Trabalhadores Impostos: O Professor

Ouvir o Presidente da República defender diariamente e, sobretudo, numa grande entrevista ao canal público de televisão, a causa dos seus colegas professores, confundiu-me! Por momentos parecia um tempo de antena dum sindicato.

por Gonçalo Rodrigues
Direçãoo do STI, Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos

 

É preciso unir o país e, nesse sentido, o Sr. Presidente da República é um protagonista central.

Esperamos dele imparcialidade. Esperamos a capacidade de se abstrair das memórias da profissão que abraçou durante décadas e que, mesmo usando o talento que tem como comentador político, o faça de forma equidistante em relação a todos os portugueses.

Ouvir o Presidente da República defender diariamente e, sobretudo, numa grande entrevista ao canal público de televisão, a causa dos seus colegas professores, confundiu-me! Por momentos parecia um tempo de antena dum sindicato.

A luta dos professores é justa e legitima. Têm todo o meu apoio pessoal, mesmo porque vivi de muito perto aquilo que é a vida e o percurso profissional dessa classe. É dura, exigente, com pouca estabilidade e, pior ainda, nos tempos mais recentes, sem sequer serem respeitados no trabalho que fazem.

O problema é que na administração pública há quem tenha carreiras muito piores! Diz o Sr. Presidente, e bem, que todos os professores deviam poder chegar ao topo da carreira. Então e o resto de nós, Sr. Presidente?

Alguns professores, com o sistema vigente, apenas poderiam atingir o topo da carreira aos 70 ou 73 anos de idade. Existem quotas no quinto e no sétimo escalão. É injusto! Não devia ser assim.

Mas sabe o Sr. Presidente que na Autoridade Tributária e Aduaneira um gestor ou inspector que comece a trabalhar aos 25 anos, só pode atingir o topo da carreira, tendo um desempenho em SIADAP de “adequado”, quando tiver 115 anos de idade? Claro que já morto e enterrado Sr. Presidente.

Lamentavelmente, apenas 5% dos trabalhadores AT, se forem "excelentes" em dois ciclos de avaliação consecutivos (4 anos), o que é muito raro, podem sonhar em progredir de 4 em 4 anos, como acontece com os professores.

Não considera V. Excelência que também é injusto?

Como nós, estão dezenas de milhares de outros colegas sujeitos à falácia que é o SIADAP, que mais do que um sistema de avaliação é um sistema de bloqueio de carreiras, de destruição do espírito de equipa e, muito pior, de destruição do trabalho, pois leva a um constante esforço para apresentar resultados em quantidade, mas sem a qualidade que já tivemos no passado.

O Sr. Presidente até pode motivar 130 mil professores com o seu discurso. Pode ser popular. Mas ao fazê-lo, esquecendo os outros, presta um mau serviço a Portugal, porque desmotiva muitos com problemas iguais ou piores que os colegas que o Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa tem toda a legitimidade para defender, que o comentador Marcelo Rebelo de Sousa poderia defender no enquadramento mediático desta forte luta dos professores, mas que Sua Excelência o Sr. Presidente da República Portuguesa deveria ter o cuidado de não diferenciar dos restantes concidadãos.

O Sr. Presidente representa a República Portuguesa e não uma classe profissional. É bom que lute por nós. Mas lute por todos por igual.