Tolentino é um dos possíveis sucessores de Francisco

Os clérigos acreditam que o Papa irá recuperar a tempo de vir à Jornada Mundial da Juventude, mas, se não puder vir, caberá ao Vaticano dizer se há encontro ou não. Entretanto, o português Tolentino Mendonça ganha força no processo de sucessão a Francisco.   

Tolentino é um dos possíveis sucessores de Francisco

A fé raramente falha aos homens que dedicam a sua vida a Deus, e é por essa razão que são muito poucos os que, dentro da Igreja, não acreditam que Francisco não irá recuperar da cirurgia a que foi sujeito esta semana e que não estará em Portugal, de 2 a 6 de agosto, para presidir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Até hoje, não houve uma única JMJ sem a presença do Papa, pois a ocasião serve precisamente para o chefe máximo da Igreja Católica interagir com os jovens participantes, contribuindo para a sua evangelização. Mas quererá isso dizer que, se o Papa Francisco não poder estar presente em Lisboa, a JMJ não se realizará? A resposta só pode ser dada pelo Vaticano, pois a organização portuguesa não tem voto na matéria. Fontes eclesiásticas ouvidas pelo Nascer do SOL não acreditam que se possa travar o evento, e gostariam que D. Américo Aguiar, o responsável pela JMJ, já o tivesse dito de forma explicíta, até porque seria um sinal de que o Vaticano assim pensa.

 

A sucessão de Francisco

Entrando, num cenário de especulação, o que acontecerá se o Papa Francisco decidir renunciar ao cargo, se entender que já não tem condições físicas para o exercer? Haverá tempo para nomear um sucessor? A resposta é afirmativa, bastando olhar para o exemplo de Bento XVI. Achando que já não tinha condições para estar presente na JMJ do Rio de Janeiro, em 2013, decidiu abdicar a 11 de fevereiro. A 13 de março, o mundo acordou com o fumo branco a sair da chaminé da Capela Sistina, seguindo-se a declaração da mais famosa frase latina Habemus Papam.

Como facilmente se perceberá, entre a saída de Bento XVI e a entrada de Francisco passaram precisamente 30 dias. Ora, de hoje ao início da JMJ, a 1 de agosto, faltam 53 dias, tempo mais do que suficiente para o antigo cardeal Bergoglio passar a pasta a outro cardeal… E, aqui, algumas fontes contactadas pelo Nascer do SOL realçam a afirmação de Sua Santidade que, por mais do que uma vez, disse que a JMJ de Lisboa terá sempre um Papa, seja Francisco ou João XXIV, que é como quem diz, o próximo, tenha ele o nome que tiver. E recordam ainda a entrevista que Francisco deu ao jornal espanhol ABC, em 18 de dezembro de 2022, onde revelou que entregou a carta de renúncia, «em caso de impedimento por razões médicas», ao então secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone.

Na época, os jornais internacionais ligados à Igreja reforçavam que Francisco queria seguir o exemplo do antigo cardeal Ratzinger, que passou a Papa emérito, por sentir que não tinha condições físicas para exercer o cargo.

No caso de Francisco renunciar, será preciso convocar um conclave, com todos os cardeais com menos de oitenta anos. Usando uma linguagem mais coloquial, diga-se que os cardeais elegíveis, 121, se reunirão com os 101 não elegíveis, durante sensivelmente 15 dias, para se conhecerem e decidirem, os 121, em quem vão votar para ser o próximo Papa.

Não se conhecendo, já que há cardeais espalhados pelo mundo inteiro (ver quadro), os tais 15 dias servem para cada um dizer de sua justiça, e conhecer as ideias dos outros. Segundo a lei do Vaticano, é proibido haver acordos pré-conclave, bem como coligações. Depois,  retiram-se os não elegíveis, e os 121 cardeais, reunidos durante três ou quatro dias, na Capela Sistina, longe de olhares indiscretos, acabam por votar em quem acreditam que será o homem certo para o futuro da Igreja.

Há 10 anos, poucos foram os que acertaram na nomeação do antigo cardeal argentino Bergoglio e é por isso que muitos têm hoje algumas reservas em nomear os mais bem posicionados para suceder a Francisco. Com a devida margem de erro assumida, fontes eclesiásticas  entendem que Tolentino Mendonça, o cardeal português que tratou do retiro espiritual do_Papa Francisco, em 2018, cujo lema foi ‘O elogio da sede’, será um dos homens na linha da frente para ocupar a cadeira mais importante do Vaticano. Recorde-se que Tolentino Mendonça teve uma das ascensões mais meteóricas na Igreja Católica, passando de padre a bispo em pouco tempo, acontecendo o mesmo de bispo a cardeal. 

As mesmas fontes, que não coincidem totalmente nos nomes, acabam por avançar com mais três hipóteses: o cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana e enviado do Papa à Ucrânia, onde se encontrou com o Presidente Zelensky; Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano; e, por fim, Luís Tagle, das Filipinas, que em 2013 esteve no conclave que elegeu Francisco.

Dentro de duas semanas se saberá se o atual Papa estará em condições de continuar o seu pontificado e se estará em Portugal… ou se renunciará.

 

Mistério da rosa branca e abertura da Igreja

O Papa foi operado na quarta-feira à tarde, mas da parte da manhã não passou despercebido o seu gesto de colocar uma rosa branca junto da arca que guarda as relíquias de Santa Teresa de Lisieux, também conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus, obra que anda sempre na pasta preta que o Papa costuma usar.

São muitas as histórias que se contam da ‘relação’ que o Papa tem com Santa Teresa, que entrou no convento aos 15 anos e que morreu com 24, no século XIX. Nomeadamente, as várias situações em que alguém lhe deu uma rosa branca do nada, quando ele estava perante um desafio. «O Papa olha para a rosa branca como um sinal de pacificação, como um sinal de aceitação», como explica um clérigo ao nosso jornal. 

Segundo escrevia a Aleteia, site de comunicação social religioso, em 2015, «no livro ‘O jesuíta’, escrito por Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, o Papa Francisco conta uma anedota: ‘Quando tenho um problema – disse – peço à santa, não que o resolva, mas que o tome nas mãos e ajude que assuma e, como sinal, quase sempre recebo uma rosa branca». Por acaso, as relíquias de Santa Teresa estão agora em Roma.

Também a transparência revelada pelo Vaticano no que diz respeito à doença do Papa não passou despercebida aos fiéis. «Até aqui, o Vaticano mentia sempre sobre a saúde de Sua santidade. Esta foi a primeira vez que a verdade foi dita em tempo real. O que quererá dizer, não sei. Mas que é uma mudança, lá isso é. É preciso não esquecer que em anteriores doenças do Papa, o Vaticano escondeu sempre a verdade», acrescenta a mesma fonte.