Agosto costumava ser tempo de férias e descontracção, mas hoje tal conceito oferece cada vez mais dúvidas.
A única boa notícia no processo de ajustamento em curso da economia portuguesa é, sobretudo no último trimestre, o comportamento positivo das exportações e, em especial, o aumento do grau em que estas compensam as importações (a chamada taxa de cobertura).
Por exigências editoriais combinadas com limitações profissionais vejo-me obrigada a escrever estas notas quase uma semana antes da cimeira europeia de 28 de Junho.
Neste momento conturbado, talvez pareça simplista a ideia de que os problemas da Europa se reduzem a três mas, a meu ver, há de facto três dimensões que – independentemente da sua óbvia multiplicidade – destabilizam como redemoinhos todo o sistema.
Tal como num filme de ‘suspense’, quotidianamente assistimos à degradação inexorável da situação da Grécia (e, em boa parte também, da sustentabilidade das economias do sul da Europa) enquanto, em sentido contrário, vão adquirindo maior viabilidade as condições para uma mudança do receituário até agora imposto…
As eleições francesas abrem uma luz de esperança em torno da mudança possível, ao mesmo tempo que confirmam quanto a desorientação que a Europa se auto-impôs suscita o enorme risco de empurrar os seus cidadãos para as franjas das opções totalitárias e xenófobas.
Na sequência da iniciativa dos socialistas europeus, e tal como dei nota no meu último artigo, A Troika para a Grécia veio mesmo responder às questões dos deputados europeus reunidos numa sessão conjunta das Comissões de Assuntos Económicos e Monetários e de Emprego e Assuntos Sociais no passado dia 27 de Abril.
Antes de partir para a visita que realizei à Grécia entre 6 e 8 de Março, acompanhada por dois colegas do Parlamento Europeu, ouvi mais do que um suspiro exausto de «já estou farto (a) da Grécia!».
Por mais servilmente que executemos as recomendações e soframos os castigos, o nosso destino ‘está traçado’ enquanto não houver uma dinâmica de crescimento.
A combinação das entrevistas do Secretário de Estado da Energia (SEE), Henrique Gomes (Jornal de Negócios, 9 de Janeiro), e de Eduardo Catroga (Expresso, 14 de Janeiro), ambas a propósito da venda de 21,35% da empresa eléctrica nacional à China Three Gorges (detida a 100% pelo Estado chinês, como é sabido), ilustra aspectos talvez bem…
Que Europa é esta? E que pensa Portugal deste (e de outros) projecto(s)?
Em entrevista recente (Expresso de 19.11.2011), Poul Thomsen (chefe da missão do FMI que integra a troika) ilustrou de forma clara um dos problemas mais graves que condiciona a gestão da crise na Zona Euro: a ortodoxia.
Poderá dizer-se que, por um lado, o ‘motor’ alemão se reforçou no curto prazo mas, por outro lado, ele foi deixando de reconhecer o mercado interno e a Zona Euro.
A crise da Zona Euro parece cumprir uma trajectória de agravamento e acumulação de tensões sem fim à vista.
Nada é tão útil para reorganizar o pensamento como passar duas semanas a observar a natureza e com acesso limitado ao telemóvel e à internet. Mas o regresso torna-se deprimente, ao fazer-nos readquirir a consciência de que, em muitas matérias e, em particular, no que respeita à União Europeia, nada de essencial mudou e continuamos…
Remetermo-nos a ‘fazer o trabalho de casa’ não é apenas perigoso — pode ser fatal!
Espero bem que Portugal não venha a ser mais uma triste ilustração desta realidade absurda em que a Europa se está a transformar.
Visto de Bruxelas, o que se passa em Portugal é difícil de explicar e chega, mesmo, a roçar o absurdo!