O estilo, os objectivos e a eficácia de 10% Mais Feliz estão resumidos, no melhor e no pior, logo na capa: “Como domei a voz na minha cabeça, reduzi o stress sem perder o controlo e descobri auto-ajuda que realmente funciona – uma história real”. O subtítulo é informativo e enigmático q.b., auto-irónico, um bocadinho…
SEC tem mais dotação orçamental e abre concursos de apoio às artes. Umberto Eco, Panda Bear ou Tiago Rodrigues vão marcar 2015.
Um no topo, outra na base do prédio. Paulinho está fechado num sótão, fugido da polícia, e alimenta-se de pombos, caçados no algeroz. Também mata ratazanas e destrói pelotões de formigas. Em tempos, Purificação foi a mais bela borboleta da cidade. “Um dia a pele da cara, sem carta registada ou aviso de recepção, estalou…
Quanto mais humana é uma obra de arte, mais possibilidades tem de ser lida como universal. Mas, o que significa conter-se a humanidade num romance? A resposta surge, límpida, em ‘O Meu Irmão’, romance de estreia de Afonso Reis Cabral, Prémio Leya 2014, seleccionado entre 361 originais, de 14 países.
No início, Milan Kundera quis ser músico. O sonho ruiu aos 25 anos e dele ficou só uma composição para quatro instrumentos. Contudo, a estrutura dessa peça serviu, inconscientemente, a escrita de todos os futuros romances do escritor: divididos em sete partes, “formalmente muito heterogéneas, tendo cada uma delas uma orquestração diferente, […] equilibrada por…
O título pode induzir em erro e Michael Cunningham diz, com piada, que devolve o dinheiro a quem se sentir defraudado.
Logicomix é uma história dentro de uma história, dentro de uma história. É o relato de uma epopeia intelectual e complexa, com a leveza da linguagem dos quadradinhos e a estrutura de uma matrioska. Primeiro (e depois a espaços), narra-se a criação do próprio livro, na Atenas actual, por um escritor-matemático (que assina o guião),…
Como todas as ficções de José Saramago, ‘Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas’ nasceu de uma ideia solta. A 15 de Agosto de 2009, o escritor anota no diário a referência de André Malraux, no romance ‘A Esperança’, a uma bomba boicotada por um português na guerra civil de Espanha. Dias depois, corrige-se. Malraux referira, sim, o…
Durante 36 anos e até 1915, sentado numa mesa do café Gluck, o seu quartel-general, o alfarrabista Jakob Mendel oferecia a quem o visitasse acesso a um assombroso catálogo de memória. Com a mesma entrega hipnótica com que, em pequeno, lera o Talmude, Mendel, pobre judeu ortodoxo galiciano, conhecia de cor todas as obras alguma…
De cima do muro, Humpty Dumpty garante a Alice que, em cada ano, existem 364 dias em que podemos receber presentes de desaniversário. O argumento é razoável: se existe o que existe, então terá de existir também o que não existe, caso contrário o que existe não existiria. Se existe um dia de aniversário, existem…
Margaret Atwood partiu do ponto de vista das mulheres para a expressão da fantasia. Só depois adoptou a ficção científica.
Martin Provost resgata a escritora Violette Leduc do esquecimento com um filme biográfico e literário, que cumpre os desígnios de Simone de Beauvoir e Jean Genet.
“Numa mulher, a fealdade é um pecado mortal”. A frase abre o filme Violette, agora nas salas portuguesas, que o realizador Martin Provost dedicou, em 2013, a um dos malditos da literatura francesa: a primeira mulher a escrever abertamente, por exemplo, sobre o aborto ou o incesto.
Ainda antes de saber ler, Sophia de Mello Breyner Andresen conheceu a poesia, através da Nau Catrineta que a criada Laura a ensinou a dizer de cor. “Eu era de facto tão nova, que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das…
A poesia nasceu de um espanto, disse Aristóteles. Com base na ilusão, surge um objecto que figura uma interpretação da vida e da reacção do poeta perante os estímulos e a provocação. Medo, defesa e elaboração estão na raiz poética desde os tempos primitivos, negociando com o amor e a morte do corpo.
A poesia inédita de Herberto Helder surge de novo em edição limitada. A restrição imposta pelo poeta resulta afinal num marketing infalível.
O dia é o 11 de Fevereiro de 1910, e, sob uma tempestade de neve, um lavrador foi atropelado por um boi. Sylvie dá à luz um bebé, asfixiado pelo cordão umbilical. Ou, então… O dia é o mesmo, a tempestade é a mesma, o acidente com o lavrador e o boi acontece na mesma,…
Como se tornar invisível na paisagem ao ponto de assaltar um banco com a cara descoberta e ninguém nos vir a reconhecer depois. Como dissolver-se na terra, sem deixar rastos da própria morte. Até quando duram dentro de nós as pessoas que deixamos de ver. Quais os verdadeiros laços entre pais e filhos. Os romances…