Ter opiniões definitivas, apaixonadas, militantes, sobre compromissos inevitavelmente provisórios, é o caminho mais curto para perder o equilíbrio, a lucidez e o sentido das proporções. Assim, o acordo registado esta semana entre a Grécia e as instituições europeias não é comparável a um desafio de futebol entre rivais irredutíveis, cujo desfecho imaginário só poderia ser…
Enquanto na Ucrânia se confirmava o fracasso, aliás totalmente previsível, do segundo acordo de Minsk, apesar das noites em branco de Merkel e Hollande e do seu diálogo (de surdos, conforme se antevia) com o imperturbável Putin, outro confronto menos bélico mas igualmente perigoso mantinha-se em aberto entre o Governo grego e a Europa alemã.…
Vivemos um momento decisivo na Europa e essa sensação é agudizada pela convergência dramática das crises da Grécia e da Ucrânia, nas fronteiras Sul e Leste do continente. Aconteça o que acontecer, já não será possível voltar atrás. Mas o que temos por diante é um concentrado de incógnitas e perigos como porventura nunca enfrentámos…
É um conto de crianças mas não aquele em que terá pensado Passos Coelho. Com efeito, talvez pudesse ser edificante para os mais novos dar-lhes a conhecer, com sentido pedagógico e algum humor, as peripécias das negociações entre o Governo grego e as instâncias europeias.
‘Bom aluno’ mas mau perdedor, Passos Coelho chamou ao programa do Syriza “um conto de crianças”, reagindo assim ao grande abanão provocado na Europa pela expressiva vitória do partido da esquerda radical grega nas eleições de domingo, dia 22. Entre os chefes de governo europeus, apenas o primeiro-ministro do Reino Unido rivalizou com Passos Coelho…
O 11 de Janeiro foi a resposta ao 11 de Setembro francês – aos massacres na redacção do Charlie Hebdo e num supermercado judaico em Paris. Foi um «Maio de 68 da sensibilidade» como lhe chamou Jacques Julliard, referindo-se às impressionantes manifestações populares: «Desconhecidos falam-se, dão a mão uns aos outros, marcam encontros, juntam-se espontaneamente».
Nada há de mais insuportável para o fanatismo religioso e o totalitarismo político do que o humor. A prova consumada disso, se porventura fosse necessária, é o atentado de anteontem contra o jornal satírico Charlie Hebdo, em que foram assassinados alguns dos mais notáveis humoristas e cartoonistas franceses, como Wolinski, Charb e Cabu, sem contar…
Nada há de mais insuportável para o fanatismo religioso e o totalitarismo político do que o humor. A prova consumada disso, se porventura fosse necessária, é o atentado de anteontem contra o jornal satírico Charlie Hebdo, em que foram assassinados alguns dos mais notáveis humoristas e cartoonistas franceses, como Wolinski, Charb e Cabu, sem contar…
Se há uma figura de dimensão universal que pode lançar uma esperança de reinvenção do mundo em 2015, ela é, sem dúvida, o Papa Francisco. Uma reinvenção que já começou pela Igreja Católica e, desde logo, pelo Vaticano. O exemplo de inconformismo, coragem e vontade de mudança protagonizado pelo antigo cardeal argentino Jorge Bergoglio deveria,…
Um emaranhado de estradas que se entrecruzam e onde nos perdemos sucessivas vezes até chegarmos, enfim, ao nosso destino, algures no Estreito de Câmara de Lobos, a oeste do Funchal. É ali, mas nada parece idêntico ao que era há uma década e meia. A antiga paisagem de vinhas em socalcos tornou-se a réplica de…
“Parece Veneza”. A observação do meu interlocutor afigurava-se completamente excêntrica ali, no litoral de Cochim, Sul da Índia. Eu acabava de ser também confrontado com a inverosímil semelhança, mas não fora capaz de verbalizá-la, temendo talvez o ridículo. Pelo contrário, Mário Soares, sentado ao meu lado num barco fluvial, atrevera-se espontaneamente a associar aquela paisagem…
António Costa assumiu com indiscutível sucesso, reconhecido quase unanimemente pela imprensa, o papel de exorcista do fantasma socrático que pairava sobre o último Congresso do PS. Ao contrário do que muitos previam ou davam mesmo como inevitável, o novo secretário-geral conseguiu refrear os estados de alma de uma grande parte dos congressistas depois da detenção…
Na crónica anterior, escrevi que se assistia à tentativa de substituição do princípio da presunção de inocência, pilar essencial do Estado de Direito, pela presunção de imunidade – e impunidade. Isso vinha a propósito das detenções motivadas pela atribuição de vistos gold e do seu cruzamento com outro caso recente, o do BES, mas a…
A presunção de inocência é um dos pilares do Estado de Direito e significa que nenhum cidadão pode ser culpado de um crime antes de ser julgado e provada efectivamente a sua culpa. Mas assistimos hoje, e não apenas em Portugal, à tentativa de substituição e subversão desse princípio por um outro: o da presunção…
A 9 de Novembro passou um quarto de século sobre a queda do muro de Berlim, esse fulminante momento de esperança democrática que marcou a Europa e o Ocidente desde a catástrofe da II Grande Guerra.
E lá voltou o fantasma de José Sócrates a ensombrar – ou a assombrar, como prefere Paulo Portas – o PS e a política portuguesa. Pelo menos, foi ele que pairou, na semana passada, sobre o debate (?) do Orçamento do Estado, a partir do momento em que Vieira da Silva disse estar orgulhoso de…
“Aquilo era uma caixa negra. Desde Janeiro deste ano até terem saído fizeram uma fraude. Criaram um prejuízo brutal no BES para fingir que era a Eurofin que pagava dinheiro de volta”. A frase é de José Maria Ricciardi e foi proferida numa reunião do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES), convocada de emergência…
Esta foi uma semana de passagem de testemunho na Comissão Europeia: Durão Barroso despediu-se e Jean-Claude Juncker obteve uma votação confortável no Parlamento Europeu para a sua equipa. Apesar das expectativas num novo rumo, com menos austeridade e mais crescimento para a Europa – o que Juncker procurou enfatizar no seu discurso perante os eurodeputados…
Li há pouco a tradução portuguesa (infelizmente tardia, apressada e com revisão muito descuidada) de Os Sonâmbulos, do historiador australiano Christopher Clark, talvez a obra mais completa e esclarecedora sobre as origens da I Grande Guerra, mas que tem passado quase despercebida entre nós.