As filmagens do canal do Parlamento, em que se veem as três principais figuras de Estado a brincar com o que tinha acontecido no hemiciclo, aquando da intervenção de Lula da Silva e o protesto do Chega, são mais um foguete para os interesses do partido liderado por André Ventura, que é como quem diz, mais uns bons milhares de votos para o partido de extrema-direita. Basta ver o que se passa em grupos de WhatsApp para perceber isso – e não é preciso tirar um curso de sociologia política.
Mas vamos ao já muito repisado protesto do Chega, que fez lembrar uma brincadeira traquina de crianças mimadas e mal-educadas. Álvaro Beleza, na CNN Portugal, chegou a comparar a atitude dos mariolões do Chega a algo que se fazia nas associações de estudantes. Estou totalmente de acordo. Para mim, que esperava muito pior, achei a ideia muito fraca, mas que não violou nenhuma regra fundamental da democracia – apesar do mau gosto e da falta de respeito pela instituição – ao contrário do raspanete do presidente da Assembleia da República, que se acha o dono das boas maneiras, e que se exaltou com a pateada dos deputados. Estivesse Augusto Santos Silva no Parlamento britânico e não faria outra coisa que não fosse interromper as pateadas dos deputados.
Enfim, mas o que dizer da conversa entre Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa captada pelo canal do Parlamento? Santos Silva demonstra toda a sua hipocrisia, mas outra coisa não seria de esperar de um homem que foi o braço-direito de José Sócrates. E a sua conversa sobre a hipotética vice-presidência parlamentar do Iniciativa Liberal demonstra bem porque não se deve ter respeito intelectual por tal figura. Não se percebe muito bem do que se ri. Já Marcelo, bem… é triste ver um Presidente da República naquelas figuras, a explicar como o presidente da AR ia ficando com calores. E Marcelo até fez um belo discurso no Parlamento. Costa demonstrou como consegue fazer uma cara e apresentar a coroa. Ao reconhecer que Lula da Silva estava a gostar da patetice do Chega, até porque no Brasil as coisas são muito mais acaloradas, «mesmo no Inverno», o primeiro-ministro foi também o espelho da hipocrisia.
E o que dizer das ameaças de uma guarda-costas de Lula da Silva a André Ventura, bem visível nas imagens televisivas? Por ser quem é, merece uns açoites? Esquisito. Está tudo ao contrário e André Ventura agradece, certamente, até porque aproveitou o discurso do 25 de Abril para apelar aos sentimentos mais básicos dos portugueses, falando da falta de Justiça e afins.
O que não consigo perceber é como os partidos, todos, caem na esparrela do Chega. Qual a razão para se ter falado tanto nos cartazes contra Lula e nas bandeiras da Ucrânia? Não seria muito mais inteligente os partidos dizerem que acharam uma brincadeira de homens/crianças mal educadas e que queriam era falar de assuntos sérios, sobre os problemas que inquietam os portugueses? Qual a razão para se matraquear no assunto que só dá votos a André Ventura? Esquisito, outra vez.
O PSD, o mais prejudicado com esta aposta de Santos Silva em se perfilar como candidato do PS à Presidência da República à boleia do Chega, devia era aproveitar todas as ocasiões para demonstrar que tem uma ideia para fazer crescer o país, se é que a tem.
P. S. 1. Há uns meses largos escrevi que as pessoas que fazem levantamentos na caixa multibanco ao lado da Presidência da República devem ter cuidado não vá Marcelo aparecer e querer condecorá-las… Calculo que a mulher de Lula da Silva tenha sido apanhada numa situação dessas, pois não se lhe reconhece outra razão para ser condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Curiosamente, a rapaziada do wokismo não se manifestou contra a condecoração, atendendo que a mesma só aconteceu por Rosangela ser mulher de. Não seria motivo para um protesto?