O Chega não chega

O Chega com a sua falta de seriedade e sentido de Estado não chega para governar nem chega para elevar nem enaltecer a política e os cargos políticos.

por Eduardo Baptista Correia

Ao escrever sobre o comportamento dos deputados do Chega durante a visita e discurso do Presidente do Brasil no passado dia 25 de Abril, na Assembleia da República, corro o risco de dizer que o ‘céu está azul’ quando efetivamente e à vista de todos o céu está mesmo azul.

O partido Chega tem, de uma forma consistente, dado voz a um conjunto de reclamações legítimas, justas e fundamentadas, partilhadas por uma proporção de portugueses maior que a sua própria base eleitoral. Tem, por outro lado, ao longo da sua curta vida apresentado também um conjunto de reclamações e sugestões as quais uma parte claramente maioritária do povo português recusa.

Este partido, que gira à volta de uma liderança centralizada e omnipresente, tem dado provas nos municípios onde elegeu, bem como nas regiões autónomas, de uma incapacidade para tomar medidas construtivas. Efetivamente para alem do protesto não se conhece ao partido Chega uma proposta de resolução dos gravíssimos problemas que assolam a economia portuguesa.

Considero que o Chega apresenta um conjunto de incoerências excessivas para quem, em tão pouco tempo, já tanto reclamou e acusou. O Chega vive, festeja e gasta por conta das subvenções políticas que, no discurso, aparenta criticar. Faz lembrar aquele membro da família que recebe mesada, reclama com tudo e com todos, não sabe comportar-se à frente dos convidados e, achando-se na plenitude dos seus direitos, envergonha, com gozo e prazer, o resto da família. A segunda fonte de grande incoerência passa pelo facto, indiscutível, deste partido ter como beneficiário efetivo o próprio Partido Socialista que apesar de no discurso aparentar ser o alvo das críticas, é quem mais beneficia do crescimento e consequente condicionante deste partido à criação de governo alternativo ao Governo socialista.

As atitudes protagonizadas pelo grupo parlamentar na Assembleia da República são uma demonstração da falta de respeito por Portugal e pelos portugueses. Correm o risco de colocar em situação difícil os milhares de portugueses que vivem e visitam o Brasil. O que é que isso importa ao Chega quando o que importa ao Chega é reclamar, fazer confusão, chamar à atenção e colocar todos a olhar e a falar do Chega?  A forma satírica e circense como irresponsavelmente atuam, no lugar de combater, protege a incompetência socialista.

O Chega só nas aparências chega para resolver problemas que os socialistas criam. É hoje a principal apólice de seguros do governo socialista. O Chega com a sua falta de seriedade e sentido de Estado não chega para governar nem chega para elevar nem enaltecer a política e os cargos políticos.  

O Chega e o seu líder fazem parte do problema, quando se esperava que fizessem parte da solução. Ao reverso do Presidente Zelensky, que fez um percurso do humorismo para a política, André Ventura aparenta um percurso da política para o humorismo. Não beneficia nem promove a seriedade que a política alternativa ao status quo merece e necessita.