Kiev responde a ameaça russa

A terceira semana da contraofensiva ucraniana reforçou as posições de Kiev na reconquista de território ocupado pelos russos, mas ficou também marcada pela ameaça de Moscovo de atacar centros de comando em Kiev.

A narrativa russa tem novo capítulo, com o Kremlin a dizer que a Ucrânia se prepara para atacar a península da Crimeia com armas ocidentais de longo alcance (mísseis HIMARS de origem norte-americana e Storm Shadow ingleses), e que se isso acontecer irá responder contra alvos militares e políticos em território ucraniano. A ameaça do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, vem fora de tempo, pois há vários meses que a península tem sido atacada com esses mísseis, o que mudou agora é que a ofensiva ucraniana ameaça a presença russa na Crimeia. O senhor da guerra e líder do grupo Wagner, Yevgney Prigozhin, confirmou isso mesmo ao dizer que «até a Crimeia está em risco». O aviso de Moscovo sobre eventuais ataques a alvos políticos e centros de comando poderá significar, em caso extremo, o ataque ao palácio presidencial, residência oficial de Zelenski, e outros locais estratégicos, o que levaria esta guerra para um patamar extremamente perigoso.

Depois de ameaçar os centros de comando na Ucrânia, Putin veio dizer que já está disponível a nova geração de mísseis balísticos intercontinentais Sarmat, uma arma poderosa, com alcance de 18 mil quilómetros. Cada míssil transporta 10 a 16 ogivas nucleares, cada uma dirigida a um alvo diferente. Obviamente não disse que as iria utilizar, mas o Presidente americano, Joe Biden, veio avisar que «o risco de Putin usar armas nucleares táticas é real».

Na frente de batalha, a contraofensiva está a avançar a ritmo lento. «Há pessoas que pensam que é um filme de Hollywood e esperam resultados imediatos, mas não é o caso», disse Volodymyr Zelensky. Em entrevista à BBC, admitiu também que o progresso na contraofensiva está a ser «mais lento do que o desejado». Mesmo assim, a Ucrânia disse ter recuperado ao exército russo oito localidades e uma área de 113 km2. É verdade que são pequenas aldeias, mas é um sinal de libertação. As forças ucranianas têm como próximo objetivo isolar a Crimeia da região do Donbas. Vai ser uma tarefa difícil, pois implica aniquilar a linha defensiva russa para conquistar os 100 quilómetros que faltam. Especialistas militares voltaram a afirmar que a Ucrânia ainda não utilizou todo o potencial militar que tem à sua disposição e que «o golpe principal ainda está por acontecer». O passo decisivo pode acontecer com a chegada dos aviões F-16 da quarta geração, prevista para este verão.

Como seria de esperar, a Rússia continua no seu jogo de sombras e não reconhece que perdeu território, apesar de haver registo de os militares russos terem abandonado equipamento e munições na fuga. Pela segunda semana consecutiva os russos estão a transferir miliares do sul para as frentes de leste e estão a atacar as zonas de Lugansk. 

Entretanto, a ONU deu conta de que as tropas russas estão a bloquear a entrada de ajuda humanitária nas zonas que ficaram inundadas pela destruição da barragem de Kakhovka. Dentro da política absurda que vem praticando, o Kremlin justificou o bloqueio à ajuda humanitária com questões de segurança. 

Esta semana surgiram fotografias de um veículo supostamente armadilhado junto à barragem e com soldados russos por perto, o que pode ser mais uma prova de que o ato bárbaro que provocou, até ao momento, a morte de 55 pessoas foi realizado pelos russos.

No plano político, a Conferência Internacional sobre a Recuperação da Ucrânia, que decorreu em Londres e reuniu 60 países, apontou para a necessidade de recuperar 6.000 prédios de habitação, 20.000 casas particulares, 122 pontes, 500 instalações de saúde e mais de 1.000 escolas. De acordo com um relatório do Banco Mundial, o custo estimado da reconstrução da Ucrânia em 10 anos ascende a 376 mil milhões de euros.