Não perdemos de vista a nossa identidade

O Casal Saloio assume-se como um espaço em constante construção, cujo percurso expositivo procura destacar cada objeto, imagem ou texto selecionados como símbolos de um ofício ou hábito de vida.

por Carlos Carreiras

O Centro de Interpretação do Espaço Rural de Cascais, instalado no Casal Saloio, em Outeiro de Polima, Freguesia de S. Domingos de Rana, abriu portas a todos os que quiseram embarcar numa viagem de (re)descoberta da memória coletiva e a um passado que remonta há muitos séculos. O mundo rural e a cultura saloia fazem parte da memória e da identidade de Cascais.

A requalificação deste edifício histórico, que começou a ser construído no século XVI após ter sido alvo de sucessivas ampliações e reconfigurações até meados do século XX, permitiu a criação de um novo espaço dedicado à cultura saloia, em que as memórias da agricultura, da pecuária e da extração e preparação de pedra ocupam lugar de destaque e evidencia mais um equipamento cultural no nosso concelho, nomeadamente na Freguesia de S. Domingos de Rana. Um equipamento que respeita a nossa memória, a nossa identidade e onde os jovens podem visitar e conhecer vivências ancestrais.

Neste espaço, consagrado à (re)descoberta da história da nossa comunidade, simultaneamente lúdico e pedagógico, os visitantes poderão também tomar contacto com a(s) vivência(s) de uma família saloia, através da recreação de ambientes e da exibição de objetos etnográficos e arqueológicos que traduzem a antiga ruralidade do concelho de Cascais, nomeadamente na primitiva cozinha com forno. Garante-se, assim, a salvaguarda, valorização, comunicação e fruição da nossa memória coletiva, material e imaterial.

Tendo por missão a preservação, documentação, investigação e divulgação de objetos e testemunhos que enriqueçam o conhecimento acerca da população de Cascais ao longo dos séculos, apostar-se-á na interdisciplinaridade e na diversificação das coleções, bem como na contextualização dos usos, costumes e funções dos objetos em exibição.

Fazem parte do espólio do núcleo museológico do Casal Saloio doações feitas por particulares, como objetos arqueológicos e etnográficos das coleções da Câmara Municipal de Cascais – entre os quais constam doações de Celestino Costa, José d’ Encarnação, José Luís Duro, Manuel Pereira Moreira e Vítor Baptista dos Santos Encarnação –, o Centro exibe objetos da Coleção de Armando Freire (Caracol) e imagens cedidas por Guilherme Cardoso e Georgina Valente.

O Casal Saloio assume-se, desta forma, como um espaço em constante construção, cujo percurso expositivo procura destacar cada objeto, imagem ou texto selecionados como símbolos de um ofício ou hábito de vida.

Para além de estar aberto à comunidade, pretende também receber a população escolar, com visitas guiadas por marcação. A sua proximidade com a Villa Romana de Freiria faz deste novo equipamento uma nova centralidade cultural em Cascais na Freguesia de S. Domingos de Rana, que irá atrair muitos visitantes.

Durante a nossa luta contra todas as crises que têm surgido, e apesar do tremendo esforço que fizemos enquanto comunidade, não perdemos de vista a nossa cultura e a nossa identidade. Porque elas são as traves-mestras da nossa sociedade.

Com a abertura de mais este equipamento cultural e na sua relação com a preservação da nossa identidade, cumprimos também o suporte ao desenvolvimento de uma guerra ao desperdício, no caso de valores culturais e naturais, que nos fez lançar um programa agrícola, hortícola e vinícola que tem tanto de ambicioso como dos resultados já alcançados com a produção de vinho de Carcavelos, de hortícolas, de pomares e de produção de trigo barbela, produtos que têm vindo a ser munições contra a crise que se instalou no nosso território.