Aceita que a Rússia está a fazer uma intervenção especial num outro país.
Há uma guerra com consequências, há uma crise inflacionista, há um agravamento dos custos da dívida pública. Se isto não oferece justificação para o repensar das medidas, não sei o que o fará. Continua a ser um Governo a jogar à defesa. Permanece pobre de ideias e de iniciativa, é limitado nos objetivos.
Parece, até, ofensivo que a grande cedência de Moscovo seja permitir à Ucrânia a adesão à União Europeia. Ela, um país livre, pedir autorização não para integrar uma aliança militar mas para participar num espaço de cidadania, de liberdade de circulação e de economia comum.
Mas os milhões de refugiados que procuram abrigo, as imagens da violência indiscriminada, a incompreensão desenhada nos rostos que sofrem, provoca a estupefação e a revolta.
E quando as notícias começaram a divulgar a possível integração na Nato da Suécia e da Finlândia, a reação foi uma ameaça a dois tempos.
A questão da Sérvia, depois o problema da Geórgia e os sucessivos alargamentos da Nato serviram de base à recuperação do conceito de zonas de influência e do afastamento de Moscovo. E tudo se torna mais claro em 2004 com a continuação do poder de Putin.
O negociador incansável, a tolerância em pessoa, o sofrimento arrastado pelo calvário de uma situação limite de pandemia e incerteza, fez da campanha denúncia.
O poder tem de possuir a humildade de reconhecer que as coisas não vão bem e que, mesmo que a mão se feche com ímpeto, a areia continuará a escorrer por entre os dedos.
As sondagens todas e mais algumas dizem, no essencial, o mesmo. Há muita gente que acompanha o partido socialista mas não o consideram suficientemente credível.
António Costa foi primeiro-ministro porque afirmou ser possível governar de uma certa maneira, de arrastar consigo os outros, de os convencer a abdicar de uma parte do seu programa para evitar um mal maior, de ser socialista na essência e esquerdista no gesto.
Estes seis anos foram o máximo que se traduziu no mínimo. E, por muito que as intervenções repetitivas da bancada socialista cansativamente salientassem as conquistas, tudo sabe a pouco quando o país está assim.
E, por mais que o ministro do Ambiente se esmere em traçar a normalidade do futuro negro que nos espera com a dificuldade em fazer a transição energética, o facto é que a angústia crescer.
É inusitado que o ministro dos aviões e dos comboios critique publicamente o ministro das Finanças, na ressaca da demissão do presidente da CP, no preciso dia em que são anunciados mais mil milhões para a TAP.
Valha-nos o sobressalto cívico do primeiro-ministro reagindo ao que considera ser insinuações malévolas quanto à ‘bazuca’, ou ao programa de recuperação, ou ao perigo dos corruptos singrarem.
Durante o Congresso o que ficava era a divisão clara de caminhos, a luta interna, a ideia do fechamento e do afastamento do país. Era um circo e cristãos eram lançados às feras. Destroçados ou lambendo as feridas diminuíam o brilho do vencedor.
Fartos, os americanos de Trump, anunciaram a retirada. Crédulos, os americanos de Biden cumpriram-na. A Nato, atenta, veneradora e obrigada, nem piou. E hoje aí temos o Afeganistão em todo o seu esplendor.