Não devemos abrir a porta a estranhos. Se nos deixarmos comover por um par de estudantes a tentarem ganhar a vida no novo e fantástico mercado livre da luz elétrica, podemos acabar sem luz em casa durante um período longo.
O frenesim provocado pela singela ideia, apresentada pelo Bloco de Esquerda, de alterar a palavra ‘cidadão’ para ‘cidadania’, é um interessantíssimo sintoma da “psicanálise mítica” do português, que Eduardo Lourenço tão argutamente analisou em O Labirinto da Saudade.
Passámos das teorias do determinismo hereditário lançadas por Lombroso no fim do século XIX, que originaram as mais tenebrosas discriminações, para o seu reverso, igualmente mecanicista e indiferente à singularidade das pessoas concretas.
No Brasil sinto-me em casa. Essa sensação de intimidade aconteceu desde a primeira vez que aterrei no país (no Rio de Janeiro, em 1999). Foi uma atração de cheiro, de pele, de vida.
A única ideia animadora a extrair do recente julgamento político em Angola é a de que um livro pode inquietar, transformar mentalidades e ser um instrumento de mudança.
A campanha de sensibilização da Plataforma de Apoio aos Refugiados é extraordinariamente eficaz, porque aposta no fundamental princípio da empatia.
Ao fim de uns dias na província, jornais, telejornais e redes sociais tornam-se matéria de ficção científica, filmes de vidas passadas noutro planeta – o planeta do ego maravilhado consigo próprio e com a sua imbatível modernidade.
Entre as frases da língua portuguesa que resistem ao tempo e caminham entre nós com uma graça queirosiana sempre renovada, encontra-se esta: «Isso é a lei!». Significa que a lei é uma dama severa e púdica, mas que pode ser amaciada, tornando-se acessível e complacente.
Nos subterrâneos da complicadíssima política, germina uma polémica tempestuosa em torno da literatura de expressão portuguesa.
Um dia as mulheres serão consideradas como seres autónomos, livres e soberanos.
Os valores éticos andam numa salgalhada. Não é que dantes fossem melhores, pelo contrário: dantes, havia só dois ou três valores, e agora há dezenas deles.
O jorro da inspiração pode brotar do repuxo humilde de uma linha de jornal. Já assim sucedeu a Tolstoi, que viu nascer Anna Karenina na notícia do ferroviário suicídio de outra qualquer desgraçada.
O paternalismo está a roer todos os valores; é um vírus que ataca regularmente a melhor ideia que a humanidade teve, aquela que dá pelo nome de Declaração Universal dos Direitos do Homem.
No Irão enforcam-se pessoas em espetáculo público por serem homossexuais. Apedrejam-se mulheres até à morte por suposto adultério; as mulheres violadas são, no mínimo, chicoteadas por se terem deixado violar.
Encontro cada vez mais especialistas na bajulação. Pessoas de extraordinário faro, que se colam como luvas às mãos dos vencedores.
Pouca gente tem coragem para ser feliz; há sempre muito mais interessados em morrer por uma qualquer causa do que em viver por ela.
Não podemos escolher de quem nascemos, e há seres ditos humanos que levam a vida inteirinha a vingar-se dos progenitores, sem serem sequer capazes de raciocinar que a maior vingança é a felicidade.