Duas figuras referenciais do jornalismo português estiveram na última semana em foco: Maria Antónia Palla, por causa do livro Viver pela Liberdade, que assina em co-autoria com Patrícia Reis, uma biografia-reportagem em que a história dos 81 anos de vida desta combatente se cruza com as mudanças no país e no mundo; Joaquim Letria, por…
O Supremo Tribunal Administrativo decidiu reduzir a indemnização atribuída pelo tribunal de primeira instância a uma mulher que ficou com graves problemas de saúde após uma intervenção cirúrgica rotineira realizada na Maternidade Alfredo da Costa.
Com o olhar lançado para o tecto da carruagem, a mulher mexia os lábios, como se falasse com alguém lá no alto, muito acima do túnel do Metropolitano. Nisto voltou à Terra, encontrou o meu olhar e perguntou-me: “A menina percebe alguma coisa de Finanças?”.
Há dias sonhei que a voz de Deus me dizia, num tom impaciente: “Ponho-te a Agustina boa e a escrever por muitos anos, mas tens de me prometer que nunca mais escreves nenhum livro”. Respondi-lhe de imediato que sim, e ainda acrescentei que o mundo beneficiaria a dobrar.
As ruas de Penafiel transformam-se, por estes dias, em páginas de livros: caixotes com contos pelos passeios, mensagens gigantes penduradas nas varandas, montras decoradas com o universo de um escritor, obras de arte alusivas a esse universo espalhadas pelo espaço público, personagens encenando os seus dramas e comédias no meio das praças, através do corpo…
Os fumos de polémica em torno da Lei da Cópia Privada, agora entregue pela Secretaria de Estado da Cultura ao Parlamento, resumem-se ao genérico “Não pagamos!” – urro de egoísmo que, nesta sociedade ‘em rede’ de malhas trôpegas e costas largas, passa por acto de cidadania.
O Brasil não é um país alegre, ou não precisaria do cartaz do Carnaval. Mas é um país feliz – extraordinariamente unido e combativo.
Em menos de dois anos, morreram em Portugal oito crianças às mãos dos familiares, brutalmente torturadas.
A festa é um intervalo na tristeza. Por isso mesmo, acentua a dimensão não-festiva da existência. É também um movimento consciente de resignação e hipocrisia: um corte na vida dita ‘normal’, um momento em que a seriedade e a verdade são proibidas. Inimigos sorriem uns aos outros e beijam-se; as conversas querem-se leves e borbulhantes…
O português é pródigo em eufemismos. Curiosamente, estas expressões de aparência caridosa não têm como móbil o bem maior nem o mal menor: apenas a insinuação insidiosa, a suspeita levianamente desenhada e o ataque libidinosamente enviesado, artes em que este mimoso jardim europeu se vem especializando desde há muitos séculos.
Sempre que mergulho nalgum capítulo da História contemporânea da maldade humana, do defunto (e esperemos que sem retorno) horror nazi ao actual horror do fundamentalismo islâmico, penso que, se tivesse vivido sob o jugo de Hitler ou se vivesse hoje num desses países em que nascer mulher anuncia condenação quase certa à tortura, havia de…
A telenovela em torno da escolha do comissário europeu de Portugal foi mais um episódio pouco edificante, desses que levam o comum dos mortais a desprezar a política – e, o que é pior, a perder qualquer interesse por ela.
Dizem os doutos, à boca pequena – uma das características distintivas dos doutos é a boquinha semicerrada pela extrema responsabilidade da sapiência – ,que sem a Guiné Equatorial acabaria por desaparecer Portugal. Temos então justificada a necessidade de fazer entrar esta Guiné para o círculo da Língua Portuguesa, sob pena de quebrarmos o perfeito circuito…
A que se referem os muitos intelectuais-e-simpatizantes (estamos na época áurea da simpatia) quando falam de ‘conteúdos’?
A austeridade, quando nasce, não é igual para todos: há quem possa esquecer-se de declarar milhões ao Fisco, e quem veja as suas contas penhoradas por dívidas de mil e poucos euros.
Rios de tinta correram na imprensa sobre os rios de lágrimas dos rapazes da selecção brasileira no jogo com o Chile. Vaticinou-se tragédia iminente, como se as lágrimas fossem sintoma de encolhimento dos músculos ou prova de falta de masculinidade, seja lá isso o que for.
Da igreja espera-se consolação. Pelo menos isso. Nesta época em que a Máfia se diluiu e deixou de derramar sangue para se tornar o próprio sistema circulatório dos vários poderes, a religião deveria servir os perseguidos e abandonados, os desesperados e inconsoláveis.
O fenómeno do bullying já existia nas escolas portuguesas antes do 25 de Abril, embora a palavra ainda não tivesse sido importada dos Estados Unidos e a ninguém ocorresse que, entre os direitos das crianças, se pudesse incluir o de não ser torturada.
Os campeonatos internacionais de futebol demonstram-nos a irracionalidade do patriotismo. Imaginemos, por exemplo, que Portugal está a jogar contra a Alemanha e, desde os primeiros minutos, a perder. Conseguem seguir esta linha imaginária? Ouço uma multidão gritando que sim. Portugal sempre foi óptimo a imaginar. Imaginem também que passa diante do ecrã de televisão uma…