Mudanças!

Há sinais de mudança no apoio aos países em dificuldades que parecem ir na boa direcção.

claro que o mundo é feito de mudança! todavia, nas economias desenvolvidas, união europeia em particular, tinhamo-nos convencido que o elevado grau de maturidade e prosperidade atingidos nos permitiria controlar essa mudança sem pôr em risco o essencial do nosso modo de vida. teorizámos todos os cenários de risco possíveis e, por norma, encontrámos modos de nos protegermos financeiramente deles. passámos de uma protecção em relação ao risco de perdermos a nossa casa num incêndio, ou o carro num acidente, à protecção de riscos completamente novos (sendo o caso extremo o de perdermos dinheiro com obrigações de um estado da zona euro por falência do mesmo!). aos poucos, a cobertura destes riscos, reais ou hipotéticos, foi gerando produtos financeiros com vida própria, vendidos e comprados maciçamente, já não em função do risco efectivo que cobrem, mas antes dos ganhos que a sua transacção permite.

é verdade que o conforto de pertencer à zona euro levou a que alguns países, reagindo às baixas taxas de juro que a confiança na solidez da economia envolvente permitia, se endividassem excessivamente. noutros, o desequilíbrio surgiu em consequência, directa ou indirecta, da crise histórica que (ainda) estamos a atravessar. importa ainda relembrar que as divergências internas no crescimento das distintas economias que compõem a zona euro têm vindo a aumentar, gerando uma propensão para o endividamento das menos dinâmicas. nalguns casos, as três razões combinaram-se e interagiram.

seja qual for a causa subjacente, o certo é que, numa união monetária, uma vez gerado um desequilíbrio, são escassos os meios à disposição dos países membros para o corrigirem (nomeadamente pela via cambial). a partir daí, a espiral de crise está instalada: quanto mais difícil e caro for, para um país que se tenha endividado, obter o financiamento de que necessita, mais penoso será também ele recuperar a trajectória de crescimento e, consequentemente, gerar os meios necessários para reembolsar os empréstimos que assumiu; a probabilidade (real ou percebida) de que não venha a pagar aumenta, o que, por sua vez, leva a que quem empresta e quem pressupostamente cobre o risco de incumprimento exija uma remuneração maior; com a volatilidade dos mercados financeiros a amplificar o problema, a impensável falência do euro apresentou-se como uma possibilidade real.

numa conferência que proferiu na presente semana, delors (mais uma vez ele!) veio relembrar que, quando elaborou o relatório que precedeu a criação do euro, previra dois pilares (o da governação monetária e o da governação económica), mas que só o primeiro se desenvolveu, enquanto o segundo estagnou. duvida-se que haja hoje vontade política para o completar, nomeadamente através de um refrescamento da política de coesão que promova a convergência das economias à luz das realidades do século xxi, numa europa a 27 e num cenário de globalização.

a semana que termina trouxe-nos, no entanto, algumas novidades – finalmente, alguma coisa começou a mudar! após a crise grega, a crise irlandesa, as pressões sobre portugal, as ameaças sobre a espanha, a itália e a bélgica, muitos planos restritivos, muita especulação e muito sofrimento e desilusão para muitos cidadãos europeus, a alemanha reconheceu, no dia 11, que a sobrevivência da zona euro requeria a criação de um fundo mais robusto (500 mil milhões de euros) e permanente de entreajuda – o novo ‘mecanismo europeu de estabilização’ (substituindo o actual fundo europeu de estabilização financeira cuja vida termina em 2013); entretanto, o feef ficará autorizado a comprar dívida soberana no mercado primário (protegendo os países da dependência total dos mercados) e verá a sua capacidade de intervenção reforçada (de 250 para 440 mil milhões de euros.

não são claras nem as condições concretas em que vai intervir, nem as consequências de funcionar numa base intergovernamental (e não comunitária), nem quais as contrapartidas exigidas aos estados. mas há sinais de mudança que parecem ir na boa direcção…