Pôr os leitores de jornais online a pagar

Dar a volta à crise, inverter a quebra nas vendas e rentabilizar os sites: por todo o mundo, os jornais procuram soluções para se adaptarem a um mundo cada vez mais digital. Na semana passada, Público e Expresso apresentaram duas novas receitas para o online.

“tomámos esta decisão depois de um estudo e processo de consultas e discussão internas ao longo dos últimos sete meses”, explica bárbara reis, directora do público, que tem agora todos os conteúdos disponíveis no site – incluindo um arquivo desde 1999 –, gratuitamente até um limite de 20 visualizações por mês.

o modelo, explica paulo_querido, jornalista especialista em novas tecnologias, dá pelo nome de ‘paywall porosa’. “começou, salvo erro, no financial times. e é também o modelo seguido pelo new york times. o limite de visualizações pode variar”. a fórmula é usada para aumentar as receitas dos jornais, mas, avisa paulo querido, é preciso que os conteúdos sejam realmente diferenciadores para que valha a pena pagar.

no caso do público, bárbara reis está convencida de ter argumentos para levar os leitores a pagar 9,90 euros por mês ou 99,90 euros por ano e aumentar assim as quatro mil assinaturas digitais que o diário já soma. “há notícias gratuitas em todo o lado, mas no site do público o leitor encontra conteúdos profundos, distintivos e únicos”.

financiar a qualidade

de resto, a ideia é que pelo menos alguns dos três milhões de visitantes únicos mensais comecem a pagar, rentabilizando os dois milhões de visualizações diárias.

“o jornalismo de qualidade exige um grande investimento”, sublinha a directora do público, que dá exemplos como o trabalho sobre o financiamento dos partidos nas autárquicas – “que envolveu uma equipa multidisciplinar da redacção” e uma jornalista em exclusivo no tema durante nove meses –, e as reportagens na síria, em plena guerra civíl. em ambos os casos, os custos foram elevados, o que obriga o jornal a procurar estimular as receitas do online, a par de soluções como “a internacionalização e o desenvolvimento de novos projectos”.

no expresso, que a partir do primeiro semestre de 2014 vai passar a ter uma edição diária digital paga, a ideia é a mesma. com sete mil assinantes digitais, o semanário já é o título com maior número de leitores que pagam pelos conteúdos online, representando o digital 7,5% do total da circulação paga do jornal. até agora, o crescimento tem sido de 20% ao ano.

na impresa, para já, não se dão mais pormenores sobre o projecto que levou pedro santos guerreiro (director do jornal de negócios) para a equipa directiva do expresso. mas paulo querido acredita que “a edição diária vai honrar o legado histórico do título expresso, deixando ao site a tarefa de se misturar com os produtores de conteúdos de baixo valor”.

o jornalista frisa que “o digital está muito longe de ser gratuito” e avisa que esta é uma realidade que os jornais não podem ignorar. “os casos de sucesso emblemáticos são o financial times e o new york times. mas o grupo alemão axel springer (que tem o die welt, entre outros) já tem no online 40% das suas receitas”. bárbara reis recorda, aliás, que em 2012 “mais de três quartos dos jornais americanos tinham algum tipo de paywall”.

o problema está em levar os portugueses a pagar pela informação: “na realidade, a grande maioria das notícias já circulava de forma gratuita antes da internet, tal é a baixa penetração dos jornais”.

difícil é prever a morte do papel. “a substituição do papel enquanto suporte dos jornais ocorrerá a diferentes velocidades”, afirma paulo querido, que acredita que o formato subsistirá: “as carruagens a cavalo deixaram de existir? na realidade, não. nem os alfaiates. alguns jornais e sobretudo revistas permanecerão em nichos de mercado específicos”.

margarida.davim@sol.pt