Em que é que a troika acredita?

Das duas uma: ou Portugal é um caso de falta de liquidez e eventualmente conseguirá pagar a sua dívida pública, ou Portugal é um caso de insolvência e nenhum esforço de austeridade será suficiente para tal.

A troika que diga definitivamente em qual acredita! E, como dizem os anglo-saxónicos, que a troika ponha ‘its money where its mouth is’.

Em finanças distingue-se o problema de liquidez do problema de insolvência de quem pede emprestado. O primeiro é causado por uma falta de confiança do mercado e aplica-se a um país, ou uma empresa, que apresenta condições económicas razoáveis mas que em face das condições de mercado não se consegue refinanciar e tem dificuldade no pagamento das prestações sobre os empréstimos anteriormente contraídos. A troika tem apresentado publicamente o caso de Portugal como um problema de liquidez (o que eu concordo, embora ache que em breve se possa passar a um problema mais grave). O segundo implica a impossibilidade do cumprimento das obrigações respeitantes à dívida.

O acordo original de Portugal com a troika não foi o sinal que os mercados de capitais precisavam para acreditarem que o problema de Portugal era um problema de liquidez!

Se não vejamos. Os juros cobrados a Portugal pela troika estavam entre os juros que Portugal pagou antes da perda de confiança dos mercados e os juros que Portugal pagava pela altura do resgate financeiro.

Se o problema de Portugal fosse um de liquidez, como se dizia e ainda se diz, então o juro que se cobrou tinha de ser consistente com essa mensagem. O juro tinha de ser o mesmo que se cobraria como se não houvesse um problema de confiança na capacidade de pagamento de Portugal. Pois que se o país consegue pagar, então o juro tem de ser baixo! Tal não foi o sinal da troika e foi assim que o mercado de capitais leu o que se passou. Acredito que se a troika tivesse dado um sinal forte de confiança em Portugal emprestando dinheiro a 10 anos a taxas próximas dos 4% que Portugal tinha antes da crise (ou a taxas próximas dos custos de financiamento do EFSM ou EFSF), os mercados teriam reagido de maneira diferente. (Em vez disso Portugal pagou significativamente mais por empréstimos de menor duração.)

Agora que os políticos portugueses já mostraram que têm vontade e determinação para cortar na despesa pública, a Europa deve agir com determinação e dar um sinal que mude as expectativas do mercado e devolva a confiança em Portugal. Tal voto de confiança não só muda as expectativas do mercado como traz condições económicas para o crescimento libertando fundos que doutra maneira iriam para pagar os juros à troika.

Se a Europa acertou o passo com a Irlanda, não há razão para não acertar o passo com Portugal!

Professor de Finanças, Católica-Lisbon School of Business and Economics e Boston University