O pior cego é o que não quer ver

Os velhos protestam comodamente sentados no sofá em frente ao televisor – ou, no máximo, em marchas pacíficas; os episódios violentos, em qualquer situação ou país, são sempre protagonizados por jovens.

Ouço os jornalistas e os comentadores falar dos violentos acontecimentos em França e fico atónito.

Falam da violência e do racismo da Polícia francesa, falam dos guetos sociais, falam do facto de estarem muitos jovens envolvidos, falam da discriminação económica – mas ignoram o fator essencial nesta questão: o fracasso completo das teorias da integração.

E ignoram, porquê?

Por esquecimento? Por distração?

Não.

Uns ignoram por convicção ideológica e outros por medo.

Sabendo que o tema escalda, têm medo de falar dele.

Comecemos pelo ‘racismo’ da Polícia francesa.

Se ele existe, resulta de quê?

Da ‘maldade’ intrínseca dos agentes policiais?

Ou dos problemas que estes têm tido com certas comunidades de imigrantes?

Sabemos que há bairros de Paris (e de outras cidades da França) dominados por magrebinos onde a Polícia não entra – e, se entra, é recebida à pedrada ou mesmo a tiro.

Ora, perante isto, o que deveria esperar-se?

Que a Polícia os adorasse e os tratasse com carinho?

Recordo que em França, Inglaterra, EUA, etc. há importantes comunidades chinesas e não consta que haja problemas com elas.

E porquê?

Porque são ordeiras.

Assim, o ‘racismo’ da Polícia francesa não deverá ter que ver essencialmente com a cor da pele mas sim com o comportamento de certos grupos de imigrantes de primeira ou segunda geração.

Outro argumento que se invoca é a presença de muitos jovens nos desacatos.

Ora, este argumento é risível.

Esperar-se-ia o quê?

Que os desacatos fossem praticados por velhos?

Que estes fossem para a rua incendiar carros e atirar pedras à Polícia?

No Maio de 68 quem é que andava nas barricadas?

Mesmo nas recentes manifestações contra o aumento da idade da reforma, embora se vissem pessoas já maduras, as violências eram provocadas por jovens – que estavam muito longe da idade da reforma e ali andavam pelo prazer da contestação ou pela militância política.

Retirar alguma conclusão do facto de os desordeiros serem jovens é simplesmente ridículo.

Também não é sério falar nos guetos urbanísticos, atirando as responsabilidades para os governos ocidentais.

Todos sabemos que as pessoas têm tendência a agregar-se segundo a sua origem e cultura.

Os muçulmanos, os africanos, os chineses, os ciganos tendem a formar comunidades que ocupam determinadas zonas das cidades, pois juntos sentem-se mais fortes e protegidos.

Portanto, a exclusão parte das próprias comunidades minoritárias.

As experiências de fazer bairros com gente de várias classes sociais e de várias origens geográficas, que estiveram muito em voga nos anos 60 e 70, falharam redondamente.

Ninguém se sente bem nesses bairros: nem os muçulmanos misturados com os chineses, nem os europeus misturados com os africanos, nem os pobres misturados com os ricos.

São experiências idealistas sem aderência à realidade.

Comentando-se os acontecimentos em França, fala-se de tudo para se evitar falar no mais importante: o fracasso inevitável das políticas de inclusão.

Só que esta ideia não interessa à esquerda… nem à direita – e esse é o grande problema.

A esquerda não quer pôr em causa a imigração, por razões ideológicas; e a direita incentiva-a, por razões económicas.

Como no passado eram os escravos, os imigrantes são hoje contingentes de seres humanos onde os empresários encontram mão-de-obra barata e disposta a fazer sacrifícios – o que já não acontece com os europeus.

Em Portugal, há cada menos gente para trabalhar.

Além de a população estar a diminuir, os portugueses arranjam todos os pretextos para trabalhar o menos possível: metem baixas, vivem com o subsídio de desemprego ou com o RSI, fazem supostos cursos de formação nas mais bizarras especialidades, etc.

Assim, se não fosse a imigração, certos setores como o turismo ou a agricultura parariam por falta de mão-de-obra.

Fomenta-se, pois, a imigração. O Governo e os empresários incentivam-na, perante os aplausos da esquerda e da direita. Só a extrema-direita torce o nariz, e mesmo assim discretamente.

Só que, para resolver um problema, estamos a arranjar outro.

Sendo a integração uma falácia, Portugal terá dentro de alguns anos os problemas que está a ter hoje a França.

Escrevo sobre estes assuntos há muito tempo, e os meus leitores sabem quantas vezes já afirmei que a imigração descontrolada ia transformar a Europa num barril de pólvora e acelerar o crescimento da extrema-direita.

A França já é um barril de pólvora e a ascensão da extrema-direita em quase todos os países europeus está à vista de toda a gente.

Nas próximas eleições presidenciais francesas, a favorita é Marine Le Pen.

Mas os jornalistas e os comentadores continuam olimpicamente a ignorar esta questão, porque queima.

E o pior cego é o que não quer ver.