Um Pai que nos une como irmãos

Quando oravam, os discípulos viram o Espírito Santa cair sobre eles em forma de línguas de fogo e de repente começaram a anunciar as maravilhas que Deus tinha feito na sua vida.

A terminar os dias da Páscoa estão dois acontecimentos: a subida de Jesus ao céu e a descida do Espírito Santo. Estes dois acontecimentos têm alguns sinais que me impressionam muito na forma como os cristãos vivem a sua vida no meio do mundo.

A subida – ascensão de Jesus aos céus – dá-se ao mesmo tempo que é deixada uma promessa: «Eu estarei sempre convosco todos os dias até ao fim do mundo». Nós sabemos, realmente, que o Senhor que venceu a morte estará sempre connosco. Ele não nos deixa órfãos. Conforme disse, era preciso que ele subisse ao Pai para nos enviar outro Consolador – o Espírito Santo. 

Dez dias depois aparece um outro acontecimento: os apóstolos estavam reunidos no cenáculo. Tinham as portas fechadas. Estavam com medo! Tinham visto o poder de Deus e mesmo assim estavam medrosos. Tinham visto Jesus ressuscitado, mas ainda não tinham a força suficiente de O testemunhar. 

Quando oravam, os discípulos viram o Espírito Santa cair sobre eles em forma de línguas de fogo e de repente começaram a anunciar as maravilhas que Deus tinha feito na sua vida. E ficaram radiantes… anunciando o Nome de Jesus Cristo. 

Num dos cânticos da Liturgia para esses dias, a Igreja canta: «Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Vós que congregastes os povos de todas as línguas na confissão de uma só fé». 

Esta realidade que vemos acontecer na festa do Espírito Santo – ou se quisermos o nome exato, na festa de Pentecostes – é contrária a um acontecimento relatado no livro do génesis que nos mostra como nos encontramos hoje e do que precisamos: a Torre de Babel.

A história é muito interessante, porque ela relata a história dos homens de todos os tempos. Os homens falavam todos a mesma linguagem e todos se compreendiam. Um dia puseram-se a construir um edifício que chegasse ao céu. Deus, então, decidiu destruir a Torre de Babel e a partir daquele momento criou as línguas dos povos, de tal forma que a partir daquele momento nunca mais se entenderam. 

É curioso! Outrora os homens quiseram fazer o seu projeto. Agora fecham-se em casa e esperam a ação de Deus. Outrora as suas línguas foram confundidas, agora é o amor de Deus que desce em forma de línguas de fogo. Outrora tentaram chegar ao céu, agora é o céu que chega aos homens. Outrora deixaram de entender, agora cada homem ouve os apóstolos falar na sua própria língua. 

Comove-me esta ideia de congregar os povos de todas as línguas, com as suas próprias culturas, na confissão de uma só fé. É isso que me comovo todas as vezes que participo nas Jornadas Mundiais da Juventude: gente de todos os lados, que não se conhece, que não fala a mesma língua, que tem a mesma cultura, mas que tem o mesmo Espírito.  

O grande problema que temos no mundo contemporâneo é que cada um procura a sua própria vontade, querendo construir o seu próprio edifício que atinja o céu para ter o seu momento de fama. No fundo, todos queremos ser como Deus e mandar em tudo e em todos e não queremos que ninguém mande em nós. Foi o que fizeram os homens na Torre de Babel e foi o que fez Adão e Eva ao quererem ser versáteis no bem e no mal: afinal quem é que manda em mim?

Isto é muito importante que tenhamos consciência que quando nos afastamos de Deus e nos queremos colocar no lugar de Deus, sempre virá para nós um mal: Sempre! Mesmo que alguns nos digam acerca das guerras religiosas que houve no passado e que ocorrem no presente. A Primeira e a Segunda Guerra Mundiais ocorreram no século dos direitos humanos, da igualdade, da liberdade e da fraternidade. 

Talvez seja tempo de pararmos um pouco e pensarmos como podemos, apesar da diversidade de culturas, colocar no centro a figura paterna de um Deus que nos une como irmãos.