O crítico Harold Bloom chamou-lhe “ironia humanista”, qualidade hoje injustiçada, mas que fez do alemão Thomas Mann (1875-1955, Nobel da Literatura 1929) “o grande escritor derradeiro a emergir de Goethe”. Mann não é um autor actual. Nem na inteligência soberba, nem na minúcia das descrições, nem na profundidade especulativa, nem na lentidão escorrida da acção,…
A nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie prova que é a nova estrela da literatura africana com Americanah, um romance sobre raça, emigração, amor e… penteados.
“Era um homem pequeno e muito magrinho, económico e trabalhador que, lá em Yapatera, [povoação de negros e mulatos] onde nasceu, e em Chulucanas, onde fez a primária, nunca calçou sapatos.” Aos 55 anos, o cholo (crioulo) Felícito Yanaqué, dono de uma empresa de transportes, habitante da pequena cidade de Piura, no noroeste do Peru,…
Em Abril de 1990, o MS Scandinavian Star, ferryboat que ligava Oslo a Frederikshavn, pegou fogo. Entre as 159 vítimas mortais, contavam-se os pais, o irmão mais novo e uma sobrinha de Per Petterson (n. 1952). Talvez a voz que cai e ecoa no vazio e perpassa as páginas deste autor norueguês tenha nascido daquela…
Uma obra demencial de Knausgard, várias estreias portuguesas e os regressos de Valter Hugo Mãe, José Rodrigues dos Santos ou Alice Vieira são alguns dos destaques da nova temporada de lançamentos literários.
Uma casa não garante a felicidade, nem melhora o carácter de quem a habita. “A arquitectura, mesmo no seu melhor, constituirá sempre um pequeno e imperfeito protesto (caro, propenso à destruição e moralmente não fiável) contra o estado de coisas”. E, no entanto, apesar de limitado, o poder transformador dos edifícios existe e torna-os importante…
Desde a semana passada nas livrarias portuguesas Inferno, de Dan Brown, é o acontecimento da temporada no negócio da venda de livros. De novo o escritor ressuscita o professor Robert Langdon e atira-o a Florença, com reminiscências de Dante à mistura.
Ler o novo livro de poemas de Herberto Helder rasga, dói, ilumina, é um intenso choque de beleza, originalidade e lucidez. Por isso, Servidões, composto por 10 páginas de prosa autobiográfica e 73 poemas inéditos, deve ser acolhido pelo leitor como uma dádiva rara.
“Cada respiração, filho, é uma sorte”. Para o capitão de polícia Thomas Coughlin, o alicerce da vida de cada homem é a sorte, boa ou má, que lhe calha. No que toca ao seu filho, Joe, coube-lhe viver nos tempos da Lei Seca, passar-se para o lado do crime e ficar lá preso como se…
Entre Agosto de 1967 e Dezembro de 1973, ou seja, entre os 47 e os 53 anos (quatro antes de morrer), Clarice Lispector publica uma crónica por semana no Jornal do Brasil. «Para mim escrever é procurar», esclarece. Neste caso, a escrita é uma busca quotidiana de impressões e sensações, retratos presentes ou passados, do…
Rubem Fonseca (n. 1925), um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos e com certeza o melhor contista (a par de Dalton Trevisan), celebra 50 anos de carreira (estreou-se com o livro de contos Os Prisioneiros). Nada melhor do que entrar na sua obra ou revisitá-la, lendo o conto Feliz Ano Novo (de 1975, disponível online) e…
Fernando Pessoa confessou ter chorado ao lê-lo em criança e chamou-lhe «imperador da língua portuguesa». José Saramago defendeu que «a língua portuguesa nunca foi mais bela que quando a escreveu esse jesuíta». Alexandre Herculano aconselhava os jovens escritores do romantismo incipiente a «tomar caldinhos de Vieira». No caso do Padre António Vieira (1608-1697) e da…
Na ficção-prólogo de Ciclos de Tempo: Uma Visão Nova e Extraordinária do Universo, Priscilla, professora de Astrofísica, tenta explicar ao sobrinho, Tom, uma série de questões, do funcionamento de um velho moinho de água à termodinâmica e ao Big Bang. Pelo meio, o miúdo exclama: «Estás mesmo à espera que eu acredite nisso?» Talvez lhe…
Em 2012, Michel Onfray (n. 1959) teve destaque em todos os meios de comunicação e círculos de discussão intelectual franceses e tornou-se um filósofo bestseller. Afrontara um dos pilares da cultura ocidental e, por isso, aclamaram-no como destruidor de dogmas ou criticaram-no e vilipendiaram-no a ponto de o compararem com Hitler.
Após o senhor Quita, cabeleireiro reputado, também poeta e membro da Arcádia Lusitana, lhe arranjar o cabelo, «abîmé pela viagem», Giacomo Casanova (1725-1798) visita o centro da cidade acompanhado pelo comerciante Jácome Ratton, seu anfitrião nesta estadia em Lisboa, dois anos após o Terramoto de 1755.
Imagine que Lady Di não morreu em 1997. Após encenar um desaparecimento no mar, sujeitou-se a uma cirurgia plástica e passou a ser Lydia, uma anónima que vive numa cidadezinha dos EUA chamada Kensington.
Dalton Trevisan tem 87 anos e, desde a estreia, em 1945, com Sonata ao Luar, tem pavor de aparecer em público. Alcunhado de Vampiro de Curitiba (cidade natal e cenário de todos os livros), D. Trevis, quase nunca fotografado (só às escondidas), rejeita a fama e cumpre inflexível reclusão.
Lutar por uma causa em que não se acredita e por um país ao qual não se é leal. Na Primeira Guerra, 1,4 milhões de soldados checos lutaram pelo Império Austro-Húngaro, desmembrado no final. Cerca de 150 mil morreram. Pode dizer-se que os motores dos seus destinos foram o absurdo e tragédia. E é também…
Aos 46 anos, com fama, fortuna e lugar entre os clássicos da literatura infanto-juvenil garantidos pela série Harry Potter (cujo sétimo e derradeiro volume, Harry Potter e os Talismãs da Morte, data de 2007), J.K. Rowling decidiu arriscar um romance para adultos.