabam por ter acesso a tudo isso. Este tipo de mensagens e imagens deve ser eliminado imediatamente e não lhes devemos dar vida nem voz. Seja através das redes sociais ou dos meios de comunicação. Não queremos alimentar o monstro nem criar outros, desejosos de protagonismo, que nascerão ao assistirem ao sucesso deste.

Psicóloga na ClinicaLab 

Rita de Botton

filipachasqueira@gmail.com